Impostometro

domingo, 18 de janeiro de 2015

O que são os xiitas?

O que são os xiitas?

Por Diogo Bercito



Se você é uma dessas pessoas que franzem o cenho e olham para os lados quando alguém comenta a divisão sectária do Oriente Médio, perguntando-se “mas o que são xiitas e sunitas mesmo?“, aproveite que acabo de voltar de uma viagem ao Iraque (leia mais no Orientalíssimo, clicando aqui). Cercado por bandeirolas da peregrinação xiita rumo a Karbala e de imagens de Hussein, neto do profeta Maomé, me senti na obrigação de responder à seguinte pergunta:
O que são os xiitas? São muçulmanos. A resposta parece atravessada, mas na verdade é um detalhe que às vezes foge de vista quando a discussão esquenta. Falamos hoje em divisões e em violência sectária, mas os xiitas e os sunitas são ambos muçulmanos e seguem a mesma religião –acreditando na base do islã de que só existe um deus e Maomé é seu profeta. A diferença é histórica e política, para além das divergências religiosas. Como resumiu a mim um jovem iraquiano durante um café: “xiitas rezam com os braços para baixo, sunitas rezam com os braços cruzados”.
No que eles são diferentes, historicamente?
Na escolha de quem daria continuidade à liderança do profeta Maomé, morto em 632. Maomé havia revolucionado a península Arábica com o livro sagrado que recitara (o Corão), superando as relações tribais pela ideia de uma comunidade religiosa, chamada “umma” em árabe. Mas, quando morreu, Maomé não deixou um herdeiro. Parte dos muçulmanos preferiu que o líder da comunidade fosse escolhido entre seus seguidores (esses são os chamados sunitas). Os xiitas são aqueles que preferiram um líder que tivesse laços de sangue com Maomé (especificamente Ali, seu primo e genro). Os sunitas venceram a disputa e elegeram Abu Bakr, primeiro califa do islã.
Mas é só um detalhe?
Não. É uma perspectiva. Sunitas apostavam, à época, na ideia de um líder por consenso. Xiitas preferiam uma perpetuação por linhagem de sangue. Essa ideia acompanhou os grupos nas décadas seguintes à morte de

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

“Rouba, mas faz”: os eleitores perdoam os corruptos competentes?

“Rouba, mas faz”: os eleitores perdoam os corruptos competentes? 

Publicado por Luiz Flávio Gomes 
 

Vários estudos afirmam que o político que rouba, mas é competente e faz coisas importantes para a população, tem longevidade garantida (tanto no Brasil como em vários outros países do mundo todo). Um exemplo paradigmático disso é Paulo Maluf (que possibilitou a ampliação do nosso léxico, dando ensejo a um novo verbo: malufar). Tais estudos indicam que os cidadãos que assimilam essa ideia (competência ligada à corrupção) reduzem, do ponto de vista psicológico, a tensão associada ao ato de votar em político corrupto. É mais frequente do que se possa imaginar o trade-off (jargão usado na economia para dizer que a escolha de uma opção se dá em detrimento de outra) entre a competência e a corrupção. Para quem tem plena consciência do voto, é deveras indigesto votar num conhecido pilhador do dinheiro público. Mas os eleitores fazem isso pensando nos benefícios que já conquistaram ou no que poderão alcançar, em razão da competência do corrupto.
Julivan Vieira (O Globo 22/9/14) cita o estudo comparativo entre Suécia e Espanha (de 2007) feito por Peter Esaiasson e Jordi Muñoz (da Universidade Pública de Gotemburgo), que tomaram como base o prefeito do município valenciano de Vall d’Alba, que protagonizou um escândalo de corrupção ao desviar a finalidade de 13 propriedades imobiliárias. Propriedades agrícolas foram vendidas indevidamente e usadas para fins residenciais e industriais. O prefeito tirou proveito pessoal nessas transações, mas atraiu investimentos e captou dinheiro para o município; construiu escola, centro médico, capela, uma área industrial, piscina pública, centro de atenção ao idoso, uma nova delegacia de polícia e arena de touradas, reelegendo-se com 71% dos votos. Ou seja: os autores concluíram que os espanhois (assim como os suecos), em determinadas condições, preferem o corrupto competente ao honesto incompetente.
O estudo citado foi inspirado em outro similar feito no Brasil por Winters e Weitz-Shapiro, que chegou a conclusões opostas e inesperadas: os brasileiros pesquisados não priorizaram a competência sobre a corrupção (disseram, inclusive pessoas mais humildes ouvidas, que não votariam num candidato corrupto). Quais as razões da diferença encontrada? Primeira: no estudo de Esaiasson e Muñoz foram fornecidas aos participantes informações mais genéricas, mais vagas, mais neutras (não emocionais), sobre o comportamento corrupto do prefeito. No Brasil essas informações foram mais detalhadas, mencionando-se as vantagens obtidas pelo corrupto assim como os altos custos da corrupção. Segunda: não podemos esquecer que o brasileiro padece de um paradoxo descomunal, tal como evidenciado por Eduardo Giannetti (Vícios privados, benefícios públicos?): temos uma imagem bastante favorável de nós mesmos (autoimagem), ou seja, nos sentimos honestos, honrados e probos nos nossos discursos, mas isso nem sempre se converte em ação concreta. O resultado concreto do todo (do País), que conta com vários políticos corruptos reeleitos, não bate com as partes (as opiniões e os discursos dos eleitores).
De acordo com a hipótese trade-off original (de Rundquist et al. 1977, citados por Esaiasson e Muñoz), os eleitores se envolvem em um cálculo racional (?) de custos e ganhos. Trata-se de um mecanismo psicológico que traz um certo conforto para o eleitor que vota num corrupto. É a famosa relação utilitarista do custo-benefício. Custa muito votar num corrupto que faz muitas coisas, mas os benefícios compensam. Tudo isso seria, na verdade, uma irracionalidade, mas com resultados práticos benéficos. Como isso acontece? De várias formas. Uma delas passa pela chamada “redução da dissonância”, evidenciada por Festinger 1957; Aronson 1969 e Pedra 2000, todos citados pelos mesmos autores, que sugerem que os cidadãos reduzem a tensão psicológica associada a votar em um político corrupto, mas eficiente, minimizando a severidade do delito. Quem faz muito pela população acaba contando com sua benevolência (misericórdia), que vê sua corrupção como menos grave. Há uma negociação (coletiva, psicológica) frente à competência e a corrupção. Quando ela é mostrada de forma neutra (menos onerosa), prepondera o lado da competência. Quanto é revelada de forma dura, nefasta (emocionalmente carregada), predomina a rejeição ao corrupto (tal como demonstrou outro estudo na Suécia, de Klasjna & Tucker 2013). Ou seja: conforme a maneira como se evidencia a corrupção, o “rouba, mas faz” tem aprovação da população. Tudo isso seria fruto de um cálculo racional (?) (conforme demonstração de Rundquist et al. 1977). A existência ou não de bons candidatos alternativos também tem relevância (Kurer de 2001; Caselli & Morelli 2004; Bågenholm de 2011).
Rouba mas faz os eleitores perdoam os corruptos competentes
Saiba mais
O estudo de Matthew S. Winters e Rebecca Weitz-Shapiro (sobre a corrupção no Brasil) evidenciou que quanto mais informação sobre ela, menos tolerante é o eleitor com o desvio do dinheiro público. Os brasileiros têm sofrido muito com a corrupção, inclusive depois da redemocratização. Todos os governos da transição democrática ou da redemocratização foram tachados de corruptos (desde Sarney até Lula-Dilma, passando por Collor, Itamar e FHC). Perguntas diretas da pesquisa sobre as

