Lindbergh Farias, senador (PT-RJ), participou do Poder e Política, programa da Folha e do UOL conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 20 de junho de 2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.
Trechos da entrevista com Lindbergh Farias
Lindbergh Farias - 20/6/2013
Narração de abertura: Luiz Lindbergh Farias Filho tem 43 anos. É senador da República pelo PT do Rio de Janeiro.
Lindbergh nasceu em João Pessoa, na Paraíba. Seu pai, Luiz Lindbergh
Farias, foi vice-presidente da UNE, a União Nacional dos Estudantes, em
1961.
Lindbergh começou a cursar medicina, direito, mas nunca se formou. Logo
começou a se destacar no movimento estudantil. As 21 anos, foi eleito
secretário-geral da UNE e se mudou para São Paulo.
Em 1992, Lindbergh Farias foi eleito presidente da entidade, mudou-se
para o Rio e liderou o movimento dos caras-pintadas, que ajudou a
derrubar o ex-presidente Fernando Collor.
Dois anos depois, foi eleito deputado federal pelo PCdoB. Antes de terminar o mandato, aderiu ao trotskismo e se filiou ao PSTU.
Em1998, concorreu a um novo mandato de deputado, mas perdeu. Em 2000
também foi derrotado na disputa para vereador do Rio. Decidiu sair então
do PSTU e, em 2001, filiou-se ao PT, partido no qual está até hoje.
No ano seguinte, já pelo PT, foi novamente eleito deputado federal.
Abandonou o mandato na metade e venceu a eleição para prefeito de Nova
Iguaçu, na região metropolitana do Rio.
Em 2008, Lindbergh ganhou a reeleição para prefeito, mas após dois anos
deixou o posto para ser eleito senador da República pelo Rio.
O entrevistado desta edição do Poder e Política é o senador Lindbergh Farias, do PT do Rio de Janeiro.
Folha/UOL: Olá, senador. Muito obrigado por sua presença aqui, no estúdio do Grupo Folha.
Lindbergh Farias: Um prazer estar aqui, Fernando.
Qual é a diferença entre as manifestações de rua atuais e as que o Brasil presenciou em 92, durante o movimento Fora Collor?
Eu acho que são muitas. Vamos começar pela forma de convocar. Naquela
época, a gente gastava 15 dias para organizar uma passeata. A UNE [União
Nacional dos Estudantes] tinha que chamar uma reunião dos DCEs
[Diretórios Centrais de Estudantes] e grêmios, chamava todo mundo,
organizava visitas às escolas, passagem em sala de aula... Agora não. As
redes sociais. Eu acho que essa é uma diferença muito importante para
entender esse processo.
Agora, os movimentos atuais têm outra diferença fundamental com os de
92, que vem a ser o fato de não existirem líderes ou grupos organizados
que possam ser os interlocutores do movimento. O que isso faz com que
ele seja melhor ou pior?
Mas você veja. Antigamente, para ter uma passeata, você precisava de uma
direção. Você tinha que ter uma UNE, você tinha que ter um partido,
você tinha que ter um sindicato. Agora não. Essa coisa das redes sociais
foi isso. Esse movimento começou pelas redes sociais. Marcaram e a
coisa foi crescendo. Isso é como se o movimento dissesse o seguinte: "Eu
não preciso de direção para marcar, para convocar." É uma coisa mais
horizontal. Eu acho que isso também é positivo.
Mas as redes sociais, nos últimos anos, convocaram várias
manifestações. A gente sabe disso. Manifestações contra a corrupção
tiveram algumas vezes. E, em geral, se não foram um total fracasso,
chegaram perto disso. Então, às vezes as redes sociais não funcionam, às
vezes funcionam. Dessa vez funcionou. Por que dessa vez funcionou?
Porque tinha um sentimento. Eu acho que, primeiro, a bandeira é uma
bandeira muito popular. Transporte público nas regiões metropolitanas
hoje. Estamos falando de um caos. As pessoas estão fincando, no Rio de
Janeiro e São Paulo, três, quatro horas por dia presos no transporte
público de má qualidade com preço de passagem cara. Então, eles
acertaram na bandeira. E também em um certo clima que existia com esses
eventos. Copa das Confederações...
Eu fiz umas pesquisas qualitativas lá no Rio de Janeiro e já tinha visto
isso. Se tem um consenso no Rio de Janeiro é as pessoas dizendo o
seguinte: "Olha, gastam R$ 1 bilhão no Maracanã, mas a minha a vida
aqui..." Serviço de saúde ruim, transporte público ruim. [Eles] têm um
certo sentimento de que o dinheiro está sendo gasto para os eventos,
para os turistas e não para as pessoas. Eu acho que é uma mudança grande
nisso. Houve uma percepção do povo que é um desperdício em determinados
lugares.
Os partidos políticos foram negligentes com esse sentimento popular?
Eu acho que sim. Veja bem, Fernando. Olha só. Nos últimos dez anos,
houve muitos avanços no Brasil. Nós temos o menor desemprego da nossa
história. 40 milhões ascenderam à classe média. Houve melhora na renda.
Uma parte da juventude que não entrava nas universidades, filhos de
trabalhadores, passou a entrar. Houve muitos avanços no país.
Agora, a vida nas grandes metrópoles está um inferno. Está muito difícil
tudo. Os serviços são muito ruins. Saúde, tanto público quanto privada,
hoje é um "problemaço". Então, aquele jovem de 17, 18 anos, que agora
está entrando em uma universidade, ele está irritado, eu diria. Irritado
com as instituições, com os governos, com as prioridades tomadas. E,
quando vê uma Copa das Confederações como essa, essa grande festa, esse
Brasil do cartão postal, ele chama para o Brasil real.
Esse movimento... Eu estou muito e bem impressionado com ele. Eu acho
que é um movimento que está com base popular. E tem uma coisa diferente
da minha época.
O quê?
Na minha época, da juventude do movimento impeachment [do ex-presidente Fernando Collor], era um movimento mais de juventude de classe média. Eu queria que não tivesse sido. Eu queria que tivesse lá a juventude da periferia e tal. Mas não. Foi muito juventude da classe média. Aqui, eu acho que tem duas cores. Tem juventude classe média e tem uma juventude de periferia, que é essa nova classe média.
Na minha época, da juventude do movimento impeachment [do ex-presidente Fernando Collor], era um movimento mais de juventude de classe média. Eu queria que não tivesse sido. Eu queria que tivesse lá a juventude da periferia e tal. Mas não. Foi muito juventude da classe média. Aqui, eu acho que tem duas cores. Tem juventude classe média e tem uma juventude de periferia, que é essa nova classe média.
E eles estão indo... Aí parece mais sabe o que? Aquelas rebeliões do
subúrbio de Paris. Eles vêm mais irritados também. Irritados porque, no
dia a dia, a polícia é agressiva com eles. Porque estão sofrendo, como
eu já falei, no transporte público, com a piora dos serviços públicos.
Então, esse [movimento] vem também com uma outra tônica. Esse eu acho
que está muito irritado com tudo.
Esse movimento sobrevive sem uma direção ou interlocutores principais?
