Impostometro

sábado, 31 de agosto de 2013

Tribuna do Ceará

Funcionários do jornal Tribuna do Ceará há 11 anos esperam pagamento de suas indenizações

Exemplar da Tribuna do Ceará que  circulou em fevereiro de 2001
Em um dos mais longos processos trabalhistas do Brasil,  nº 0147700-05.2001.5. 07.008 (com data de autuação de 03/07/2001),  tramitando há 11 anos na 8ª Vara  do Trabalho de Fortaleza, do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região, em Fortaleza,  mais  de 60 trabalhadores (jornalistas, gráficos, jornaleiros e pessoal da administração) do jornal Tribuna do Ceará aguardam sua conclusão e o pagamento de suas indenizações. Atualmente o processo está na fase de execução e no período de uma década quatro funcionários morreram de doenças provocadas pela depressão em que caíram após o jornal paralisar suas atividades.
Os funcionários da antiga e até este ano considerada extinta Tribuna do Ceará , que circulou em Fortaleza  e  no interior do Estado entre os anos de 1957 e 2001,disseram a reportagem do Blog do Ramon Paixão que estão perplexos e indignados com a entrada no ar de um portal na internet de propriedade de um grupo de comunicação da capital cearense, no último dia 11 de março, com a marca do jornal fundado pelo empresário, banqueiro e ex-senador José  Afonso Sancho, falecido em 2005.
A Tribuna do Ceará foi o primeiro jornal cearense a adotar ,  em 1971 o sistema pioneiro de composição a frio e impressão offset. Era considerado o jornal do empresariado cearense," o jornal das classes produtoras" e a publicação que dava maior cobertura às notícias do interior do Estado, com uma rede de correspondentes em todos municípios.
Uma comissão de funcionários da Tribuna do Ceará, composta por jornalistas e gráficos, informou que o titulo do jornal voltou ao mercado sem que os herdeiros de Sancho  prestassem  qualquer informação sobre sua venda. Quando circularam rumores sobre a negociação um membro da família Sancho disse que não passava de boatos.
 O processo nº 1477/20001 tem como exequente o Ministério Publico do Trabalho contra a Editora Tribuna do Ceará Ltda. Nele os funcionários  cobram  a falta de pagamento de 11 meses de salários atrasados, férias atrasadas, três 13º salários e horas extras referentes ao ano de 1998, em um acordo

fechado na Procuradoria Regional do Trabalho em 2001 e que foi quebrado dois meses depois pela direção do jornal. Além disso a Caixa Econômica Federal  e o INSS até hoje têm ações na Justiça cobrando contribuições do INSS e FGTS recolhidas e não repassadas entre o ano de 1998 e maio de 2001 quando o jornal parou de circular. E ainda tem as indenizações, que não foram pagas pelas empresa após seu fechamento em 2001. Antes disso os gráficos já haviam ingressado na Justiça com outro processo em que cobram o pagamento da URP de 1993,




A Tribuna do Ceará entrou em crise após a intervenção no Banfort feita pelo Banco Central em 1996. A Liquidação Extrajudicial ocorreu em 1997. Com seus bens bloqueados Sancho não teve como vender nenhum imóvel para saldar as dívidas da empresa com funcionários e credores Na época além, do banco que tinha matriz na capital cearense e filiais em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Goiânia  faziam parte do grupo empresarial de José Afonso Sancho, o jornal, a Gráfica Tribuna do Ceará, a Banfort Segurança de Valores, Banfort Turismo, Agropecuária Sancho, Haras Sancho, fazendas no  Ceará, Maranhão e Goiás, além de dezenas de imóveis em Fortaleza, Rio de Janeiro, Goiânia, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo.
Alguns dos prédios onde funcionavam suas agências, em Fortaleza,  estão ocupados   por instituições financeiras. A começar pela matriz na Rua Guilherme Rocha, no Centro de Fortaleza, O Sindicato dos Bancários tem uma ação de penhora do imóvel  cobrando indenizações dos funcionários do banco de Sancho.



Os funcionários da Tribuna do Ceará lembram que no final de 1999 a situação estava tão critica que no Natal e no ano Ano Novo foram pagos ao pessoal da redação, composição, revisão e impressão vales no valor de R$ 50,00 para quem tinha salários abaixo da faixa de R$ 1.000 e R$ 100,00 para quem ganhava acima desse patamar.  Diante do fato os funcionários entraram em greve e o jornal deixou de circular durante um mês.  Após um acordo na Procuradoria de Republica, na primeira quinzena de janeiro de 2001, o empresário José Afonso Sancho  comprometeu-se a manter a folha em dia  e pagar os salários atrasados de 1998 em 11 parcelas. No dia 23 de fevereiro, pagaria as dívidas relativas ao ano 2000. Em 31 de março, quitaria o débito de 2001.

A Gazeta Mercantil de São Paulo imprimia uma edição local na Gráfica da família Sancho e os exemplares eram distribuídos na capital cearense. O acordo foi cumprido até o início da greve. No dia 6 de janeiro, a impressão foi transferida para Belém do Pará.  A direção da Gazeta Mercantil propôs   por em dia os salários atrasados dos funcionários da Tribuna do Ceará, mas o empresário José Afonso Sancho recusou imediatamente a proposta.

 No segunda quinzena de maio de 2001 os salários novamente atrasaram. Houve uma reunião  entre uma comissão de funcionários da Tribuna, a direção da empresa e os dirigentes Juarez Alves representante do Sindicato dos Gráficos  e Paulo Mamede do Sindicato do Jornalistas.  Como não houve garantia de cumprimento do que havia sido acertado na Procuradoria  a Tribuna do Ceará  circulou pela última vez em uma segunda-feira: 21 de maio de 2001.



Os funcionários ressaltam que durante esse período de negociações, dois dirigentes,  da Tribuna o diretor Tamer Sancho e o superintendente Francisco Alves várias vezes tentaram convencer o dono da empresa José Afonso Sancho a aceitar  parcerias para evitar o fechamento da empresa. Ele rejeitou a maioria . A primeira foia  criação de uma cooperativa (que ele de imediato descartou). Depois pelo menos três grandes grupos empresariais propuseram o arrendamento do  jornal, mas o contrato  não foi fechado, porque  Sancho não aceitou afastar-se  do comando da empresa.
Com a saída de circulação da Tribuna e após  ações judiciais solicitando a penhora da impressora do jornal Sancho decidiu que a sede da empresa mudaria de endereço.
 A  sede própria  estava situada na Avenida Desembargador Moreira 2.900- Bairro Aldeota), onde o jornal funcionou de 1983  até 2003,quanto foi mudada para um prédio situado na rua Padre Antonino, bairro da Piedade. Posteriormente em nova mudança ,os escritório da Tribuna com seus arquivos
, máquinas e a impressora foram instalados  em um novo prédio na Avenida Dom Manoel  nº 1.394 – bairro José Bonifácio. onde funcionou até a morte do seu  diretor presidente e fundador José Afonso  Sancho em 2005.
Após o falecimento de Sancho seus herdeiros venderam a impressora para um jornal do Cariri em 2006. Com o fechamento  dos escritórios e a morte de Sancho  o  imóvel da Desembargador Moreira ficou fechado durante pelo menos cinco anos, quando  passou a  ser ocupado por uma empresa que atua no ramo de decoração. Os funcionários não sabem se o prédio foi vendido, pois citam o fato do imóvel ter pelo menos seis ações judiciais solicitando sua penhora: uma delas é do Sindicatos dos Gráficos do Ceará,  e a outra  do Banco Pontual.  Um posto bancário 24 horas ter sido instalado na entrada do prédio.


