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Hoje na Historia

26 de junho de 1968: O povo vai às ruas. A Passeata dos Cem Mil

Um casal foge da perseguição policial durante manifestação. França/CPDoc JB

Os amores na mente, as flores no chão, a certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando, e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição...
Geraldo Vandré

Menos de uma semana após um violento enfrentamento com a polícia, organizados sob a liderança de Wladimir Palmeira, os estudantes voltaram às ruas. Iniciada a partir de um ato político na Cinelândia, uma nova passeata invadiu o Centro do Rio. Além de reivindicar a liberdade aos presos políticos e o fim da repressão, a manifestação também se opunha à política educacional do governo, que revelava uma tendência à privatização, e questionava-se com rigor a subordinação brasileira aos objetivos e diretrizes do capitalismo norte-americano.

Reunindo em condição de protesto uma multidão como jamais havia sido registrado durante a ditadura, a Passeata do Cem Mil (Leia aqui a cobertura do JB), tornou-se símbolo maior do crescente descontentamento popular com o regime autoritário instaurado no país. Desse dia em diante, aumentaria na mesma proporção o número de perseguidos, presos e desaparecidos. Um dia que duraria mais de duas décadas para chegar ao fim.

26/06/1968: Passeata dos Cem Mil. Evandro Teixeira/AJB

Outras efemérides de 26 de junho
1945: Carta de paz nas cinzas da Guerra
Dia Mundial em Apoio às Vítimas de Tortura

As agitações estudantis e repressão violenta das forças policiais não ocorreram apenas no Brasil

Violência... 1968 foi realmente um ano marcado pela violência. Houve conflitos de rua entre estudantes e policiais em Paris e na Cidade do México, em outras regiões do globo, tanto do Ocidente como do Oriente. Houve violência também nos países socialistas com a invasão da Tchecoslováquia por tropas dos países do Pacto de Varsóvia. A violência não foi apenas estudantil, embora os estudantes tivessem tido uma atuação que constituiu, na realidade, elo de ligação de todas as violências. A violência aconteceu nos Estados Unidos, onde houve conflitos raciais e dois assassinatos que traumatizaram a humanidade.

Em Paris, as violências e os conflitos entre estudantes e policiais chegaram no seu ponto máximo a 5 de maio, quando se registraram combates no bairro latino com emprego de paralelepípedos, pedaços de asfalto e latas de lixo, e reação violenta da polícia parisiense. As agitações na França tiveram profundas repercussões políticas e duraram praticamente o ano todo.

As agitações estudantis no Brasil começaram no dia 28 de março, quando o estudante paraense Edson Luís de Lima Souto foi morto em frente ao Restaurante do Calabouço. Continuaram após o seu enterro, se intensificaram no dia em que foi realizada uma missa na Candelária em sua homenagem, e culminaram com verdadeira batalha campal na Avenida Rio Branco e outros pontos da cidade, com a participação de estudantes, populares e policiais dia 21 de junho. Para acalmar os ânimos, as férias escolares foram antecipadas e as agitações amainaram para voltar mais tarde com o reinício das atividades estudantis. E houve novos incidentes no Centro, em bairros da zona sul e em Vila Isabel, com mortes nas proximidades da Universidade do Estado da Guanabara. Somente em outubro, a agitação estudantil terminou com a prisão em Ibiúna, São Paulo, de cerca de mil estudantes reunidos em Congresso proibido. Entre os presos, estavam os líderes dos estudantes cuja situação passou a ser decidida pelo Judiciário. A agitação estudantil registrou-se também em Belo Horizonte, São Paulo e cidades importantes do país. Em Brasília, houve conflitos na zona central da cidade, Avenida W3 e na própria universidade, com prisões e feridos.

21 de junho de 1968: A sexta-feira sangrenta

A sexta-feira sangrenta. Jornal do Brasil: 22 de junho de 1968.

O que era uma passeata estudantil, se transformou em uma batalha a bala, cassetetes e pedras, entre estudantes e a Polícia Militar. Com a Avenida Rio Branco interditada, milhares de pessoas foram atraídas às janelas dos edifícios. Esses espectadores, em repúdio à repressão da manifestação, lançaram um mundo de coisas contra os policiais.

O Centro do da Cidade foi paralisado ao meio-dia, permanecendo assim por seis horas. Ao final, um policial foi morto e presumivelmente, dois civis. Cerca de 80 pessoas ficaram feridas e mais de mil prisões foram efetuadas.