Eu acho que sobrevive e tem mais uma coisa. Quem acha que essa redução
do preço de passagem, agora em São Paulo, Rio e várias capitais do país
vai resolver o problema, está muito enganado. Eles ganharam foi força. O
movimento sobrevive é de vitória. Então, eles tiveram uma grande
vitória.
Fernando, me diga quem é que baixa a passagem de transporte coletivo?
Ninguém. Eles conseguiram. O povo, a partir de segunda-feira, que pegar o
seu ônibus - povo trabalhador, povo mais pobre - criou um laço com esse
movimento também. É porque não tem direção.
Se eu pudesse dar um conselho para esse pessoal, eu diria o seguinte:
Agora, depois essa primeira vitória - baixar o preço da passagem -, eles
tinha que pegar uma bandeira tipo salário de professor. Imagina se esse
movimento agora continua com essa força, mas dizendo o seguinte: "Tem
que melhorar o salário do professor." Ia emparedar todo qualquer
prefeito, todo qualquer governador. Ia colocar um debate.
Eu espero que o movimento ache uma segunda bandeira. A do transporte
ainda não acabou. Mas eu acho que, se ele achasse uma segunda bandeira,
ele teria uma segunda vitória.
Os governantes, governadores e prefeitos que cederam, baixaram as tarifas, foram a reboque do movimento? Foram empurrados?
Claro. Completamente [risos]. Completamente.
Claro. Completamente [risos]. Completamente.
Então, ao invés de ficaram mais fortes, ficaram mais fracos?
É claro. O resultado de isso tudo aqui é o seguinte. Vamos continuar nas
ruas e vamos atrás de mais vitórias. A leitura é clara. Eu acho que,
talvez, os governantes tivessem que ter se reunido, construído uma
saída. Do jeito que foi, na verdade, eles foram empurrados a aceitar
aquilo.
O que eles poderiam ter feito?
Olha, é que difícil negociar sem uma direção lá no caso, entendeu? É difícil.
Mas o que eles poderiam ter feito?
Eu acho que o primeiro fato é o seguinte: A condenação à repressão que
houve no primeiro dia é uma coisa que todos tinham que ter feito. Aquilo
que houve no São Paulo e no Rio de Janeiro foi uma violência muito
grande. Acabou dando um grande combustível ao movimento.
Agora, eu acho que tinham que ter tentado alguma mediação. Essa redução
do preço da passagem tinha que ser fruto de um acordo, de uma vitória.
Ter alguma contrapartida para os dois lados?
Para os dois lados. Meu filho está participando das passeatas lá do Rio.
Eu falei com ele ontem à noite e ele disse: "Para mim, não foi vitória
nenhuma. Diminuir R$ 0,20 do preço da passagem." Entendeu? Então, eu
acho que é um fortalecimento desse movimento. Agora, eles têm que achar a
segunda bandeira.
Agora, do jeito que o sr. fala, com a fragilização dos governadores e
dos prefeitos, a impressão que dá é que é ladeira abaixo a
credibilidades dos governantes.
Eu acho o seguinte: Até o final da Copa das Confederações, esse movimento vai crescer. Depois, pode dar uma refluída. Mas, até lá, esse movimento vai crescer. E nós temos possibilidades de até a Copa do Mundo. Não com essa intensidade, a gente continuar tendo até o ano de 2014 muitas manifestações.
Eu acho o seguinte: Até o final da Copa das Confederações, esse movimento vai crescer. Depois, pode dar uma refluída. Mas, até lá, esse movimento vai crescer. E nós temos possibilidades de até a Copa do Mundo. Não com essa intensidade, a gente continuar tendo até o ano de 2014 muitas manifestações.
Que é um ano eleitoral, inclusive.
Vai ter um ascenso do movimento de massas. Essa vitória... Talvez pouca
gente esteja calculando isso. Essa vitória que os manifestantes
construíram vai dar muita força á eles. Muita força à eles. E eu acho
que as respostas dos governos teriam que ser entrar na pauta da vida das
grandes cidades. E a vida nas grandes cidades é o seguinte: É a pauta
da mobilidade, da segurança pública, da saúde e da educação. Não é?
Os partidos deveriam entrar nessa pauta. É isso?
Têm que entrar nessa pauta. Tem que ter investimentos massivos em
transporte público. Tem que ter uma coisa mais coordenada que responda
uma ânsia desse pessoal.
Mas, as pessoas... A impressão que eu tenho é que elas hoje,
sobretudo as do movimento, querem participar e ter suas vozes ouvidas. E
é difícil conhecer hoje um cidadão brasileiro que expresse o desejo de
ingressar em um partido político. Essa pessoa não existe. Por quê?
Eu acho que o partido virou coisa de eleição agora. Entendeu? Virou coisa de eleição. Tem gente que tem as suas preferências no período eleitoral. Mas deixou de ser instrumento de mobilização das ruas. Até porque os nosso partidos de esquerda chegaram ao poder e estão aí há dez anos. E houve um afastamento, principalmente desse contato com a juventude.
Eu acho que o partido virou coisa de eleição agora. Entendeu? Virou coisa de eleição. Tem gente que tem as suas preferências no período eleitoral. Mas deixou de ser instrumento de mobilização das ruas. Até porque os nosso partidos de esquerda chegaram ao poder e estão aí há dez anos. E houve um afastamento, principalmente desse contato com a juventude.
O sr. já foi do PCdoB, do PSTU e do PT agora, desde 2001. Por que
aconteceu isso com os partidos, sobretudo com o PT, que é o seu partido
atual?
Eu acho que houve um descolamento nesse momento. Veja bem, o PT é um
partido que tem uma ligação grande com o povo brasileiro, principalmente
o povo trabalhador. O presidente Lula... Eu vejo isso em tudo que é
pesquisa que a gente faz, há uma confiança desse povo, dos trabalhadores
brasileiros, na figuram em especial do presidente Lula e do PT também.
Mas a presidente Dilma parece que não desfruta desse mesmo prestígio.
A presidente Dilma, eu acho, está em uma boa...
Embora seja mais bem avaliada que o Lula na mesma época.
É com 55% de "ótimo e bom". Isso é muita coisa, Fernando.
Mas por que ela, durante o governo dela, pelas informações que a
gente tem, não fez o mesmo esforço do seu antecessor para manter esses
vínculos com os movimentos sociais?
Porque é outra característica. Não dá você querer... O Lula surgiu dos movimentos sociais. O Lula coordenou e liderou todas as grandes passeatas desse país. Surgiu da luta dos trabalhadores no ABC paulista. Então tem outra característica. É natural que a relação de Lula com os movimentos socais seja de... O Lula conhece todo mundo pelo nome.
Porque é outra característica. Não dá você querer... O Lula surgiu dos movimentos sociais. O Lula coordenou e liderou todas as grandes passeatas desse país. Surgiu da luta dos trabalhadores no ABC paulista. Então tem outra característica. É natural que a relação de Lula com os movimentos socais seja de... O Lula conhece todo mundo pelo nome.
Mas aí não seria até uma razão para que se ela se esforçasse mais então?