A paralisação das atividades da Tribuna do Ceará e o  não pagamento das indenizações trabalhistas trouxe como principal consequência a morte de quatro  funcionários que entraram em depressão e acabaram falecendo por causa de doenças cardiovasculares provocadas por depressão: O editor chefe Morais Neto,  o editor de Interior Dutra de Oliveira ,  o chefe de  impressão Geraldo, o diagramador Flávio Saraiva ( Gago) e o cartunista e designer Manoel Alves, que faleceu nos corredores da Assembléia Legislativa do Ceará, quando tentava obter uma ajuda  para comprar remédios, já que era hipertenso. Ele foi conduzido às pressas para um hospital mas faleceu  a caminho, vitima de uma parada cardíaca.  Outra vitima foi um filho da funcionária Gislaine, um bebê que morreu de um câncer no cérebro, e que teve seus estado de saúde agravado pelo fato de a mãe não poder mais  continuar  pagando o tratamento médico da criança e adquirir os medicamentos, muito caros. Gislaine que  era arquivista, não encontrou emprego em outro jornal e  foi trabalhar como trocadora de ônibus, para sobreviver.
Há mais de uma década os funcionários da Tribuna do Ceará esperam que seus direitos enfim sejam reconhecidos, pois atualmente a maioria deles continua enfrentando sérios  problemas de saúde e financeiros. 
Faziam parte do  quadro de funcionários da Tribuna do Ceará, quando a publicação parou de circular os seguintes profissionais: Francisco Alves - superintendente;  Morais Neto - editor chefe(já falecido); Ramon Paixão - editor de Nacional e Internacional; Lúcia Estrela Damasceno - editora de Economia; Ossian Lima - editor de Politica; Amélia Suzy Vasques - editora de Cidade; Aurora Miranda Leão - editora do 2º Caderno; Lúcia Amaral- editora de Educação; Fernando Barbosa -editor de Policia
Colunistas: Antonio Viana, José Flávio Teixeira, Carlos Alberto Farias. Luiz Carlos Martins e Newton Pedrosa
Repórteres; José Arilo, Lúcia Stédile, Silvia Carla, Pedro Gomes de Matos, Luiz Guedes Neto, Roberta Fonteles. Jáder Moraes, Edson Garcia, Lúcia Amaral, Socorro Pinto, Barros Alves 

Diagramadores: Flávio Saraiva(já falecido), Raimundo Filho, César Falcão

Repórteres fotográficos: Luciano Bernardo, Jota Sobrinho, Heloisa Menescal, Avelino Neres e Carlos Batista.
Cartunista: Manuel Alves (já falecido)
Gráficos: Francisco Xavier, Aluísio Cavalcante(gerente industrial), Valdir Santos(impressor), Geraldo( impressor - já falecido) José Luiz, Ivan Leandro,Gutemberg, Raimundo Teógenes, Valmir, Beto, Crisley, Kelton.


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Publicado em
30/03/13
02/05/13 14:37

Fonte: Blog do jornalista, radialista, cronista esportivo e carnavalesco Ramon Paixão
funcionário da Tribuna do Ceará(editor de Nacional e Internacional) de 1985 até seu fechamento em 2001.
e-mails para contatos:  ramonpaixao@gmail.com   -  ramonpaixao@folha.com.br  

Chacina do Vigário

Chacina do Vigário: “Sangue derramado deve servir de lição na busca por justiça”



O coordenador da Pastoral das Favelas no Rio, Padre Luiz Antonio Pereira Lopes, disse que pouco foi feito para melhorar a qualidade de vida dos moradores da comunidade

Vivian Virissimo
do Rio de Janeiro
O dia 29 de agosto de 1993 é uma data que o Brasil jamais esquecerá. 13 homens, seis mulheres e dois adolescentes, que moravam na Favela do Vigário, na zona norte do Rio de Janeiro, foram brutalmente assassinados, com tiros na cabeça e nas costas, por um grupo de extermínio chamado de cavalos corredores, formado por 36 policiais militares. Nenhuma das vítimas tinha antecedentes criminais e nem envolvimento com o tráfico. 
Hoje, passados 20 anos do episódio que ficou conhecido como a Chacina do Vigário, apenas sete policiais foram condenados e somente um continua preso, Sirlei Alves Teixeira. Isto porque Sirlei teria cometido outros crimes enquanto estava foragido, e por isso permanece no presídio. 
A chacina escancarou ao país o lado obscuro da PM. A ação criminosa foi comandada por policiais que quiseram vingar a morte de quatro colegas da corporação, um dia antes. Os PMs mortos eram comandados pelo sargento Ailton Benedito Ferreira, do 9º Batalhão, que foi uma das vítimas. 

Segundo o desembargador de Justiça José Muiños Piñero, que foi promotor do caso, Ailton era comandante de um grupo de extermínio que extorquia traficantes do Vigário. Assassinado, o grupo de 36 PMs encapuzados quiseram vingar a sua morte. 
As vítimas do bando encapuzado foram o estudante Fábio Pinheiro Lau, 17 anos; o metalúrgico Hélio de Souza Santos, 38 anos; Joacir Medeiros, 69 anos; o enfermeiro Guaracy Rodrigues, 33 anos; o serralheiro José dos Santos,47; Paulo Roberto Ferreira, 44, motorista; o ferroviário Adalberto de Souza, 40; o metalúrgico Cláudio Feliciano, 28; Paulo César Soares,35; o gráfico Cléber Alves, 23; Clodoaldo Pereira, 21; Amarildo Baiense,31; o mecânico Edmilson Costa,23 ; o vigia Gilberto Cardoso dos Santos, 61; e mais o casal Luciano e Lucinéia, 24 e 23. 
Depois, o grupo executou Dona Jane, 58, sua nora Rúbia, 18, o marido e a filha Lúcia, de 33 anos. Também morreram Luciene, prestes a completar 16 anos, e Lucinete, 27. As crianças, com idades entre 9 e 5 anos, pularam para a rua e conseguiram escapar. Uma delas saltou com um bebê de seis meses no colo. 
Em entrevista ao Brasil de Fato, o coordenador da Pastoral das Favelas no Rio, Padre Luiz Antonio Pereira Lopes, disse que pouco foi feito para melhorar a qualidade de vida dos moradores da comunidade. Ele acrescenta que ainda hoje o bairro continua abandonado pelo poder público. 
“Nós nos lembramos da Chacina de Vigário porque não há punição e, segundo, porque nós não queremos mais que isso se repita, pois fez sofrer a sociedade, o bairro e as famílias. Ao lembrar o fato, nós podemos também aproveitar e tomar consciência do papel que temos na busca por justiça”, ressalta Lopes.
Brasil de Fato – A mobilização em torno do desaparecimento de Amarildo sinaliza que algo mudou nesses 20 anos? 
Padre Luiz Antônio – Não mudou nada porque Amarildo é mais um. Há 20 anos, quando aconteceram as duas chacinas, da Candelária e de Vigário, a gente pensava que chacinas não iam mais acontecer. Mas outras vieram: de Acari, Chatuba, Mesquita e outras. Então não há uma mudança. Há uma necessidade enorme de estarmos recordando, não porque queremos levantar tristeza para os parentes, mas para defender que esse sangue derramado sirva na busca por justiça e que não aconteçam mais situações como essa. 
O Rio já foi cenário de muitas chacinas, inclusive, mais recentemente ocorreu a da Maré. O que o senhor propõe para que chacinas nunca mais aconteçam? 
Primeiro considero que nossa polícia tem que ser uma polícia desmilitarizada. Hoje tenho 58 anos e na minha infância o policial não andava tão armado como anda hoje. Poucas vezes se via policial armado no meio das pessoas. Hoje é difícil ver policial com revolver pequeno, a maioria usa armas tidas como armas de guerra. E isso é algo que faz as pessoas ficarem temerosas. Não adianta argumentar que hoje traficantes andam muito armados. Por que a polícia não utiliza seus serviços de inteligência? Quando a polícia quer, ela sabe muito bem investigar e prender alguém sem dar um tiro. 
Em segundo lugar, defendo o investimento em tudo aquilo que diz “cidadania”: educação, transporte, moradia, emprego, saúde. Esses investimentos são fundamentais. Moradia digna é algo fundamental. Ninguém gosta de ficar confinado numa casa que tem 35 metros quadrados. E este é o padrão de casa desses projetos populares de moradia. Imagine uma família de cinco pessoas nesse espaço. Não dá absolutamente para nada. Não é digno. 
                          
