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sábado, 31 de agosto de 2013

Tribuna do Ceará

Funcionários do jornal Tribuna do Ceará há 11 anos esperam pagamento de suas indenizações

Exemplar da Tribuna do Ceará que  circulou em fevereiro de 2001
Em um dos mais longos processos trabalhistas do Brasil,  nº 0147700-05.2001.5. 07.008 (com data de autuação de 03/07/2001),  tramitando há 11 anos na 8ª Vara  do Trabalho de Fortaleza, do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região, em Fortaleza,  mais  de 60 trabalhadores (jornalistas, gráficos, jornaleiros e pessoal da administração) do jornal Tribuna do Ceará aguardam sua conclusão e o pagamento de suas indenizações. Atualmente o processo está na fase de execução e no período de uma década quatro funcionários morreram de doenças provocadas pela depressão em que caíram após o jornal paralisar suas atividades.
Os funcionários da antiga e até este ano considerada extinta Tribuna do Ceará , que circulou em Fortaleza  e  no interior do Estado entre os anos de 1957 e 2001,disseram a reportagem do Blog do Ramon Paixão que estão perplexos e indignados com a entrada no ar de um portal na internet de propriedade de um grupo de comunicação da capital cearense, no último dia 11 de março, com a marca do jornal fundado pelo empresário, banqueiro e ex-senador José  Afonso Sancho, falecido em 2005.
A Tribuna do Ceará foi o primeiro jornal cearense a adotar ,  em 1971 o sistema pioneiro de composição a frio e impressão offset. Era considerado o jornal do empresariado cearense," o jornal das classes produtoras" e a publicação que dava maior cobertura às notícias do interior do Estado, com uma rede de correspondentes em todos municípios.
Uma comissão de funcionários da Tribuna do Ceará, composta por jornalistas e gráficos, informou que o titulo do jornal voltou ao mercado sem que os herdeiros de Sancho  prestassem  qualquer informação sobre sua venda. Quando circularam rumores sobre a negociação um membro da família Sancho disse que não passava de boatos.
 O processo nº 1477/20001 tem como exequente o Ministério Publico do Trabalho contra a Editora Tribuna do Ceará Ltda. Nele os funcionários  cobram  a falta de pagamento de 11 meses de salários atrasados, férias atrasadas, três 13º salários e horas extras referentes ao ano de 1998, em um acordo

fechado na Procuradoria Regional do Trabalho em 2001 e que foi quebrado dois meses depois pela direção do jornal. Além disso a Caixa Econômica Federal  e o INSS até hoje têm ações na Justiça cobrando contribuições do INSS e FGTS recolhidas e não repassadas entre o ano de 1998 e maio de 2001 quando o jornal parou de circular. E ainda tem as indenizações, que não foram pagas pelas empresa após seu fechamento em 2001. Antes disso os gráficos já haviam ingressado na Justiça com outro processo em que cobram o pagamento da URP de 1993,




A Tribuna do Ceará entrou em crise após a intervenção no Banfort feita pelo Banco Central em 1996. A Liquidação Extrajudicial ocorreu em 1997. Com seus bens bloqueados Sancho não teve como vender nenhum imóvel para saldar as dívidas da empresa com funcionários e credores Na época além, do banco que tinha matriz na capital cearense e filiais em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Goiânia  faziam parte do grupo empresarial de José Afonso Sancho, o jornal, a Gráfica Tribuna do Ceará, a Banfort Segurança de Valores, Banfort Turismo, Agropecuária Sancho, Haras Sancho, fazendas no  Ceará, Maranhão e Goiás, além de dezenas de imóveis em Fortaleza, Rio de Janeiro, Goiânia, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo.
Alguns dos prédios onde funcionavam suas agências, em Fortaleza,  estão ocupados   por instituições financeiras. A começar pela matriz na Rua Guilherme Rocha, no Centro de Fortaleza, O Sindicato dos Bancários tem uma ação de penhora do imóvel  cobrando indenizações dos funcionários do banco de Sancho.



Os funcionários da Tribuna do Ceará lembram que no final de 1999 a situação estava tão critica que no Natal e no ano Ano Novo foram pagos ao pessoal da redação, composição, revisão e impressão vales no valor de R$ 50,00 para quem tinha salários abaixo da faixa de R$ 1.000 e R$ 100,00 para quem ganhava acima desse patamar.  Diante do fato os funcionários entraram em greve e o jornal deixou de circular durante um mês.  Após um acordo na Procuradoria de Republica, na primeira quinzena de janeiro de 2001, o empresário José Afonso Sancho  comprometeu-se a manter a folha em dia  e pagar os salários atrasados de 1998 em 11 parcelas. No dia 23 de fevereiro, pagaria as dívidas relativas ao ano 2000. Em 31 de março, quitaria o débito de 2001.

A Gazeta Mercantil de São Paulo imprimia uma edição local na Gráfica da família Sancho e os exemplares eram distribuídos na capital cearense. O acordo foi cumprido até o início da greve. No dia 6 de janeiro, a impressão foi transferida para Belém do Pará.  A direção da Gazeta Mercantil propôs   por em dia os salários atrasados dos funcionários da Tribuna do Ceará, mas o empresário José Afonso Sancho recusou imediatamente a proposta.