São características diferentes. Agora, eu acho que a presidente está
muito bem avaliada. 55% de "ótimo e bom". Acho que essas passeatas não
estão sendo passeatas contra a Dilma. Pelo menos lá no Rio de Janeiro
eram muito mais em cima de problemas regionais. A cobrança era muito
mais às autoridades estaduais do que ao governo federal.
É claro que é um movimento contra tudo também, não é? Mas eu acho que a
presidente Dilma está em um patamar de popularidade bastante
confortável. 55% de "ótimo e bom" é muita coisa.
Será que esse movimento deve acabar desembocando em alguma coisa mais
orgânica mais adiante, ou não? Ou é impossível dizer hoje em dia?
Eu acho que o movimento é igual as redes sociais. Nas redes sociais,
várias pessoas falam sobre vários temas ao mesmo. Esse movimento tem
essa cara nova. E nós temos que entender isso. E, nas redes sociais,
como é que é se disputa? Você vai para dentro do movimento, levanta as
suas posições. Um puxa para um lado, outro puxa para outro lado até se
construir um consenso. O forte desse momento é que teve um consenso. Na
verdade, dois consensos: transporte público e essa coisa dos eventos. Eu
acho que aqui houve um descolamento de todos os governos de uma
realidade. E da vida das pessoas. Você pode fazer pesquisa porque eu fiz
no Rio.
Vamos voltar ao PT. Por que o PT não percebeu isso, com suas ligações
tão fortes com os movimentos sociais, que isso estava chegando?
Porque está distante.
Quem que errou no PT?
Não. Na verdade, o seguinte: A lógica de estar nos governos acaba
distanciando de uma pauta mais real da vida das pessoas. Eu estou
sentindo essa pauta no dia a dia, Fernando. Eu estou fazendo no Rio -
até porque quero ser candidato a governador no próximo ano - caravanas
da cidadania. Estou rodando toda a Baixada Fluminense, São Gonçalo, os
bairros da periferia, do subúrbio do Rio de Janeiro, e eu já sabia dessa
pauta. Eu já sabia do descontentamento com esses eventos. Que um certo
consenso que estava se criando que isso é um absurdo, um erro se gastar
bilhões nisso. Eu sei do descontentamento que existe na metrópole do Rio
de Janeiro, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Só que eu acho
que isso é nacional. Essa classe média que conquistou muita coisa, essa
nova classe média, agora quer melhorar a saúde, quer melhorar a sua
vida. E essa pauta é que a gente tinha que estar mais antenado.
Ou seja, o que houve de conquistas nos dez anos de governo Lula e Dilma
não basta mais. Nós quase estamos encerrando uma fase de acabar com a
miséria absoluta no país. Muito bem. 40 milhões entraram na classe
média. Muito bem. Qual é a pauta que estão impondo para a gente do PT
também? A gente tem que ser um porta voz dessa pauta. É uma pauta da
vida nos grandes centros urbanos, a luta contra a desigualdade, a luta
para melhorar a saúde.
Então, essa é a nova agenda. Se nós do PT ficarmos na agenda antiga dos [últimos] dez anos, nós vamos ser superados.
Mas a gente fala isso para pessoas do governo, do PT, que é o seu
partido, aqui em Brasília, e eles despejam números e números sobre
programas do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], Minha Casa
Minha Vida, e mobilidade urbana e o que o governo está fazendo e dizem
que estão atentos a tudo isso. Eles estão "míopes"?
Não. Tem que sentir mais a realidade. Por exemplo, obras da Copa lá no
Rio de Janeiro. Metrô de Ipanema para a Barra? Aí, outra. Qual é o
legado? BRT [Bus Rapid Transit]. Sai da onde? Sai do aeroporto Galeão e
vai para a Barra da Tijuca. O que o povo acha? Estão fazendo obras para
os turistas. Eu não consigo entender. Um BRT do Galeão... Entendeu?
Então, tem um descolamento dessa vida real das pessoas.
O sr. não acha que, no plano federal, o governo da presidente Dilma,
que o sr. mencionou, ainda tem 55% de avaliação positiva, deveria se
preocupar mais em ter agentes dentro do governo que pudessem se conectar
com esses anseios populares?
Eu acho que sim.
Por que não tem?
Deixe eu te falar aqui, olha. O PT tem uma grande liderança, que é o
presidente Lula. Tem uma liderança da presidente Dilma. Agora, o PT não
está enraizado nas cidades, você veja, nos estados de forma mais tão
intensa assim. Não é assim. Não é essa grande máquina. Eu digo o
seguinte: Eu, no Rio, estou sentindo isso...
Mas, no Rio, historicamente, o PT nunca foi tão robusto como em outros lugares, não é?
O PT no Rio, no passado, tinha uma influência maior na classe média.
Agora não. Nós construímos influência nessa turma. Nós construímos
influência nessa região metropolitana do Rio. Então, eu estava sentindo.
Eu estava sentindo essa coisa.
Então, eu acho que falta... Não dá para pensar que o PT é aquele partido
completamente enraizado, que a gente vai... Houve um descolamento, eu
acho também, em relação a esse sentimento que está existindo.
A direção do seu partido precisa acordar mais para isso. É isso?
Eu acho que o presidente [do PT] Rui Falcão fez uma boa nota, que soltou
no dia de ontem, defendendo essas manifestações, aconselhando os
prefeitos a reduzirem o preço das passagens e chamando atenção da
necessidade dessa próxima pauta, dessa nova frente de diálogo. Mostrando
que, se ficarmos presos à pauta dos últimos dez anos, esse não é o
caminho correto.
O PT hoje tem essa ligação com o povo. Eu acho que a grande bandeira
agora, depois do fim da miséria, tem que ser essa bandeira de luta
contra a desigualdade e melhora dos serviços públicos.
Mas, me corrija eu estiver errado, o presidente nacional do PT, Rui
Falcão, parece que sugeriu também que o partido vá para as ruas e se
manifeste a favor disso. Tem clima para isso?
Eu acho o seguinte: Eu acho que nenhum partido político... Agora, todo
partido político tem que ter cuidado quando aparecer. Quem chegar a
reboque nessas manifestações não vai ser bem recebido. Sejam entidades
ou partidos políticos. Agora é necessário muita prudência. O movimento
surgiu sem apoio dos partidos e das entidades, não é? Ganhou força.
Então, agora, acho que os partidos e entidades têm que ter cautela
porque quem chegar agora querendo surfar na onda, não tenha dúvida que
será repreendido pelo movimento. Agora que eles estão fortes. Agora que
conquistaram uma vitória como essa. Uma vitória gigante. Agora vem para
cá todo mundo? Então, eu ponderaria. Diria a todos: "Tenham calma." O
movimento não está aceitando ninguém impor suas bandeiras, nem partidos,
nem setores de...
Por que a UNE está tão sumida desse tipo de movimento?
A UNE está pagando o preço dos partidos de esquerda estarem no governo
nesses dez anos. Perdeu um pouco o tom que tinha a frente da rebeldia e
ficou para trás na convocação desses movimentos, não é? Não dá para ela
agora querer assumir a frente disso.
Agora, eu volto àquilo que eu falei, Se não existissem redes sociais...