Padre Luiz Antônio. Foto: Gustavo Kelly   
Mesmo com a grande repercussão, ninguém cumpre pena pelo crime. O senhor avalia que as regras na polícia contribuem para a impunidade? 
Não só as regras da polícia. Percebemos que no sistema judiciário também ocorre isso. Há sempre na nossa sociedade esse corporativismo que acaba gerando impunidade. As leis valem pra uns e para outros não. Os realmente punidos são aqueles que não têm como pagar bom advogado. Em nosso país, rico não vai para a cadeia, nem juiz ou desembargador ou militar. 
As novas gerações e parte da sociedade não lembram ou desconhecem a chacina de Vigário Geral. Por que é preciso sempre relembrar essa tragédia? 
Fatos como esses nos fazem tirar lições proveitosas para o futuro. Nós nos lembramos da Chacina de Vigário porque não há punição e segundo porque nós não queremos mais que isso se repita, pois fez sofrer a sociedade, o bairro e as famílias. Ao lembrar o fato, nós podemos também aproveitar e tomar consciência do papel que temos na busca por justiça. 
Qual é a atual situação do bairro? 
O bairro mudou e para pior. Os bairros que estão na periferia são muito abandonados pelos poderes públicos. O número de escolas é o mesmo de 20 anos atrás. Ao mesmo tempo, o número de indústrias e o comercio diminuíram. Um bairro que era proletário passou a ser um bairro dormitório. Ninguém trabalha aqui em Vigário ou em bairros vizinhos. Não tem um posto médico: existe uma sala que eles chamam de posto médicos e não tem vazão. Diminuiu a qualidade de vida dos moradores.
Foto: Otávio Magalhães      

  Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/25695

EUA têm mais negros na prisão hoje do que escravos no século XIX

EUA têm mais negros na prisão hoje do que escravos no século XIX



Os índices sociais - que incluem emprego, saúde e educação - entre os afrodescendentes norte-americanos são os piores em 25 anos

do Opera Mundi
O presidente estadunidense, Barack Obama, participou nessa quarta-feira (28), em Washington, de evento comemorativo pelo aniversário de 50 anos do emblemático discurso “Eu tenho um Sonho”, de Martin Luther King Jr. - considerado um marco da igualdade de direitos civis aos afro-americanos. Enquanto isso, entre becos e vielas dos EUA, os negros não vão ter muitos motivos para celebrar ou "sonhar com a esperança", como bradou Luther King em 1963.
De acordo com sociólogos e especialistas em estudos das camadas populares na América do Norte, os índices sociais - que incluem emprego, saúde e educação - entre os afrodescendentes norte-americanos são os piores em 25 anos. Por exemplo, um homem negro que não concluiu os estudos tem mais chances de ir para prisão do que conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Uma criança negra tem hoje menos chances de ser criada pelos seus pais que um filho de escravos no século XIX. E o dado mais assombroso: há mais negros na prisão atualmente do que escravos nos EUA em 1850, de acordo com estudo da socióloga da Universidade de Ohio, Michelle Alexander.
“Negar a cidadania aos negros norte-americanos foi a marca da construção dos EUA. Centenas de anos mais tarde, ainda não temos uma democracia igualitária. Os argumentos e racionalizações que foram pregadas em apoio da exclusão racial e da discriminação em suas várias formas mudaram e evoluíram, mas o resultado se manteve praticamente o mesmo da época da escravidão”, argumenta Alexander em seu livro The New Jim Crow.
No dia em que médicos brasileiros chamaram médicos cubanos de “escravos”, a situação real, comprovada por estudos de institutos como o centro de pesquisas sociais da Universidade de Oxford e o African American Reference Sources, mostra que os EUA têm mais características que lembram uma senzala aos afrodescendentes que qualquer outro país do mundo.

Em entrevista a Opera Mundi, a professora da Universidade de Washington e autora do livro “Invisible Men: Mass Incarceration and the Myth of Black Progress”, Becky Pettit,argumenta que os progressos sociais alcançados pelos negros nas últimas décadas são muito pequenos quando comparados à sociedade norte-americana como um todo. É a “estagnação social” que acaba trazendo as comparações com a época da escravidão.

“Quando Obama assumiu a Presidência, alguns jornalistas falaram em “sociedade pós-racial” com a ascensão do primeiro presidente negro. Veja bem, eles falaram na ocasião do sucesso profissional do presidente como exemplo que existem hoje mais afrodescendentes nas universidades e em melhores condições sociais. No entanto, esqueceram de dizer que a maioria esmagadora da população carcerária dos EUA é negra. Quando se realizam pesquisas sobre o aumento do número de jovens negros em melhores condições de vida se esquece que mais que dobrou o número de presos e mortos diariamente. Esses não entram na conta dos centros de pesquisas governamentais, promovendo o “mito do progresso entre nos negros”, argumenta.

Segundo Becky Pettit, não há desde o começo da década de 1990 aumento no índice de negros que conseguem concluir o ensino médio. Além disso, o padrão de vida também despencou. Além do aumento da pobreza, serviços básicos como alimentação, saúde, gasolina (utilidade considerada fundamental para os norte-americanos) e transportes público estão em preços inacessíveis para muitos negros de baixa renda. Mais de 70% dos moradores de rua são afrodescendentes.
Michelle Alexander, por sua vez, critica o sistema judiciário do país e a truculência que envia em massa às prisões os negros. “Em 2013, vimos o fechamento de centenas de escolas de ensino fundamental em bairros majoritariamente negros. Onde essas crianças vão estudar? É um círculo vicioso que promove a pobreza, distribui leis que criminalizam a pobreza e levam as comunidades de cor para prisão”, critica em entrevista ao jornal LA Progresive.