 No segunda quinzena de maio de 2001 os salários novamente atrasaram. Houve uma reunião  entre uma comissão de funcionários da Tribuna, a direção da empresa e os dirigentes Juarez Alves representante do Sindicato dos Gráficos  e Paulo Mamede do Sindicato do Jornalistas.  Como não houve garantia de cumprimento do que havia sido acertado na Procuradoria  a Tribuna do Ceará  circulou pela última vez em uma segunda-feira: 21 de maio de 2001.



Os funcionários ressaltam que durante esse período de negociações, dois dirigentes,  da Tribuna o diretor Tamer Sancho e o superintendente Francisco Alves várias vezes tentaram convencer o dono da empresa José Afonso Sancho a aceitar  parcerias para evitar o fechamento da empresa. Ele rejeitou a maioria . A primeira foia  criação de uma cooperativa (que ele de imediato descartou). Depois pelo menos três grandes grupos empresariais propuseram o arrendamento do  jornal, mas o contrato  não foi fechado, porque  Sancho não aceitou afastar-se  do comando da empresa.
Com a saída de circulação da Tribuna e após  ações judiciais solicitando a penhora da impressora do jornal Sancho decidiu que a sede da empresa mudaria de endereço.
 A  sede própria  estava situada na Avenida Desembargador Moreira 2.900- Bairro Aldeota), onde o jornal funcionou de 1983  até 2003,quanto foi mudada para um prédio situado na rua Padre Antonino, bairro da Piedade. Posteriormente em nova mudança ,os escritório da Tribuna com seus arquivos
, máquinas e a impressora foram instalados  em um novo prédio na Avenida Dom Manoel  nº 1.394 – bairro José Bonifácio. onde funcionou até a morte do seu  diretor presidente e fundador José Afonso  Sancho em 2005.
Após o falecimento de Sancho seus herdeiros venderam a impressora para um jornal do Cariri em 2006. Com o fechamento  dos escritórios e a morte de Sancho  o  imóvel da Desembargador Moreira ficou fechado durante pelo menos cinco anos, quando  passou a  ser ocupado por uma empresa que atua no ramo de decoração. Os funcionários não sabem se o prédio foi vendido, pois citam o fato do imóvel ter pelo menos seis ações judiciais solicitando sua penhora: uma delas é do Sindicatos dos Gráficos do Ceará,  e a outra  do Banco Pontual.  Um posto bancário 24 horas ter sido instalado na entrada do prédio.


A paralisação das atividades da Tribuna do Ceará e o  não pagamento das indenizações trabalhistas trouxe como principal consequência a morte de quatro  funcionários que entraram em depressão e acabaram falecendo por causa de doenças cardiovasculares provocadas por depressão: O editor chefe Morais Neto,  o editor de Interior Dutra de Oliveira ,  o chefe de  impressão Geraldo, o diagramador Flávio Saraiva ( Gago) e o cartunista e designer Manoel Alves, que faleceu nos corredores da Assembléia Legislativa do Ceará, quando tentava obter uma ajuda  para comprar remédios, já que era hipertenso. Ele foi conduzido às pressas para um hospital mas faleceu  a caminho, vitima de uma parada cardíaca.  Outra vitima foi um filho da funcionária Gislaine, um bebê que morreu de um câncer no cérebro, e que teve seus estado de saúde agravado pelo fato de a mãe não poder mais  continuar  pagando o tratamento médico da criança e adquirir os medicamentos, muito caros. Gislaine que  era arquivista, não encontrou emprego em outro jornal e  foi trabalhar como trocadora de ônibus, para sobreviver.
Há mais de uma década os funcionários da Tribuna do Ceará esperam que seus direitos enfim sejam reconhecidos, pois atualmente a maioria deles continua enfrentando sérios  problemas de saúde e financeiros. 
Faziam parte do  quadro de funcionários da Tribuna do Ceará, quando a publicação parou de circular os seguintes profissionais: Francisco Alves - superintendente;  Morais Neto - editor chefe(já falecido); Ramon Paixão - editor de Nacional e Internacional; Lúcia Estrela Damasceno - editora de Economia; Ossian Lima - editor de Politica; Amélia Suzy Vasques - editora de Cidade; Aurora Miranda Leão - editora do 2º Caderno; Lúcia Amaral- editora de Educação; Fernando Barbosa -editor de Policia
Colunistas: Antonio Viana, José Flávio Teixeira, Carlos Alberto Farias. Luiz Carlos Martins e Newton Pedrosa
Repórteres; José Arilo, Lúcia Stédile, Silvia Carla, Pedro Gomes de Matos, Luiz Guedes Neto, Roberta Fonteles. Jáder Moraes, Edson Garcia, Lúcia Amaral, Socorro Pinto, Barros Alves 

Diagramadores: Flávio Saraiva(já falecido), Raimundo Filho, César Falcão

Repórteres fotográficos: Luciano Bernardo, Jota Sobrinho, Heloisa Menescal, Avelino Neres e Carlos Batista.
Cartunista: Manuel Alves (já falecido)
Gráficos: Francisco Xavier, Aluísio Cavalcante(gerente industrial), Valdir Santos(impressor), Geraldo( impressor - já falecido) José Luiz, Ivan Leandro,Gutemberg, Raimundo Teógenes, Valmir, Beto, Crisley, Kelton.


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Publicado em
30/03/13
02/05/13 14:37

Fonte: Blog do jornalista, radialista, cronista esportivo e carnavalesco Ramon Paixão
funcionário da Tribuna do Ceará(editor de Nacional e Internacional) de 1985 até seu fechamento em 2001.
e-mails para contatos:  ramonpaixao@gmail.com   -  ramonpaixao@folha.com.br  

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