Porque é como se a UNE não fosse tão necessária. Porque, antigamente,
para ter uma passeata, a UNE tinha um papel, que era de coordenar, de
ajuda a organizar. Agora, é como se não precisasse mais da União
Nacional dos Estudantes para chamar esses protestos.
Mas a UNE se acomodou ou não?
Eu acho que sim. Eu acho uma pena. Eu gosto muito da UNE até por ter
sido ex-presidente. Eu acho que a UNE tem bandeira, tem uma história
bonita de luta contra a ditadura militar.
Mas está acomodada hoje ou não?
Eu acho que sim. Perdeu o bonde. Perdeu o bonde. Também não adianta
agora querer assumir o controle, tomar a frente do protesto porque os
estudantes não vão deixar.
Esse recado de contra tudo e contra todos pega um pouco a mídia. A
mídia foi hostilizada em vários locais pelos manifestantes. Qual é a sua
avaliação sobre isso?
Eu acho que não dá para ter todas as conclusões. Mas essa coisa do
Brasil cartão postal, dos eventos, de certa a forma, a mídia expressa
muito isso. Eu acho que tem essa contestação, entendeu? Eu acho que
essas manifestações são manifestações muito progressistas e o que é
muito interessante, Fernando, com a ligação com a realidade muito forte.
Entendeu? Com a realidade muito forte.
Então, o protesto contra decisões dos governos em relação a esses
eventos e também da mídia. Eu acho que a mídia expressa muito isso. Esse
Brasil do cartão postal. Esse Brasil que está eufórico com a realização
desses eventos. E esse não é o sentimento das massas.
Agora, eu não sei dar todas as respostas. Porque a gente tem que ir
aprendendo muito. Esse movimento aqui... O interessante para a gente que
acompanha, e eu sou um torcedor dessas passeatas, é que é algo
diferente do que acontecia tradicionalmente. A gente fica olhando cada
dia para ver o que acontece. Eu não sei o que vão ser as passeatas
[futuras]. Sei que vão ser grandes. As passeatas do dia de hoje... Então
a gente tem que ir aprendendo também com essa nova dinâmica, que eu
acho que veio para ficar. Não é uma coisa só de agora. As manifestações
do futuro eu acho que tendem a ser dessa forma. Por isso, eu coloco
muito papel das redes sociais. É claro que não é só chamar pelas redes
sociais. Tem que ter o clima. Tem que ter uma bandeira que unifique. Mas
eu acho que, cada vez mais, as direções vão ter um papel menor na
condução dos movimentos sociais. Essa é uma característica.
As direções dos movimentos?
Dos movimentos. Essa é uma característica não só do Brasil. Do mundo inteiro.
Agora, quem é que vai mediar e tornar realidades os anseios de quem participa?
Isso é mais complexo. A gente tem que aprender no processos.
Qual que é o seu palpite? Porque, do jeito que aconteceu, foi uma
vitória, evidentemente, de quem foi para a rua. Uma vitória muito
grande. A tarifa baixou. Dos ônibus, do transporte público. Agora, se
nós todos entendermos que esse é o caminho, a chance de acontecer alguma
demanda que não seja, de fato, tão boa e que, enfim, os governos se
sintam obrigados a atender, também não vai ser uma situação ideal.
É. Mas, em movimentos como esse, é o seguinte: Você tem posições mais
distintas possíveis. Mas, para unificar todo mundo, tem que ser uma
bandeira muito forte e consensual. Baixar o preço da tarifa foi,
entendeu? Quando eu falava do salário do professor, salário do professor
seria. Grupos que tenham determinadas posições mas que não sejam
posições que construam esse caminho do consenso, não vai ter muito
espaço. Vão levantar as bandeiras dele, mas não são bandeiras aceitas
pelo coletivo de forma de se impor de forma consensual.
Eu acho que o grande desafio dessa turma agora é achar o segundo mote.
Se achar um segundo mote forte... Lá no Rio tem lideranças aí. Por
exemplo, no caso do Rio, eu diria o seguinte: tem uma liderança, que foi
candidato a prefeito contra o Eduardo Paes, chamado Marcelo Freixo. Eu
diria que uma parcela grande daquela juventude tem uma referência de uma
liderança nova no Rio de Janeiro com Marcelo Freixo. O PSOL tem uma
certa liderança no Rio. Então, você veja que não é de todo dizer que
[que os partidos] não tem força alguma, [que o novo movimentos não tem]
liderança alguma, que é contra todos. Eu não sei se é bem assim.
O sr. é presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, a CAE, do
Senado. E, agora nesta semana, começou a andar um projeto que concede
benefícios fiscais para empresas do setor de transporte público. Por que
isso aconteceu? O governo pediu? E isso vai ser necessariamente a saída
que o Congresso poderá oferecer para tudo isso? Ou não?
Olha, esse é um projeto que tramita há três anos na Câmara, passou em
todas as comissões da Câmara, depois em duas comissões no Senado e está
em caráter terminativo na Comissão de Assuntos Econômicos. É um projeto
que o relator na Câmara foi o deputado Zarattini [Carlos Zarattini do
PT-SP], que fez um trabalho perfeito. É um projeto que estrutura muito o
setor. Você cria uma desoneração federal, mas o estado e os municípios
teriam que aderir fazendo desoneração estadual e municipal. Se cria uma
cadeia.
Mas o mais interessante não é isso. É que você cria uma figura, que é a
figura da abertura da planilha das empresas de ônibus. Porque
aconteceram muitas desonerações. Infelizmente, o preço da passagem não
abaixou. Aquilo virou lucro para os empresários. O projeto também faz
outras condicionantes. Tem que ter licitação. 95% das linhas de ônibus
não são licitadas. Isso afeta a qualidade. Então o projeto diz o
seguinte: Para receber essa desoneração, tem que ser feita a licitação.
Teria uma consequência muito interessante, que é colocar esses
movimentos, inclusive, pressionando as prefeituras para que tenham
licitação, para que abram as planilhas.
Então, esse é um projeto muito difícil de ser aprovado, Fernando. Por
quê? Porque tinha resistências. Ninguém quer abrir mão de receita.
Estado, município, governo federal. É sempre muito tenso.
Mas, veja só. Esses benefícios fiscais... eles vão tirar dinheiro de
algum outro setor no qual o governo vai deixar de investir. E como o sr.
mesmo disse, já houve inúmeros benefícios fiscais. Por que o governo,
ou os governos não podem simplesmente exigir planilhas abertas criar
localmente regras de licitação. Por que tem de ser o Congresso que tem
de fazer?
Hoje isso não existe. Agora, essas desonerações... Muitas foram feitas
sem ter essa exigência de olhar a planilha e fazer a redução do preço.
Isso não aconteceu. Agora, eu acho que é justo ter essas desonerações
todas. Sabe por quê? Porque transporte público é o que o público mais
precisa. São os trabalhadores. Isso afeta tudo.