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/25690

Cisternas sob suspeita

Cisternas sob suspeita: TCU suspende pregão de R$ 600 milhões

  • Tribunal detecta risco de ‘grave lesão ao Erário’ em licitação

Família atendida por cisterna
Foto: Divulgação/10-01-2012
Família atendida por cisterna Divulgação/10-01-2012
BRASÍLIA — O Tribunal de Contas da União (TCU) investiga suspeita de irregularidades em licitação para a compra de 187,5 mil cisternas de plástico a um custo de quase R$ 600 milhões — uma das maiores em curso no governo federal. De acordo com a suspeita do TCU, a concorrência pode ter favorecido uma multinacional que acaba de abrir fábrica em Petrolina (PE), cidade do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho.
O pregão para a escolha das empresas que vão fornecer as cisternas em seis estados é conduzido pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), empresa vinculada ao Ministério da Integração Nacional. No mês passado, uma medida cautelar do TCU mandou suspender o pregão e apontou o risco de “grave lesão ao Erário” se as empresas vencedoras fossem contratadas pela Codevasf.
Entre os participantes está o grupo mexicano Rotoplas, cuja razão social em território nacional é Dalka do Brasil (o nome fantasia é Acqualimp). A empresa já é a maior fornecedora do Água para Todos, programa-chave da gestão do ministro Bezerra e que pretende universalizar o acesso à água no semiárido.
Assim que começou a ganhar os principais contratos para fabricar cisternas, a Acqualimp abriu unidade em Petrolina. A medida cautelar do TCU não impediu que a empresa começasse a fornecer as primeiras cisternas ao Ministério da Integração, como parte da licitação posta sob suspeita.
A Codevasf já foi presidida por Clementino de Souza Coelho, que é irmão do ministro e chegou ao posto poucos dias após a posse de Bezerra, em janeiro de 2011. A presidente Dilma Rousseff demitiu Clementino um ano depois, por suspeita de direcionamento de políticas do órgão para a base eleitoral da família.
Um edital para o fornecimento de cisternas de plástico pela mesma Acqualimp, assinado por Clementino, direcionou a maior parte dos equipamentos para a região de Petrolina, apesar de Pernambuco ser apenas o terceiro estado em demanda por cisternas, conforme diagnóstico do próprio governo. O deputado federal Fernando Coelho Filho (PSB-PE), filho do ministro, disputou e perdeu a eleição para prefeito de Petrolina em 2012.
Para se ter uma ideia do tamanho dessa nova licitação, o número de cisternas a serem fornecidas é o triplo da quantidade já instalada pelo ministério desde 2011, ano em que Bezerra chegou ao cargo. Até agora, a Codevasf instalou 62,1 mil equipamentos, a maioria em Pernambuco. Nos três novos lotes, as outras 187,5 mil cisternas devem ser distribuídas por Alagoas, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Ceará e Goiás.
O custo individual do equipamento é de R$ 5,9 mil, o que inclui cisterna de polietileno de 16 mil litros para captar água da chuva; bomba d’água manual; e obras de instalação. O custo dos reservatórios de plástico chega a ser duas vezes o de cisternas de cimento, construídas pelas comunidades locais.
Empresa restringiu concorrência de pregão
A suspensão do pregão de quase R$ 600 milhões foi uma sugestão da Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog), do TCU. Depois de analisar documentos fornecidos por Codevasf e Acqualimp, a Selog concluiu que a empresa vinculada ao Ministério da Integração restringiu a concorrência ao fazer pregão presencial em Brasília, e não um pregão eletrônico.
O ministro responsável pelo processo, Benjamin Zymler, concordou com o entendimento e concedeu a medida cautelar suspendendo o pregão até a análise do mérito pelo TCU.
“Além de não terem sido apresentadas justificativas suficientes para comprovar a inviabilidade da realização do pregão em sua forma eletrônica, a adoção da forma presencial pode ter reduzido a disputa entre os interessados”, diz o ministro no despacho. Em um dos lotes, apenas três empresas se interessaram. Nos outros dois, a empresa que deu o melhor lance acabou desclassificada.
O máximo de economia registrado no pregão, em relação ao preço inicial de R$ 597,8 milhões estabelecido pela Codevasf, foi de 4%, valor considerado baixo pelo ministro do TCU.
“A contratação pode acarretar grave lesão ao Erário”, concluiu Zymler. Ele alertou a Codevasf de que o TCU poderá anular o pregão e deu prazo de 15 dias para o órgão explicar por que adotou o pregão presencial. Já as empresas vencedoras de dois lotes, Acqualimp e Consórcio Fortlev, também terão 15 dias para se manifestarem sobre a acusação de sobrepreço na execução dos serviços.

O consórcio inicialmente vitorioso em dois lotes do pregão foi desclassificado a partir de um recurso apresentado por Acqualimp e Fortlev. Decidiu, então, recorrer ao ministro contra a decisão. A Advocacia Geral da União entendeu que não cabe ao ministro analisar recurso do tipo e decidiu que a contestação nem deveria ser aceita. Bezerra seguiu a AGU e não reconheceu o recurso.

O Ministério da Integração diz ter desclassificado o primeiro consórcio vencedor porque as empresas participantes dele não tinham capacidade financeira ou atuam em áreas incompatíveis. “Em nenhum momento o ministro interferiu na concorrência conduzida pela Codevasf, que ocorreu à luz da legislação”, afirma o ministério.
A instalação da fábrica da Acqualimp em Petrolina também não influenciou qualquer resultado, segundo a assessoria da pasta. “As unidades fabris foram instaladas nos principais centros comerciais, visando principalmente à facilitação da logística de transporte e distribuição das cisternas nos principais estados do semiárido.”
O governo diz que trabalha tanto com cisternas de plástico quanto com de placa. “Somente com uma tecnologia não seria possível alcançar as 750 mil famílias previstas.” A Codevasf sustenta ter adotado o pregão presencial em razão da transparência e das “vantagens econômicas” da modalidade. E aponta economia de R$ 22 milhões na licitação.
A Acqualimp nega irregularidades e diz que as cisternas da licitação sob suspeita serão produzidas pelas fábricas de Penedo (AL) e Montes Claros (MG). “A unidade fabril de Petrolina não está prevista para atender a esses trabalhos em questão”, diz a multinacional. “A empresa já apresentou os esclarecimentos e não há que se falar em sobrepreço. O TCU já expediu documento atestando que as ordens liberadas estão livres para execução e não serão suspensas.”


Fonte: http://oglobo.globo.com/pais

“Médicos cubanos, obrigado pela ajuda e desculpe-nos. Estamos com problema de educação também”.

Em redes sociais, internautas defendem vinda de médicos estrangeiros para o País

Presidente afirmou que há um imenso preconceito contra os profissionais cubanos

Foto foi compartilhada pelos internautas nas redes sociais Reprodução/ Facebook
A chegada dos primeiros 400 médicos estrangeiros para o País foi elogiada pelos internautas nesta semana. Nas redes sociais, muitos internautas apoiaram os programas Mais Médicos e se desculparam  pela revolta de alguns profissionais da saúde que chamaram os médicos de “escravo”.

Em um dos textos mais compartilhados estava o pedido de desculpa pelas manifestações dos médicos nos aeroportos do Brasil. “Médicos cubanos, obrigado pela ajuda e desculpe-nos. Estamos com problema de educação também”.

Outra foto compartilhada pelos internautas estava um médico brasileiro formado em Cuba dando as boas vindas aos profissionais estrangeiros “Sou médico brasileiro formado em Cuba, revalidado no Revalida 2012, trabalho 100% no SUS e dou as boas vindas para os colegas médicos do mundo todo, principalmente aos colegas médicos cubanos”.

A presidenta Dilma Rousseff criticou os que têm preconceito contra a presença dos médicos cubanos no Brasil. Em entrevista para rádios de Minas Gerais, ela ressaltou que há também médicos de outros países, além de Cuba.