Boko Haram

Internacional

Entrevista

"Terror do Boko Haram atingiu novo patamar"

O etnólogo Roman Loimeier diz que meta do grupo é espalhar terror entre os civis muçulmanos. O grupo, que surgiu na Nigéria, recentemente atacou Camarões
por Deutsche Welle

Boko Haram  
 Vila atacada pelo Boko Haram em abril de 2013

As ações terroristas do grupo radical islâmico Boko Haram começam a cruzar a fronteira com os Camarões. Em entrevista à DW, o pesquisador Roman Loimeier, da Universidade de Göttingen, comparou a atividade do grupo nigeriano com o conflito mantido pelo "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque. Loimeier analisa as mudanças de fase do Boko Haram nos últimos 12 anos e os motivos das suas investidas cada vez mais violentas contra civis.
Deutsche Welle: O Boko Haram vem espalhando o terror na Nigéria há anos, e as ações têm se tornado cada vez mais violentas. Por que não há um esforço internacional para reprimir a milícia?
Roman Loimeier: Esta é uma questão problemática. As potências internacionais já se deram conta de que o exército nigeriano tem um histórico de vender suas armas para o Boko Haram. É uma piada, é cínico. E os

Clone of Entrevista com Paulo Metri: a mídia, a Petrobras e a geopolítica

Clone of Entrevista com Paulo Metri: a mídia, a Petrobras e a geopolítica 


Divulgação
Metri enxerga uma estratégia geopolítica em torno da baixa no preço do barril e que os últimos governos – tanto tucanos quanto petistas – erraram em fazer tantos leilões de áreas de reservas petrolíferas e de gás natural

Por Rennan Martins,

O ano de 2014 foi marcado por dois acontecimentos que afetam frontalmente a Petrobras, maior e mais importante estatal brasileira. Foram estes a enorme queda no preço do petróleo e a vinda à tona do já antigo cartel e propinoduto que azeitava executivos de empreiteiras, altos funcionários e partidos políticos.
Chamado de “petrolão” por razões puramente propagandísticas, o que vimos foi o uso indiscriminado deste esquema para explicar todo e qualquer fato negativo que envolvesse a Petrobras. Bastante clara também foi a tentativa de emplacar no atual governo federal toda a culpa por esse esquema atuante desde no mínimo a década de 90.
A fim de trazer uma informação contextualizada e menos influenciada por interesses escusos, o conselheiro do Clube de Engenharia e colunista do Correio da Cidadania, Paulo Metri, concedeu uma entrevista.
Atento a toda a movimentação nacional e internacional do setor, Metri enxerga uma estratégia geopolítica em torno da baixa no preço do barril, considera que o risco de sanções judiciais influencia nas ações da estatal e

A monstruosidade de Belo Monte e descalabro em Altamira que Dilma não teve coragem de ver

A monstruosidade de Belo Monte e descalabro em Altamira que Dilma não teve coragem de ver

 Foto: Arquivo/Xingu Vivo Em entrevista, D. Erwin Kräutler questiona: "Por que os teólogos não aproveitaram a audiência com Dilma para unir-se aos povos indígenas no grito uníssono de “Demarcação já!”?