Agora, o projeto eu diria o seguinte. Esse projeto era impossível de ser
aprovado. Passou a ter condições de ser aprovado a partir das
manifestações. Mas ontem [19.jun.2013] o ministro Mantega já disse que
por parte do governo federal as desonerações já foram feitas. Houve a
redução do preço das passagens. Então, de fato, nós estávamos fazendo um
esforço para votar na terça-feira [25.jun.2013], mas não conseguimos
ainda construir esse acordo...
Então, possivelmente...
...com o governo federal e com os governos dos Estados. Então o dia de
ontem... O desfecho do dia de ontem não foi um bom desfecho nesse
sentido.
Possivelmente o projeto vai aguardar mais um pouco?
É... Está difícil de colocar em votação. Nós não conseguimos acordo nem com o governo federal nem com os governos dos estaduais.
Toda vez que a gente entra nessa história de números e benefícios
dados, concedidos, essas coisas todas, é muito difícil de entender. E a
impressão que se tem é nem o governo propriamente tem números precisos.
Vou dar um exemplo aqui. A ministra Gleisi Hoffmann, antes agora da
redução das tarifas, deu uma entrevista dizendo: "Olha, já demos todos
os benefícios fiscais e com isso os ônibus em São Paulo poderiam ser
barateados em 23 centavos." Aí em seguida vem o prefeito de São Paulo,
que é do mesmo partido da Gleisi, Fernando Haddad, do PT, e diz: "Não,
está errado. Nós já consideramos todos esses benefícios e o preço tem de
ser R$ 3,20. Seria populismo diminuir o preço." Chega de tarde, o
prefeito Fernando Haddad, junto com o governador Alckmin, concedem o
desconto e baixam para R$ 3,00. Há uma bateção de cabeça e uma falta de
governança dentro do governo a respeito desses números?
Olha só, o Fernando Haddad, quando falou, ele estava certo. Porque ele
já tinha colocado aquilo no cálculo. Na verdade, a passagem ia subir
mais em São Paulo. Eu acho que vai ter um problema agora. A Prefeitura
de São Paulo, você sabe...
...vai pagar isso?
Vai pagar. Por isso que eu defendi a proposta desse projeto. Que é um
projeto de uma solidariedade federativa. Envolvia-se o governo federal, o
estadual, ajudando as prefeituras. Eu acho que era o melhor caminho.
Porque a situação fiscal de São Paulo não é simples. O Fernando Haddad
tem um grande desafio pela frente. Ele tem uma capacidade de
investimento pequena. E ele teve de reduzir o preço da passagem. E vai
ter um impacto violentíssimo.
Eu acho que tem de ter uma solidariedade federativa. Sinceramente, eu
acho que o governo do estado de São Paulo e o governo federal têm que
entrar nisso. Qual o problema das desonerações feitas anteriormente?
Porque não basta todos os setores - estou convencido disso - não basta
dar desoneração sem exigir na ponta que o preço caia, sem cobrar. Às
vezes, vira lucro para o empresário. A desoneração da cesta básica não
bateu do jeito que era para bater.
Mas isso aí é culpa mais do governo do que dos empresários. Porque o
espírito do empresário, seja ele qual for, é para ganhar dinheiro. Ele
vive de ganhar dinheiro...
Então, eu acho que tem de amarrar mais essas desonerações todas...
Mas por que o governo não faz isso?
Não tem instrumentos. O governo federal hoje não tem instrumentos. Hoje,
é o município. Controlar o preço da passagem é o município.
Mas o sr. falou da cesta básica. Isso aí foi um benefício que o governo federal concedeu...
Eu acho que tem de estar atento a isso em tudo. Não é simplesmente
desonerar e achar que vai ter impacto do outro lado. Não está
acontecendo isso.
*[O governo] faz de maneira destrambelhada essas desonerações? São
bilhões e bilhões de desonerações nos últimos anos e a impressão que
muitos têm é que os maiores beneficiários disso são os empresários
desses setores que receberam as desonerações.*
Eu prefiro muito mais, do que as desonerações, os investimentos. Todo
mundo prefere. Porque ali você tem certeza. Se você utilizar aquele
recurso que você está desonerando a empresa, você fazer um investimento
público estruturante, aquilo é injeção na veia da economia. No momento
de crise em que você faz a desoneração, e é um momento que tem baixa
demanda, tem uma expectativa ruim, o que que muito empresários fazem?
Isso que você falou. Guardam e não investem. Eu prefiro, do que a
desoneração, nós concentrarmos mais em investimentos.
Por que eu estou perguntando isso? Porque foram muitas desonerações
e, aparentemente, o efeito, pelo menos no crescimento da economia, não
foi aquele que a equipe econômica da presidente Dilma esperava. Existe
um mito da alta capacidade gerencial do governo federal, da presidente
Dilma. É um mito isso?
Eu acho que a presidente Dilma está muito bem, viu Fernando? Eu gosto do
estilo dela. Muita gente reclama no Congresso, mas reclama, às vezes,
pelas qualidades dela, que não abre, como alguns partidos e alguns
políticos...
Mas por que não funcionam as medidas como ela diz, e o ministro Mantega diz também, que vão funcionar?
É que não é simples. É que não é simples, mesmo. No cenário de
desaceleração econômica com o do ano passado, você ter de tomar medidas
ali, em cima... Nós tivemos 0,9% de crescimento. Crise econômica
internacional.
Eu acho que nós temos de aprender com as lições. A desoneração, do jeito
que foi feita, não teve aquele impacto, como você bem falou, na
economia. Eu priorizaria grandes investimentos. Agora, nós estamos
falando de mobilidade, coisa de metrô, ampliação de metrô nos grandes
centros urbanos. Eu acho que isso, sim, é injeção na veia da economia.
Eu acho que o governo tem de estar atento nessas novas desonerações a
fazer exigências e contrapartidas do outro lado. Esse é um aprendizado
da história.
Estou querendo evoluir e chegar no Rio de Janeiro, mas eu esqueci de
fazer uma pergunta aqui ainda sobre os movimentos. O PT está no governo
há dez anos e foi construindo, ao longo de dez anos, uma aliança
política e ideológica muito ampla. Está com quase todo espectro político
dentro do governo. Tem desde o PP, um partido que deriva da Arena, da
ditadura, de Paulo Maluf apoiando a presidente Dilma. Tem partidos de
esquerda. Tem partidos com cunho religioso, que são contra gays. Tem de
tudo dentro do governo, apoiando o governo. Essa geleia geral contribuiu
para esse desalento nos manifestantes de rua contra os partidos?
Eu acho que não. O que contribuiu foi a distância do mundo real, e da
pauta real da vida das pessoas. O que contribuiu, volto a dizer, fora
essas novas exigências dessa classe média que está surgindo. Dessa
juventude que está indo para a universidade...
As pessoas não prestam atenção se o Maluf ou o pastor anti-gay está no governo?
Eu que não é a questão determinante. Não é a questão determinante. É
claro que é necessário fazer uma reforma política neste país. E o
problema é o tempo de televisão, viu. Enquanto a gente tiver essa lógica
que para ter tempo de televisão você tem de aglutinar o maior número de
partidos. Eu quero ser candidato a governador do Rio. Estou
enlouquecido e preocupado com a televisão. Com o tempo que eu vou ter
para disputar a televisão. Enquanto não resolver isso, fazer uma reforma
política estruturante, eu acho que nós vamos ter esse vale tudo de
todos os candidatos atrás de somar o maior tempo de televisão para a
disputa eleitoral.