— É um imenso preconceito sendo externado contra os cubanos. É importante dizer que os médicos estrangeiros, não só cubanos, vêm ao Brasil para trabalhar onde médicos brasileiros formados aqui não querem trabalhar.

Primeiro atendimento
O primeiro atendimento feito por um médico estrangeiro do programa do governo foi elogiado nesta semana. O médico uruguaio Gonzalo Lacerda Casaman, de 31 anos socorreu uma mulher atingida por uma moto, no município metropolitano de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco, onde está sendo ministrado o treinamento para os profissionais estrangeiros.
A ambulante Helena Paulina de Araújo elogiou o “português” do médico e o atendimento.
Tumblr Postura de Médico
Depois que a jornalista Micheline Borges, do Rio Grande do Norte, postou um comentário no Facebook comparando a aparência das médicas cubanas com empregadas domésticas, os internautas criaram uma página na internet ironizando a postura e as roupas do médicos.
A página Postura de Médico se apresenta com a frase da jornalista “médico geralmente tem postura de médicos, tem cara de médico, se impõe a partir da aparência”. 

Fonte: http://noticias.r7.com

"Bolívia é insignificante", diz Maristela Basso

"Bolívia é insignificante", diz Maristela Basso, comentarista da TV Cultura e professora da USP

Declarações repercutem nas redes sociais; professora é acusada de racismo e xenofobia
Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7
Maristela Basso, professora da USP, na TV Cultura: "A Bolívia é insignificante em todas as perspectivas" Reprodução/TV Cultura

Os telespectadores do Jornal da Cultura (TV Cultura) assistiram na edição da última quinta (29) a um comentário polêmico. Ao falar sobre o asilo que o Brasil deu ao senador boliviano Roger Pinto Molina, Maristela Basso, comentarista do telejornal e professora doutora da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), disse que “a Bolívia é insignificante em todas as perspectivas”.

O vídeo com a declaração da professora se espalhou nas redes sociais, onde causa indignação. Ela é acusada de preconceito e xenofobia.

Ao comentar a fuga do senador que gerou uma crise diplomática, a professora disse que o assunto é “insignificante para nós”. Eis as declarações de Maristela Basso.

— A Bolívia é insignificante em todas as perspectivas. É um país, sim, que tem uma fronteira enorme com o Brasil, são nossos vizinhos que têm maior fronteira terrestre, mas nós não temos nenhuma relação estratégica com a Bolívia, nós não temos nenhum interesse comercial com a Bolívia.

Ao contrário do que afirmou a professora, o Brasil tem relações comerciais com a Bolívia. Quase três quartos do gás natural consumido pelas indústrias paulistas provêm da Bolívia, pelo gasoduto de mais de 3.000 quilômetros que liga a cidade boliviana de Rio Grande a Porto Alegre, e que passa por São Paulo. A Petrobras tem acordo com a estatal boliviana de petróleo YPFB para exportação diária de 30 milhões de metros cúbicos de gás. O Brasil é o principal cliente da Bolívia neste produto. Em 2012, as exportações de gás da Bolívia somaram US$ 5,7 milhões de dólares — a compra brasileira corresponde a 75% deste valor.

Ainda no Jornal da Cultura, Maristela Basso fez outras afirmações fortes.

— Os brasileiros não querem ir para a Bolívia. Os bolivianos que vêm de lá vêm tentando uma vida melhor aqui, [eles] não contribuem para o desenvolvimento tecnológico, cultural, social e desenvolvimentista do Brasil. Então, Bolívia é um assunto menor.


Racismo e xenofobia 

A comunidade boliviana em São Paulo, estimada em cerca de 250 mil pessoas pelo Consulado da Bolívia na capital paulista, recebeu de forma indignada as declarações de Maristela Basso. Carmelo Muñoz Cardoso, presidente da ADRB (Associação de Residentes Bolivianos), que existe desde 1969, encaminhou pedido de direito de resposta à TV Cultura. Na carta enviada, repudiou a entrevista de Maristela Basso.

— As declarações proferidas têm um alto grau ofensivo a toda comunidade boliviana. A afirmação de que a Bolívia é insignificante demonstra notório racismo, total xenofobia, absoluto preconceito e desrespeito pelo nosso país. Além das medidas legais, requeremos à TV Cultura o direito de resposta.

Procuradas pela reportagem do R7, a professora Maristela Basso e a TV Cultura não se pronunciaram sobre o caso até o momento.

Repercussão na sociedade

A fala de Maristela Basso repercutiu também entre brasileiros que admiram o país vizinho; gente como o analista de sistemas Danilo Barbosa Ribeiro, morador de Salvador. Ele viajou a turismo para a Bolívia em 2011. Passeou durante mais de uma semana pelo país andino.

— Sempre tive vontade de conhecer a Bolívia, porque eles têm uma rica cultura indígena latino-americana. É um país lindo e de gente muito hospitaleira. Acho um absurdo a professora dizer que “os brasileiros não querem ir para a Bolívia”. Porque, quando estive lá, praticamente metade dos hóspedes dos hotéis onde fiquei era de brasileiros.

O professor Caio Lazaneo, morador de São Paulo, viajou durante dez dias pela Bolívia em 2008.

—  A Bolívia tem grande riqueza étnico-cultural. Achei a fala profundamente superficial. É uma opinião de alguém que não olha para o outro com o mínimo respeito. Nenhum país é insignificante.

O artista carioca Lenerson Polini, que trabalhou com 12 atores bolivianos na peça Caminos Invisibles - La Partida, da Cia. Nova de Teatro, apresentada no mês passado em São Paulo, considera "lamentável que uma emissora como a TV Cultura abra espaço para opiniões tão absurdas como a dessa professora".

— O que ela diz é assustador, sobretudo em uma cidade multicultural como São Paulo, feita de imigrantes. Isso revela todo um pensamento xenofóbico que está crescendo cada vez mais em nosso País. A sociedade tem de combater isso.

Argumento da desqualificação

As declarações também repercutiram no meio acadêmico. O professor doutor Dennis de Oliveira, coordenador do Celacc (Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação) da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP afirma ao R7 que a fala de Maristela “tem um viés ideológico muito sutil”, “defendendo que o Estado brasileiro tenha uma atuação tipicamente imperialista e arrogante, de simplesmente ignorar a demanda legítima da nação vizinha”.

Oliveira comenta o fato de a professora nem sequer considerar a riqueza cultural andina da Bolívia.

— Ela não tem este alcance, pois este sentimento preconceituoso e depreciativo advém de uma concepção eurocêntrica de mundo. Por isto, qualquer coisa vinda da América Latina é menor ou coisa sem importância.

Ainda segundo o professor do Celacc-USP, quando Maristela Basso classifica a Bolívia como um assunto menor, ela “foge do problema central deste fato que é a postura inadequada do diplomata brasileiro na Bolívia que montou uma operação de fuga, a partir da embaixada brasileira, sem qualquer conhecimento ou autorização do Itamaraty”.

— Isto corresponde a uma grave quebra de hierarquia em um órgão importante e acabou criando uma crise diplomática para o Estado brasileiro. Além disto, sob qual perspectiva ela considera a Bolívia um assunto pequeno? Por acaso, a estratégia da diplomacia brasileira de investir na integração do continente é algo pequeno? Por quê? Enfim, na ausência ou na dificuldade de expressar argumentos, a docente partiu para o instrumento fácil da desqualificação.