O Jornal do Brasil foi testemunha daquela que ficaria conhecida como a sexta-feira sangrenta. Momento relembrado pelo fotojornalista Evandro Teixeira: “ Foi um dos dias mais sangrentos que a Rio Branco em especial e o Rio de Janeiro viveu, nesta época. O Jornal do Brasil era o palco das reações. Tudo começava em frente ao Jornal que neste dia foi fechado a bala. A polícia começou a atirar e a fechar as portas. Eu participei ativamente com barreiras, fugindo das cavalarias, vendo estudante caindo. Inclusive tenho a foto do fotógrafo Rubem Seixa, do Correio da Manhã, quando a polícia o surrou depois de ter quebrado seu equipamento.”

Preocupados com a documentação da violência, elementos da PM, especialmente os mais graduados, e agentes do DOPS procuravam sempre que podiam atingir os jornalistas. A Associação Brasileira de Imprensa entregou ao Governador Negrão de Lima uma carta de protesto contra as violências cometidas pela Polícia contra os repórteres e fotógrafos de diversos jornais cariocas, inclusive com a danificação de máquinas de alto preço.

Outras efemérides de 21 de junho
1945: Americanos ocupam Okinawa
1977: O último show de Elvis
1970: Brasil é tri no México


A fúria: o passante espancado chama-se João Rui Carvalho Soares. É funcionário da justiça do Estado, 41 anos. Foi na Rua México, junto à Rua Santa Luzia.
O delírio: vencedor numa das batalhas contra a PM, na avenida Rio Branco, o rapaz partiu para a depredação.
O tributo a pagar: Jani Barros Lopes, 20 anos, estudante da faculdade de Filosofia da UEG, foi baleada perto do Edifício Avenida Central.
A ajuda: Ferida no primeiro tiroteio, perto da Embaixada americana, Márcia Juekiewi, estudante de Estatística foi socorrida por populares.
A carga: cada vez que os cavalarianos passaram pela Rio Branco, receberam verdadeira chuva de pedras, tinteiros, cinzeiros e sacos de água. O soldado caiu, em pleno desespero.
O aplauso: nas escaramuças, populares juntavam-se aos pelotões de frente, contra a Polícia. Do alto dos edifícios vinham as palmas solidárias.

13 de junho de 1964: A criação do SNI

Organograma do SNI

Órgão da Presidência da República, criado pela lei n° 4.341, com a responsabilidade de fiscalizar e coordenar nacionalmente as atividades de informação e contra-informação, em particular aquelas de interesse para a segurança nacional, o Serviço Nacional de Informações (SNI) foi um instrumento para serventia das entidades públicas federais, estaduais e municipais.

Outras efemérides de 13 de junho
1964: JK parte para o exílio
1981: Morre Mazzaropi, o típico caipira brasileiro
1985: Os Deputados pianistas
1998: Adeus ao visionário Lucio Costa

Com a deflagração do golpe militar de 1964, os órgãos de segurança passaram por uma total reformulação. Em maio daquele ano, visando "aparelhar melhor o Poder Executivo,mantendo-o bem informado sobre o que se passa no país, para que se possa agir com acerto e oportunidade", o presidente Humberto de Alencar Castelo Branco defendeu a criação do Serviço Nacional de Informações (SNI). Instalado efetivamente no mês seguinte, incumbido de assessorar o presidente da República na orientação das atividades de informação referentes aos ministérios, serviços estatais, e entidades paraestatais. Era ainda de sua competência coletar, avaliar e integrar as informações, "em proveito das decisões do presidente da república e dos estudos e recomendações do Conselho de Segurança Nacional, assim como das atividades de planejamento a cargo da secretaria-geral desse Conselho".

O General Golbery do Couto e Silva foi seu primeiro chefe e o então Coronel João Batista Figueiredo, seu principal auxiliar.

Na prática, ao longo de sua existência, o SNI foi além da missão de buscar e interpretar informações, tornando-se um dos símbolos mais temidos durante o período da ditadura militar.

O SNI foi extinto no governo de Fernando Collor de Mello, através da Medida Provisória nº 150 de 1990, atribuindo à Secretaria de Assuntos Estratégicos da presidência da República (SAE/PR) a responsabilidade de assumir as funções que não foram transferidas para a Polícia Federal.

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