Seria possível que esse movimento de rua, na sua interpretação,
conseguisse traduzir toda essa necessidade de reforma ou aperfeiçoamento
do sistema e fizesse disso uma bandeira? Ou é muito difícil de ser
compreendido?
Em relação à reforma política?
É que não é uma bandeira muito simples, não é? Baixar [a tarifa de
ônibus] de R$ 3,20 para R$ 3,00, todo mundo entende. A passagem de
ônibus. Agora, falar reforma política e tempo de televisão ninguém
entende...
Reforma política está fora dessa pauta aí. Eu acho que a pauta que esses
caras podem ajudar, os manifestantes, é o seguinte: é colocar a pauta
real da vida do povo no centro do debate político. Qual é pauta real?
Qualquer pesquisa diz. Saúde. Transporte. Esse pessoal... Eu estou
rodando muito, Fernando. Esse pessoal está dizendo isso.
Mas sem um sistema político-partidário dentro do establishment, como a
gente conhece, melhor... Não vai ter saúde melhor nem educação. Porque
quem vota são os deputados e os senadores eleitos por esse sistema
ultrapassado e obsoleto.
Eu acho que esse povo pode impor das ruas uma pauta, que vai ser uma
pauta discutida nessas próximas eleições, que pode redirecionar o debate
político. O debate político, em São Paulo e Rio, vai ser a vida na
metrópole. Como é que está a situação do jovem? Acesso à cultura?
Mobilidade, que eu já falei. Saúde. Deixa eu te falar. Saúde o povo vai
impor essa pauta goela abaixo em algum momento. Qualquer pesquisa que
você faz em qualquer cidade do Brasil a saúde é o ponto mais grave. Vai
chegar um momento que um candidato a presidente vai dizer: 'Olha, saúde
vai ser a prioridade do meu mandato. Eu vou resolver isso dessa forma.
Vou trazer tanto a mais de investimento'. Eu acho então que a grande
lição dessa coisa das manifestações é impor essa pauta da vida real para
os governantes. Porque os governantes estão distantes.
O sr. falou que deseja ser candidato a governador do Rio. Em 2010, o
PT, o seu partido, apoiou o atual governador, Sérgio Cabral, para que
ele fosse eleito. Por que agora o PT ficaria separado do PMDB?
Porque nós não vamos ficar eternamente a reboque do PMDB no Rio. Nós não
nascemos para isso. E nós hoje temos uma candidatura muito mais bem
posicionada do que a candidatura do PMDB. Eu diria o contrário. Nós já
abrimos mão em 2010. Aquele era um caso de reeleição do governador
Sérgio Cabral e aquele era um momento diferente. O governador estava bem
avaliado, o presidente Lula entrou em campo nisso. Nós, naquele
momento, recuamos. Mas nós não aceitamos virarmos reboque 'ad eternum'
do PMDB no Rio de Janeiro. Nós temos um outro projeto. Nós temos
posições distintas sobre vários temas do Rio, sobre esses assuntos que
nós estamos discutindo aqui.
Mas essa é uma forma de ver as coisas. A outra forma de ver é:
existe, no plano federal e nos planos estaduais, as 27 unidades da
federação, acordos que foram feitos e que em certa medida têm vasos
comunicantes entre si e que fazem chegar até a eleição do presidente da
República. O caso do Rio, o caso de outros Estados, há acertos prévios
entre PT e PMDB. Até porque, no plano federal, a presidente Dilma, do
PT, o vice-presidente, Michel Temer, é do PMDB. Não seria o caso de
esperar a próxima rodada em 2018 pra garantir a reeleição da presidente
Dilma?
Não, de jeito nenhum. O PMDB tem um projeto para o Rio super hegemônico,
eles tem candidato em 2014, 2018 já é o Eduardo Paes, eles têm o
projeto deles lá. E deixa eu te falar, qual é o Estado do Brasil que
está havendo essa discussão da forma como estão colocando no Rio?
Nenhum. O PMDB, onde quer, está lançando candidato. E o PT também. Em
São Paulo o PMDB vai ter a candidatura do [Paulo] Skaf e o PT vai ter a
candidatura dele. Na Bahia o PT é governo e o PT vai ter candidatura.
Todo lugar que o PT é governo o PMDB tem candidato.
Mas já tinha antes, no Rio Grande do Sul já teve e vai continuar a
ter. Era um acerto que foi feito. Em 2010, os dois tiveram, agora os
dois vão ter de novo no Rio Grande do Sul. No Rio de Janeiro é
diferente, no Rio de Janeiro só um tinha, agora os dois querem ter, se o
sr. for candidato.
Eu sinceramente nós vamos ter candidatura, é uma decisão nossa lá, eu acho que faz parte da democracia ter disputa de projetos.
Aí a presidente Dilma teria que ter dois palanques, nesse caso.
Já teve, o presidente Lula teve vários palanques...
Mas não no Rio.
No Rio também. Teve uma eleição que o Lula teve...
Com a Dilma em 2010?
2010 não teve. Foi só Sérgio Cabral. Na eleição anterior do Lula teve
[Marcelo] Crivella, teve Vladmir Palmeira, o Lula ia num palanque uma
hora, em outro palanque outra hora. Em Pernambuco teve Humberto Costa e
Eduardo Campos.
E em 2014 no Rio, ao seu juízo, seriam dois palanques. O seu e o candidato do PMDB?
Talvez mais do que dois. Miro Teixeira está colocando a candidatura
dele. Do PDT, da base. O Garotinho é candidato. Não sei se vai apoiar a
Dilma. Então, ela pode ter um conjunto de palanques. O problema não é
ter vários palanques, o problema é não ter palanque. E essa não é a
situação.
Agora, veja bem. Um clima desse no Rio de Janeiro, manifestações nas
ruas, do ponto de vista eleitoral, o melhor caminho pra Dilma não é ter
um palanque só com o Pezão. É preciso dialogar com isso que está
surgindo também. Ter candidaturas de perfis diferentes, eu acho que
ajuda muito a construção da candidatura da Dilma.
Dentro do seu partido, até onde eu saiba, não há uma pacificação
total sobre o fato de o sr. desejar ser candidato. No Rio de Janeiro, o
PT tem 11 prefeitos, não é isso? Nas cidades ali do Rio de Janeiro. E
nem todos eles, ou a maioria parece que dizem que é precipitado lançar
sua candidatura. O que é que está acontecendo?
Primeiro, o seguinte. Minha pré-candidatura foi aprovada por unanimidade
no diretório regional do PT. Todos os deputados federais, Molon,
Benedita da SIlva, Luís Sergio, Edson Santos, Jorge Bittar, todos os
deputados estaduais com a minha candidatura.