Veja o vídeo, abaixo, com o comentário de Maristela Basso no Jornal da Cultura:

Veja a galeria: Bolivianos celebram seu país em São Paulo!

Leia o blog de Miguel Arcanjo Prado


Criança Esperança

Globo diz desconhecer informações do WikiLeaks sobre investigação envolvendo o Criança Esperança 

Material cita o pagamento de taxa de 10% do valor arrecadado para a Unesco; Globo garante que todo dinheiro vai direto para as contas da instituição   

Documento registra telegrama que teria sido enviado do escritório da Unesco de Paris à capital norte-americana Washington Reprodução/Wikileaks

Um suposto documento publicado pelo site WikiLeaks, famoso por divulgar materiais e informações confidenciais de governos e empresas, registra uma investigação sobre o recebimento de verbas da campanha Criança Esperança da Rede Globo pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). 

O documento, de 15 de setembro de 2006, revela um telegrama que teria sido enviado do escritório da Unesco em Paris, na França, para Washington, capital dos EUA. O material relata uma solicitação de reunião do então embaixador brasileiro na capital francesa, Luiz Filipe de Macedo Soares, com lideranças da entidade da ONU para discutir irregularidades ocorridas no escritório da Unesco em Brasília.

Um dos problemas a serem discutidos, mencionados no documento, seria a manipulação do dinheiro movimentado pela campanha Criança Esperança, que já teria levantado US$ 40 milhões (cerca de R$ 94,8 milhões) desde 1986. Segundo o texto, teriam sido repassados à Unesco 10% desse total, por conta de uma “taxa de serviço”. O documento não faz referência sobre o destino dos 90% do montante arrecadado, mas informa que um terço do orçamento dos fundos extraorçamentais da Unesco (cerca de US$ 124 milhões, ou R$ 291,4 milhões) tem origem do escritório de campo do Brasil . No site oficial da campanha, a Rede Globo informa que “todo o dinheiro arrecadado pela campanha é depositado diretamente na conta da Unesco”.
Leia mais notícias do R7

Material, de 2006, menciona o então embaixador do Brasil na França, que teria informado diretoria da Unesco sobre irregularidades no escritório brasileiro da entidade Reprodução/Wikileaks

Em uma nota divulgada no dia 8 de junho de 2011 para esclarecer rumores sobre possíveis benefícios fiscais que a emissora teria com a campanha, a Rede Globo informou que nenhuma doação do Criança Esperança passa pela emissora. De acordo com dados da própria emissora, já foram arrecadados mais de R$ 270 milhões até a última campanha.

Procurada pelo R7, a emissora carioca respondeu, em nota, que “desconhece os documentos citados [do WikiLeaks]”, e informa que a parceria com a Unesco, que não traz nenhuma cláusula referente a pagamento de “taxa de serviço”, teve início apenas em 2004.

Leia a nota da Rede Globo na íntegra:

"A Globo desconhece os documentos citados. Mas esclarece que não mantém parceria com a Unesco desde 1986, ano do lançamento do projeto Criança Esperança. A parceira com a Unesco começou apenas em 2004. Neste acordo, não existe qualquer cláusula prevendo pagamento de taxa de administração. Todos os custos referentes à gestão e administração do fundo Criança Esperança, a cargo da Unesco, são integralmente pagos pela TV Globo com recursos próprios. Há 28 anos o Criança Esperança contribui para a mobilização da sociedade brasileira para a garantia dos direitos de crianças e jovens e já beneficiou mais de 4 milhões de brasileiros." 

Fonte: http://noticias.r7.com
   

Economia do Brasil supera expectativas

Economia do Brasil supera expectativas e ultrapassa países ricos. Veja ranking

País apresentou terceiro maior crescimento entre primeiro e segundo trimestre deste ano

Lista traz 14 países entre desenvolvidos e emergentes Escritórios de Estatística dos países e Eurostat

O aumento da economia do Brasil no segundo trimestre deste ano superou as expectativas de analistas e colocou o País na frente de nações ricas como Estados Unidos, Alemanha e Japão

Divulgado na última sexta-feira (30), o avanço de 1,5% no PIB (Produto Interno Bruto) só foi menor que o da Indonésia (2,6%) e China (1,7%), o que colocou o Brasil em terceiro lugar numa lista de 14 países.

Entre as nações com desempenho inferior ao do Brasil estão potências como Coreia do Sul (1,1%), Reino Unido (0,6%) e França (0,5%). Na variação anual entre os primeiros trimestres de 2012 e 2103, por sua vez, o Brasil cai para a quinta posição.

No topo da tabela, China (7,5%) e Indonésia (5,8%) trocaram as posições e aparecem em primeiro e segundo lugar, respectivamente.

Contudo, o crescimento anual de 3,3% do Brasil o colocou na frente de países como Rússia, Japão (0,9%) e Alemanha (0,5%).

Recuperação da economia

O aumento de 1,5% nas riquezas do Brasil no segundo trimestre ante os três primeiros meses deste ano, informado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na última sexta-feira (30), foi acompanhado por uma desaceleração da inflação oficial e reação do real ante o dólar.

Esse movimento deve fortalecer a imagem do Brasil no exterior e atrair investidores estrangeiros, que podem trazer dólares ao País e, com isso,  baixar a cotação da moeda norte-americana.

O aumento da taxa básica de juros (Selic) para 9% ao ano, por sua vez, elevou os rendimentos das pessoas que têm dinheiro na poupança. Nesse panorama, analistas já estão mais otimistas em relação à economia do País.

Fonte: http://noticias.r7.com

Juros da dívida consomem tanto dinheiro público quanto a educação


Juntos, o governo federal, os Estados e os municípios gastam com juros de suas dívidas tanto dinheiro quanto o destinado à educação no país.

A evidente distorção de prioridades pode ser observada no infográfico abaixo, que relaciona as principais fontes de receita e as diferentes finalidades das despesas públicas.
Analisar escolhas _ou fatalidades_ como essa será um dos objetivos deste blog que estreia hoje, assim como os efeitos da tributação e do gasto dos governos no cotidiano das famílias e das empresas.

Tanto a educação, primazia orçamentária mais consensual no país, como os juros da dívida pública, muito mais um encargo do que uma opção, consomem cada um algo como 5% de toda a renda do país.

A educação vem elevando gradualmente sua parcela nos últimos anos; a conta financeira caiu no governo Dilma, mas está novamente em tendência de alta.
A alocação de recursos para o ensino público no país é compatível com a prática no resto do mundo; já o custo da dívida pública brasileira é anormalmente elevado.
Países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), na maioria ricos, gastam, em média, 5,6% do Produto Interno Bruto com educação e 2,6% com juros.
O peso excessivo da dívida encoraja, especialmente na esquerda do mundo político, propostas de interromper total ou parcialmente o pagamento de juros, o que liberaria mais recursos para áreas mais nobres.
Mesmo sem levar em conta as consequências econômicas de tal medida, é possível demonstrar que seu potencial de geração de verbas é menor do que parece.
Os governos brasileiros já gastam mais do que arrecadam _ou, em outras palavras, estão sempre fazendo novas dívidas. A parcela da receita de impostos destinada aos juros não chega a pagar metade da conta.
Um hipotético calote da dívida, portanto, acabaria por reduzir as possibilidades de expansão futura dos demais gastos, porque os credores deixariam de financiar o deficit das contas públicas.
A escolha menos radical das administrações de Lula e Dilma foi reduzir as taxas de juros para viabilizar o aumento dos gastos sociais e dos investimentos.
Mas a estratégia também chegou a um limite quando a consequente alta da inflação fez com que o Banco Central fosse obrigado a elevar novamente os juros.