Por Patricia Fachin e João Vitor Santos
 Do IHU-Online

A chegada de um novo ano quase sempre traz votos de renovação e esperança. Porém, 2015 não começa com esse espírito para quem vive nas cercanias das obras de construção da Usina de Belo Monte, em Altamira, no Pará. Em entrevista concedida por e-mail para IHU On-Line, o bispo do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário – CIMIdom Erwin Kräutler, denuncia o que já havia previsto: “a grande euforia que cinco anos atrás tomou conta da cidade de Altamira, a ponto de muitos carros e motos exibirem adesivos “queremos Belo Monte”, cedeu lugar a um surdo desânimo. Até agora, nada do que comerciantes, empresários e os políticos de plantão esperaram e prognosticaram como a salvação do oeste do Pará se realizou. A cidade está quase intransitável. Homicídios, assaltos, arrastões estão na ordem do dia. O povo está apreensivo e assustado”, pontua.
A difícil situação apontada por dom Erwin é ainda mais complicada quando se tenta traçar uma perspectiva de futuro do governo que se inicia. Isso, levando em consideração as posturas que a presidente Dilma Rousseff vem adotando nesse seu segundo mandato. Além de não citar questões que são velhas demandas de povos indígenas em seu discurso de posse, a presidente nomeia Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura. Sinais que, para dom Erwin, podem dizer muito do que pode vir pela frente. “Para DilmaBelo Monte nunca foi assunto de pauta com movimentos populares ou a população diretamente impactada. (...) O governo continua a defender o latifúndio e os privilégios que tem concedido ao agronegócio contra os povos indígenas. (...) O rolo compressor continuará a passar por cima de todos nós aqui noXingu e em breve por cima dos povos do Tapajós e de outros rios da Amazônia”, prevê.
Dom Erwin Kräutler é bispo prelado de Xingu, PA, presidente do

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Bolsa Família

Sociedade

Política social

Entenda como funciona o Bolsa Família

Criticado por Ney Matogrosso e peça da campanha de Aécio e Dilma, o benefício é pago para 14 milhões de famílias; valor básico é de 70 reais
por Marsílea Gombata publicado 13/05/2014 

Elza Fiúza/ABr
catador
O catador de lixo Luiz Monteiro da Silva, 52 anos, sustenta as filhas e netos com a ajuda do que retira nas ruas e do Bolsa Família


Uma das principais bandeiras dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, o programa de transferência de renda Bolsa Família entrou na pauta eleitoral de 2014.
O anúncio do reajuste de 10% em cadeia nacional, feito às vésperas do 1º de maio pela presidenta Dilma Rousseff, e as críticas de seu opositor Aécio Neves – de que o aumento é insuficiente e não atende às recomendações das Nações Unidas sobre o combate à pobreza - mostram que o benefício dado pelo governo federal será alvo de debate e disputa durante a campanha eleitoral. Recentemente, o cantor Ney Matogrosso também desqualificou o governo, ao tecer críticas ao programa social.
Conheça mais sobre o Bolsa Família e veja quais

Francisco, o radical

Internacional

Vaticano

Francisco, o radical

O papa confirma sua opção pelos pobres e sua estatura de estadista ao reunir em Roma os movimentos populares
por Claudio Bernabucci



Papa
Depois de encontrar o papa, Stédile observa: "Ele está mais à esquerda do que muitos entre nós"

Poucos dias depois do tempestuoso epílogo do Sínodo sobre a família, se alguém considerasse incerta a rota com que o papa Francisco dirige o navio da Igreja, teria rapidamente de mudar de opinião. Com firmeza absoluta, própria de um monarca, Bergoglio defenestrou um dos principais opositores, o cardeal estadunidense Raymond Burke, do cargo de prefeito do Tribunal Supremo, o máximo órgão jurisdicional da Santa Sé. Depois de ter criticado Francisco pelas posições expressas contra os excessos do capitalismo e de se posicionar como tradicionalista em todas as questões controvertidas do recente Sínodo, Burke teve a ousadia, dias atrás, de declarar que a Igreja era “um barco sem leme”. Foi assim que o timoneiro jesuíta, para demonstrar o contrário, considerou conveniente para o cardeal o repousante novo encargo de Patrono da Ordem de Malta, ilha do Mediterrâneo onde nasceu a rosa dos ventos, a fim de permitir-lhe tempo suficiente para uma reflexão mais ponderada sobre assuntos de navegação.
Nos mesmos dias, beneficiando-se