Agora, o governo, as prefeituras dependem muito do governo. Tem aquela
pressão, eu tenho ligado para os prefeitos e dito o seguinte. Olha, vão
lá, façam a reunião, você tem que pensar primeiro na sua cidade. Tem um
prefeito, que é o de Niterói, que hoje é muito ligado ao governador
Sérgio Cabral. Esse prefeito, de fato, vai apoiar, deve apoiar o
candidato do PMDB. O resto, não. O resto dos prefeitos estão preocupados
com sua cidade, quando o governador chama, eles vão lá. E eu não estou
preocupado com isso. Eu acho que eles têm que concentrar nisso.
E eu queria passar aqui para você, Fernando, com muita clareza e
convicção. Essa é uma decisão nossa. Nós vamos ser candidatos mesmo. E
eu vejo um chororô antidemocrático. Porque, veja bem, nós estamos na
frente nas pesquisas. Querer tirar o candidato que está na frente,
querer impor de cima a baixo, eu acho que tem que disputar. Se eu puder
dizer alguma coisa ao PMDB, é o seguinte: "Nos deixem em paz. Construam a
candidatura de vocês, falem do que vocês fizeram, e deixem a gente
seguir o nosso caminho." Nós não queremos fazer uma campanha, nem vou
fazer, agressiva, contra o governador do Estado. Nós vamos ter uma
relação respeitosa, eu quero discutir problemas, soluções, já disse isso
ao presidente Lula, não vou ficar atacando o Sergio Cabral, não é essa a
minha linha. Mas a gente tem o direito de apresentar nossas propostas.
O atual governador do Rio, Sérgio Cabral, do PMDB, tem sugerido que
fica em risco a aliança nacional com o PT se o PT lançar candidato
próprio a governador do Rio. É isso mesmo?
Falou isso, depois deu uma recuada. Na verdade, eu faço uma pergunta a
vocês. Quem é que precisa de quem nisso? É a Dilma que precisa do Pezão
ou é o Pezão que precisa da Dilma? A avaliação do governo da Dilma no
Rio de Janeiro é 57% de ótimo e bom. Do governo do Estado, é 32%. Na
verdade a candidatura do PMDB precisa da foto do Lula e da Dilma pra ir
disputar votos na região metropolitana do Rio.
Quando o PMDB fala isso, é o que, é um blefe então?
Eu acho, eu acho que o povo não entenderia, de forma nenhuma, o PMDB no
Rio não se engajar na campanha da Dilma. Se eles fizessem isso, estariam
cometendo um suicídio político. Eu volto a dizer, eu acho um chororô
desnecessário, antidemocrático, e digo mais, eles estão acabando nos
ajudando, porque as pessoas não gostam disso. As pessoas querem ter
alternativas. Eu estou andando nas ruas do Rio, as pessoas dizem o
seguinte: não desista, vá em frente.
Por falar em alternativas, no plano federal o sr. acha então que é
bom ter alternativas, por exemplo, Eduardo Campos pertence à base do
governo e quer se lançar. É bom que ele se lance?
Eu acho bom que tenha debate, o máximo de debate na eleição
presidencial, eu gosto muito do Eduardo Campos, eu acho que é uma perda
pra base porque o Eduardo e o PSB têm boas contribuições. Se fosse
apoiar a Dilma, seria muito bom, mas é uma candidatura que eu acho que
contribui com o debate politico deste país. Eu acho que... sou contra PT
colocar Eduardo Campos como inimigo, de forma alguma. Temos que fazer
uma disputa com cordialidade. Vamos apresentar os nossos projetos, ele
os deles, mas deixando a porta muito aberta pro Eduardo Campos.
Dos pré-candidatos a presidente da República, quem que o sr, acha,
com a sua experiência, do passado, de ter feito manifestações também,
como as atuais, vai ter condições de se conectar mais com esses anseios?
A resposta você sabe: Marina. É claro que é a Marina. A Marina e a
própria ideia do partido, Rede, tem a ver com tudo isso, entendeu? Essa
juventude aí se identifica muito com ela, acho que a Marina, no plano
nacional, digamos assim, tem tendência de se aproximar muito dessa
coisa, dos manifestantes.
O que isso significa? Ela tem chances de surpreender e ganhar?
Eu acho muito difícil, acho que o jogo, enquanto nós tivemos essa
aprovação, a minha tese é o seguinte: quem tiver acima de 45% de ótimo e
bom, de avaliação presidencial, parece meio esquemático dizer isso, não
perde a eleição. Então eu acho que nós hoje nós estamos com... A Dilma
tem 55%, está bem avaliada, eu acho que nós vamos ganhar.
Agora, quem mais pode crescer nisso tudo é a Marina. A Marina pode, o
discurso dela é um discurso meio já antipartido, de organização por
redes, tem muito a ver com isso tudo que está acontecendo. Pelo menos no
Rio, que eu acompanho, quem mais pode se conectar com esse momento é a
Marina.
Os outros dois pré-candidatos do establishment, Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB, menos?
Menos, ah não, menos, porque tem uma coisa de popular nesse processo,
entendeu? Não é um movimento anti-PT, anti-Lula. Você vai lá, faz a
pesquisa lá, você vai ver que tem muito cara dizer.. Ah, Lula, eu estudo
no ProUni, eu entrei por política de cotas, foi o Lula. Só que ele quer
mais, só que ele quer mais, ele quer melhorar a vida dele, entendeu?
Agora, apesar de toda essa aprovação, a presidente Dilma vai ter um
"mamão com açúcar" aí para frente para se eleger por causa disso? Ou
não?
O quadro é um quadro mais complexo. Por quê? Nós temos uma situação na
economia que a Dilma tem que caminhar em uma linha entre inflação e
crescimento. Nem pode jogar tudo para acelerar, preocupação com a
inflação, nem pode dar uma grande pancada na inflação com preocupação no
crescimento porque tem que crescer algo em torno de 3% [ao ano]. Eu
diria que nem tanto inflação e crescimento. Inflação e desemprego. Mas
eu acho que ela tem aqui um caminho bem colocado para se manter em 2014
com tranquilidade. Acho que a inflação não passa de 5,5% esse ano. O
Banco Central está atuando. Acho que vamos crescer perto de 3%, mas,
[quanto ao] desemprego, acho que vai ficar nesse patamar, que é o menor
da história.
Mas, a questão da economia, agora, tem que ter essa atenção. Tem essas
manifestações, que tem que acompanhar. Tudo isso pode influenciar de
alguma forma ao quadro eleitoral. Eu diria que a Dilma, hoje, é franca
favorita. Está muito bem. Mas é um quadro muito instável que se criou
daqui para frente. Não é? Seria diferente se não existisse passeatas,
não existisse crise econômica...
E se abriu um vácuo. Quem está mais apetrechada para entrar nele é Marina [Silva]?
Acho que a Marina... Eu não vejo a Marina ganhando eleição presidencial.
Acho que não tem estrutura partidária, não tem isso, mas...
O Collor também não tinha, não é?
É. Mas tem que ter tempo de televisão. Eu acho que é muito difícil a Marina ganhar uma eleição presidencial.
O Collor também não tinha muito tempo de TV.
O Collor tinha pouco tempo de TV ali [naquela época ?
Pouco tempo. No primeiro turno, pouco tempo. Quem tinha muito tempo foi o Ulysses Guimarães, que teve 3% dos votos.