Fonte: http://dinheiropublico.blogfolha.uol.com.br

Fortaleza dia de mobilização

Confusões e engarrafamentos marcam dia de mobilização

Escolas sem aula, comércio fechado, trânsito parado e muitas reivindicações nas ruas. As manifestações mexeram com o cotidiano da Capital

Motoristas e cobradores de ônibus fecharam os sete terminais da Capital. O trânsito ficou confuso e muitos fortalezenses não conseguiram chegar ao trabalho. No Siqueira, a fila ficou enorme

As manifestações que tomaram as ruas de diversas cidades brasileiras, ontem, transformaram Fortaleza. Já no começo da manhã, quando motoristas e cobradores de ônibus fecharam os sete terminais da Capital, o trânsito começou a ficar confuso e muitos foram os fortalezenses que não conseguiram chegar ao trabalho. Em todo o País, diversas categorias foram às ruas no Dia Nacional de Mobilização e Paralisação, convocado pelas centrais sindicais.

O protesto de motoristas e cobradores de ônibus, que deixou os terminais de ônibus fechados até por volta de 12h30min, resultou em 27 ônibus depredados. Conforme a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), todos estavam no entorno do Terminal do Siqueira - que foi palco de confronto entre manifestantes e a Polícia.

A falta de ônibus repercutiu no Metrô de Fortaleza, que transportou mais passageiros, ontem. Segundo a assessoria de imprensa do Metrofor, a Linha Sul (que está em teste) levou 11.225 pessoas das 8 horas ao meio-dia, enquanto, de 1º a 29 de agosto, foram, em média, 10.045 pessoas por dia.

De acordo com a Secretaria da Educação do Estado (Seduc), das 175 escolas da rede em Fortaleza, as atividades da manhã foram suspensas em 43. A pasta do Município não soube informar se a paralisação afetou as escolas.

Centro

No Centro, por onde seguiu protesto de trabalhadores, muitas lojas fecharam, durante a passagem dos manifestantes. Porém, segundo o secretário de Formação da Federação dos Trabalhadores, Empregados e Empregadas do Comércio e Serviço do Ceará, Marcos Pereira, 90% das lojas do Centro ficaram fechadas até as 13 horas, quando o ato - que seguiu da praça Clóvis Beviláqua para o Paço Municipal - chegou ao fim. Também no Centro, bancários chegaram a fechar uma agência do Banco do Brasil por duas horas, pela manhã.

Segundo a Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC), agentes precisaram orientar o trânsito no entorno dos terminais, onde ônibus ficaram estacionados - muitos com pneus secos. Houve controle de trânsito durante a manifestação no Centro. Na avenida Desembargador Moreira, onde aconteceu ato de professores, o trânsito no sentido Sertão no cruzamento com a Antônio Sales foi desviado por agentes da autarquia. Trinta agentes atuaram na operação. 

ENTENDA A NOTÍCIA

A manifestação pedia, entre outros pontos, a derrubada do projeto de lei 4.330, que trata da terceirização de trabalhadores no País, que deve “precarizar” as relações de trabalho. Por enquanto, não há mais protestos marcados.

Saiba mais

Algumas das categorias que participaram dos atos em Fortaleza:

Bancários;

Professores;

Motoristas e cobradores de ônibus;

Gráficos;

Operários da construção civil;

Servidores federais, estaduais e municipais;

Dentistas, enfermeiros e agentes de saúde;

Comerciários;

Metalúrgicos

FONTES: Centrais sindicais

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Confusão e quebradeira em paralisação nos terminais



Publicado em 30/08/2013 O dia Nacional de Lutas, uma mobilização que promoveu uma mobilização em todo o Brasil. Em Fortaleza, várias categorias decidiram realizar manifestações. O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Ceará (Sintro-CE) realizou a paralisação em vários terminais. Houve confusão no Terminal do Siqueira. Na Parangaba uma pessoa teria sido baleada no terminal. O repórter Paulo Campelo acompanhou toda a movimentação: http://www.tribunadoceara.com.br/ Categoria Notícias e política Licença Licença padrão do YouTube

Bashar al-Assad

Bashar al-Assad: O que fazer com ele?

O uso de armas químicas tirou os EUA e os países ocidentais da inércia no conflito sírio. Eles agora querem agir contra o regime de Assad. A dúvida é como tirá-lo do poder – e o que acontecerá se ele cair




TIRANO Assad visita as tropas sírias que massacraram rebeldes em Daraa, um subúrbio da capital, Damasco (Foto: AFP)
A guerra na Síria chegou a um ponto sem volta. Depois de dois anos e meio de conflito, mais de 100 mil mortos e 1,9 milhão de refugiados, a gota de sangue que faltava para fazer a comunidade internacional agir caiu há duas semanas. Armas químicas usadas contra a população de um subúrbio da capital, Damasco, mataram mais de 1.429 pessoas, entre elas 426 crianças. As imagens de meninos e meninas agonizando por causa do contato com um gás neurotóxico e de corpos estendidos no chão de hospitais e escolas rodaram o mundo.

Há um ano, o presidente Barack Obamaalertara o ditador sírio, Bashar al-Assad: se ele usasse armas químicas na Síria, “cruzaria a linha vermelha”. “Há fortes evidências de que o regime de Assad usou armas químicas contra seu próprio povo”, afirmou nesta sexta-feira o secretário de Estado dos EUA,John Kerry. “Sabemos que ele usou seu arsenal várias vezes neste ano.” Assad e seus aliados acusam seus opositores de arquitetar a barbárie para justificar uma intervenção ocidental no país. Mas tudo indica que foi Assad mesmo quem cruzou a “linha vermelha” traçada por Obama. Há duas possíveis razões para o ataque. Há mais de um ano, os Estados Unidos e seus aliados europeus e do Golfo Pérsico treinam opositores sírios na Jordânia, suspeitos de fazer incursões em Damasco. Irritado, Assad decidiu frear as operações. A segunda hipótese inclui um erro estratégico das forças de Assad. Seus aliados são acusados de usar armas químicas em doses homeopáticas, em algumas cidades. Desta vez, um general, à revelia de Assad, é suspeito de ter usado uma carga maior de agentes químicos.

Este é mais um crime de guerra da longa lista de atrocidades perpetradas pelo regime sírio. A matança promovida por Assad é tamanha que ele herdou o apelido que consagrou seu pai, Hafez Assad: Carniceiro de Damasco. A família Assad controla a Síria há mais de 40 anos. Hafez tomou o poder com um golpe militar, em 1971. Bashar al-Assad herdou a Presidência do pai em 2000. Não estava na linha sucessória, mas assumiu porque seu irmão mais velho, Basil, morrera num acidente de carro em 1994. Assad tentou se distanciar do passado brutal do pai. Em 1982, Hafez mandara matar mais de 20 mil pessoas em represália contra uma revolta. Assad chegou ao poder com o lema do “velho versus o novo”. Cultivou a imagem de reformador e, assim, se legitimou perante os sírios e a comunidade internacional. Por um curto período, permitiu aos dissidentes criticar a corrupção abertamente. O apoio da população veio, em parte, por sua imagem jovial e moderna. Na prática, nenhuma reforma saiu do papel.

Assad perdeu parte do prestígio, mas não todo. “Ainda hoje, mesmo diante da carnificina, parte da população síria o apoia”, diz David Lesch, historiador da Universidade Trinity, no Texas. Ele conviveu com Assad por dois anos para escrever uma biografia sobre ele. Isso acontece porque, em 40 anos de poder, os Assads conduziram um regime autoritário, mas a Síria continuou laica, ao contrário de muitos países da região. Os sírios desfrutam uma liberdade social superior à de seus vizinhos. As mulheres podem usar cabelos soltos e a roupa que escolherem, homossexuais não são perseguidos, e a bebida alcoólica não é um problema na maioria das cidades. “Os sírios se orgulhavam disso, gostam das liberdades que têm e temem a formação de um Estado religioso”, afirma Lesch. “Por isso, muitos apoiam Assad.”

Com o aprofundamento do conflito, a divisão entre os diferentes grupos se agravou na Síria. O país tem problemas semelhantes ao de seus vizinhos Líbano e Iraque, que sofreram com guerras nos últimos 30 anos. Embora 90% dos sírios sejam árabes, há importantes minorias, como curdos e drusos. A divisão religiosa é grande. Dos 22,5 milhões de sírios, 74% são sunitas, 10% são cristãos e 12% são alauítas, um braço do islamismo, com laços tênues com o xiismo. Quando deu um golpe e conquistou o poder, Hafez firmou um pacto social para manter um regime laico, com base no arabismo nacionalista e não religioso. Ele montou uma coalizão que incluía o Partido Baath, composto de sunitas, as Forças Armadas, dominada por cristãos e alauítas, e as elites de Damasco e Aleppo, de maioria sunita. Quando assumiu o poder, Assad, alauíta e casado com uma sunita, manteve essa coalizão intacta.

Parte da população que apoia Assad teme que a Síria se torne uma versão século XXI do Iraque. A oposição síria é uma colcha de retalhos ideológica. Apesar de ser 90% sunita, com membros conservadores e religiosos, a Coalizão Nacional Síria da Oposição e das Forças Revolucionárias, o grupo que congrega os opositores de Assad, é composta de mais de 1.000 grupos armados, com várias facções inimigas entre si. Todos têm diferentes agendas e patrocinadores. Os ligados à Irmandade Muçulmana são apoiados pelo Qatar. Facções salafistas contam com o apoio da Arábia Saudita e de parte do Golfo Pérsico. Há também os jihadistas da Frente Nusrah (Jabhat al-Nusra), um braço da al-Qaeda na Síria.

Esse balaio reflete a confusa relação de poderes no Oriente Médio. Assad mantém uma firme aliança com a teocracia xiita do Irã, que não quer perder seu último aliado poderoso na região, depois da ascensão dos regimes sunitas no pós-Primavera Árabe. Os atuais governantes xiitas do Iraque e o movimento xiita libanês Hezbollah (Partido de Deus) também estão ao lado de Assad. Os rebeldes contam com apoio dos petrodólares do Qatar e da Arábia Saudita, monarquias sunitas rivais do Irã, que já forneceram valores estimados em mais de US$ 4 bilhões em armamentos à oposição. Há ainda os interesses de Israel. O governo Assad mantinha com Israel uma relação de ódio, mas era considerado um inimigo previsível pelos israelenses. Israel não teria motivos para desejar a queda do secular Assad, ainda mais diante do risco de ele ser substituído por islamistas. A guerra mudou isso. A possibilidade de enfraquecer o Hezbollah, com a queda de Assad, é vista como uma chance de ouro pelos israelenses.

Foi esse imbróglio que manteve a inação das potências ocidentais diante da catástrofe de mais de 100 mil mortos no conflito da Síria. Agora, o jogo mudou. Mesmo sem o aval do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), onde Rússia e China se opõem à intervenção militar, a Otan, a aliança ocidental, não quer deixar o ataque com armas químicas sem resposta. Numa votação às pressas, o Parlamento britânico vetou a participação do Reino Unido na ação, contrariando as expectativas do premiê David Cameron. Obama tem oapoio da França e parece disposto a atacar a Síria sozinho, mesmo sem um parecer dos inspetores da ONU que investigam o uso de armas químicas em Damasco.

Não há mesmo muitas opções para Obama. Uma delas é continuar a fazer o que o governo americano tem feito: nada. A administração Obama considera ruins os dois lados envolvidos na guerra, pois Assad é aliado do Irã, e os grupos da oposição são ligados à al-Qaeda. Cruzar os braços, porém, tem um custo humanitário e político. Assad pode se sentir livre para usar armas químicas com mais frequência. A segunda opção é uma intervenção militar nos moldes da feita na Líbia, em março de 2011, com a criação de uma zona de exclusão aérea e bombardeios em pontos-chave das forças do regime. A maioria da população americana é contra uma ação militar prolongada dos Estados Unidos, ainda mais diante do recente atoleiro da Guerra do Iraque.

A opção preferida de Obama, que estava prestes a ser levada a cabo, é um bombardeio punitivo. Nesse caso, as Forças Armadas americanas lançam mísseis Tomahawk contra instalações militares do regime sírio. Tal intervenção seria um recado para Assad não voltar a usar armas químicas. Seria também uma mensagem ao Irã, patrono da Síria e preocupação estratégica dos EUA devido a seu programa nuclear. Dar uma lição em Assad desse jeito pode até apaziguar os clamores por uma ação humanitária, mas tem eficácia duvidosa. “Ações táticas sem objetivos estratégicos são inúteis e contraproducentes”, afirma Chris Harmer, analista do Instituto para o Estudo da Guerra. Em julho, Harmer preparou um estudo mostrando que os EUA poderiam infligir amplos danos a importantes instalações militares sírias. Esse estudo foi usado pelo senador republicano John McCain para defender uma intervenção rápida na Síria. “Uma ação punitiva é a mais idiota de todas, porque não produzirá um efeito dissuasivo e fará com que Assad distribua seu arsenal químico entre as forças aliadas.”

A história mostra também que ataques como este raramente atingem objetivos políticos duradouros. Com frequência, produzem mais custos ou consequências colaterais não planejadas do que benefícios. Os últimos cinco presidentes americanos recorreram a ataques limitados desse tipo, com resultados inócuos. Há 30 anos, o presidente republicano Ronald Reagan determinou que fuzileiros navais americanos abrissem fogo contra uma milícia islâmica em Beirute. Semanas mais tarde, um ataque do grupo Jihad Islâmica a quartéis das forças militares americanas e francesas deixou 299 mortos. Em 1998, o presidente democrata Bill Clinton bombardeou o Iraque por quatro dias, na Operação Raposa do Deserto, porque o regime de Saddam Hussein se recusava a cooperar com os inspetores da ONU. Saddam aguentou mais cinco anos no poder – sempre dificultando o trabalho da ONU. “Sem um plano de longo prazo para a Síria, uma ação pontual será ineficaz”, afirma Ed Husain, analista do Council on Foreign Relations. “E, se Obama fizer uma operação limitada, será insuficiente para virar o jogo na guerra civil.”

Os americanos tiveram duras lições no Afeganistão e no Iraque. Nesses países, viram como é difícil sair de certos conflitos. Agora, no território minado da Síria, descobrem que também há guerras em que é difícil entrar. 
 
Os amigos e os inimigos de Assad (Foto: ÉPOCA)