E Aureliano Chaves.
E Aureliano Chaves.
É. Tinha mais da metade do tempo, quase.
Ulysses Guimarães. Me lembro do jingle. [cantarolando] "Bote fé [no velhinho]..." [risos].
Pois é.
A eleição de 89 foi marcante, não é? Eu acho que a Marina pode crescer,
mas eu, sinceramente, eu estou muito tranquilo e confiante na vitória da
Dilma.
Agora, eu prevejo um cenário de muita instabilidade. Nós estávamos com a
estrada completamente lisa, asfaltada. E, agora, nós vamos ter muita
turbulência daqui para frente.
Não posso deixar de ter perguntar sobre esse caso no Supremo Tribunal
Federal. O ministro Dias Toffoli autorizou a quebra dos seus sigilos
bancário e fiscal no período de 2005 a dezembro de 2010. Só para
recapitular, a decisão do ministro Toffoli faz parte de uma investigação
contra o sr. por supostas fraudes no Fundo de Previdência dos
Servidores Municipais de Nova Iguaçu [Previni] quando o sr. era prefeito
da cidade. O que aconteceu?
Fernando, primeiro deixe eu dizer o seguinte: Não tem problema nenhum
quebrar sigilo. Eu vou disputar essa eleição mostrando sigilo bancário,
fiscal. Esse caso aí...
O que aconteceu?
Primeiro, eu preciso explicar o que acontece antes porque isso é um inquérito. Eu era prefeito. Qualquer ação que existisse no Ministério Público para abrir uma investigação abre um inquérito. Como eu era prefeito, virei senador, vem tudo para o Supremo Tribunal Federal.
Primeiro, eu preciso explicar o que acontece antes porque isso é um inquérito. Eu era prefeito. Qualquer ação que existisse no Ministério Público para abrir uma investigação abre um inquérito. Como eu era prefeito, virei senador, vem tudo para o Supremo Tribunal Federal.
Justo.
Então, veja bem. Não existe nenhum processo ainda porque, depois do
inquérito, o juiz vai olhar, o ministro vai olhar e dizer assim: "Ah, eu
vejo aqui um indício." Aí abre um processo. Primeiro colocar isso, ou
seja, não existe nem processo.
Segundo, explicar esse caso. Veja bem. Era o Fundo de Previdência de
Nova Iguaçu. O que eles falam de rombo era uma dívida da prefeitura com o
Instituto de Previdência. Uma dívida de R$ 400 milhões. R$ 325
[milhões] foram porque o prefeito anterior, na verdade, não pagou a
contribuição patronal para o Instituto de Previdência. R$ 75 [milhões]
meus foi o seguinte: nós fizemos uma antecipação de royalties e
colocamos para dentro do fundo de previdência. O Ministério da
Previdência [Social] disse OK. Só que, mais à frente, o Ministério da
Previdência disse o seguinte: "Não, prefeitura de Nova Iguaçu. Nós
estamos achando que isso aí não é capitalização da previdência. Vocês
estão trocando um recurso por outro recurso." O que a prefeitura fez?
Parcelou os débitos e está pagando. É essa a situação.
Queria também dizer para você o seguinte: O Instituto de Previdência é
autônomo. É independente. Eu não nomeio presidente nem diretor. É como
se existisse uma crise na Petros [fundo de previdência dos funcionários
da Petrobrás] e você colocar, assim, junto da presidência da Petrobrás
ou a presidente da República.
Então, eu estou completamente tranquilo nesse caso. Não tenho preocupação nenhuma. Eu só fico chateado como as coisas são colocadas.
Então, eu estou completamente tranquilo nesse caso. Não tenho preocupação nenhuma. Eu só fico chateado como as coisas são colocadas.
Então, é uma dívida da prefeitura com o fundo e parece que há um rombo.
R$ 400 milhões, entendeu? Claro que eu fico chateado como as coisas
acontecem e pelo jeito que são divulgadas.
A propósito desse episódio, tem também a ex-chefe de gabinete da
Secretaria de Finanças de Nova Iguaçu. O nome dela é Elza Araújo, que
teria dito... Teria, não. Disse em depoimento que o sr. teria montado um
esquema de captação de propina entre empresas contratadas pelo
município. Isso é um depoimento dela. A que se refere isso?
Essa moça trabalhou com o meu adversário na campanha. Nós já abrimos
completamente todo o sigilo. Não existe nada disso. Eu tenho completa
convicção de uma coisa, Fernando. Nunca vai ter nada contra mim porque
uma coisa eu não sou: patrimonialista. Eu comecei garoto na política. E
comecei lutando por transformação neste país. Tenho um filho de 17 anos.
Uma coisa que eu quero - e eu estou construindo minha história na
política do país - é poder olhar para o meu filho e dizer: "Seu pai aqui
é um cara sério que está lutando para mudar as coisas."
Agora, você veja, eu não tenho nenhum processo aceito, não é? A
utilização que fazem de tudo isso... Eu acho que é uma coisa muito
danosa para o homem público porque [com] uma ação do Ministério Público
que não foi nem aceita você faz um carnaval. Utilizando agora,
principalmente, porque eu sou candidato a governador.
Essa moça trabalhou para o candidato adversário. Não há prova alguma.
Então, eu estou muito tranquilo, viu, Fernando? É chato? É chato.
Nesse caso, a história que ela relatou é uma mentira?
Sem pé nem cabeça. Não tem prova de nada. Eu, desde 2007, entreguei o
meu sigilo nesse caso aí. Vou dizer a você, vou entrar na campanha
mostrando o meu sigilo. E eu não aceito. Vou enfrentar esse debate na
campanha eleitoral porque eu não aceito que um bando de patrimonialistas
que fazem político por outros interesses venham me acusar. Eu vou fazer
uma campanha nesse sentido, muito dura no Rio de Janeiro. Mostrando o
meu lado, mostrando as minhas posições, abrindo o meu sigilo...
Porque uma coisa eu sei, Fernando. Te digo aqui com pureza na alma. Eu
não sou patrimonialista. Eu não estou na política para isso. Eu entrei
com uma causa. Eu continuo acreditando nisso: que eu acho que posso ser
um governador do estado do Rio de Janeiro para melhorar a vida desse
povo trabalhador do Rio de Janeiro.
Então, em cada ponto desse nós temos respostas. E eu estou muito
tranquilo porque eles fazem algumas ameaças nesse processo todo. Por que
eu não tenho medo e vou até o fim? Porque eu sei que não tem nada. Eu
estou enfrentando essa batalha. Vou até o fim. Sei que vai ser uma
batalha dura, que eles querem jogar pesado porque eles querem me tirar
do jogo. É como se eu estivesse na frente. Eu tenho que ser retirado,
não é? Estão com plantação de dossiês. A própria revista Época trouxe
uma matéria que dizia que foi entregue pelo PMDB. Eu estou pronto para a
batalha porque eu não devo nada. Vou abrir o meu sigilo, vou explicar
todos os casos.
Senador Lindbergh Farias, do PT do Rio de Janeiro, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Eu que agradeço, Fernando. Muito obrigado.
Fonte: Folha/UOL:
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