Festival contra a redução da maioridade penal é realizado no Rio
Mais de 20 mil pessoas se reuniram no grande festival realizado por coletivos, movimentos sociais e artistas.
Por Larissa Gould
Para os Jornalistas Livres
O movimento Amanhecer contra Redução surgiu em meados de abril, inspirado na campanha uruguaia No a la Baja, que
impediu a redução da maioridade penal no país vizinho. Uma iniciativa
de jovens criativos, principalmente estudantes secundaristas, para
resistir à redução, de uma forma didática e leve, com a cultura.
Festival contou com 5 palcos na tradicional Praça XV |
Foi
algo dessa natureza que deixou o centro da Cidade Maravilhosa mais
colorido na manhã deste domingo. O Festival Amanhecer, fruto da
construção colaborativa de coletivos, movimentos sociais e artistas,
reuniu cerca de 80 atrações de música, dança, teatro, grafite, debates,
fotografia e poesia na Praça XV, para um público total de mais de 20 mil
pessoas.
Foram 5 palcos espalhados pela tradicional Praça XV,
que se coloriu com cartazes, sorrisos, faixas, pipas, murais, grafites,
adesivos, brincadeiras, tecidos e danças ao longo do dia. Uma ação de
resistência, que
não seria possível senão com um posicionamento decisivo
dos estudantes.
“Assim que a PEC da Maioridade passou na
Comissão de Constituição e Justiça, nós reunimos um grupo de amigos aqui
no Rio de Janeiro para fazer uma campanha contra a redução. Nossa
expectativa era que fosse uma campanha pequena, mas acabou crescendo e
chegou a 400 cidades em todo o país!” afirma Daniela Orofino, que tem 22
anos e é estudante de Ciências Sociais. De lá para cá não pararam, em
maio o grupo realizou um grande sarau na Lapa, que reuniu 600 pessoas.
Mais
de 20 mil reais foram arrecadados para o evento, através do
financiamento coletivo: “É a força da juventude mostrando que a gente
acredita na cultura e na educação, como alternativa para todos esses
jovens do Brasil que tem poucas oportunidades”, conclui Daniela.
Outra
estudante, Mariana Monteiro, tem 16 e começou a participar da campanha a
partir de um convite feito pelos colegas. Seu grupo colaborou para o
financiamento realizando um sarau na escola para arrecadar fundos:
“Doamos R$1.000 para o Festival e foi muito bem investido”.
Assim
como ela, Clarice Pessoa, 14, também faz parte da Campanha e participou
da produção do evento: “A redução, na verdade, é a seletividade penal,
pois serão os jovens em situação de vulnerabilidade que pagarão e não
nós. Estamos aqui hoje para
lutar por direitos”.
lutar por direitos”.
Gisela,
estudante de comunicação, destacou a importância de se unir ao movimento
cultural: “Pela cultura conseguimos dialogar com muito mais gente”.
O
Levante Popular da Juventude foi um dos movimentos que compôs o
festival, com uma oficina de bateria. Para Felipe Haua, estudante e
militante do grupo, é fundamental a união de todas as forças contra a
PEC da maioridade. “É uma pauta que está sendo empurrada no Congresso e
que afeta diretamente a juventude. Se não estivermos unidos não teremos
chance”.
Mudança
Se o festival queria
atingir corações e mentes para ganhar forças na luta contra a redução,
conseguiu. Gilvan tem 42 anos e é empresário. Passou sem querer na
praça e a curiosidade fez com que ficasse, para mudar de opinião:
“Era
a favor da redução. Ouvi um debate, li as faixas e cartazes e me
permiti refletir sobre a questão. Principalmente sobre a frase — redução
não é solução. Não é mesmo. Na verdade, ela traz muitos problemas, como
o aumento desmedido da população carcerária”, afirmou.
Gilvan:
"Era a favor da redução. Ouvi um debate, li as faixas e cartazes e me
permiti refletir sobre a questão" | Créditos Foto: Cobertura Colaborativa Amanhecer Contra Redução |
Não
é a solução porque desvia o foco do que é realmente importante: a
proteção dos direitos das crianças. É o que pensa Átila Roque, diretor
da Anistia Internacional no Brasil. “Hoje o adolescente é vitima da
violência, não quem causa violência. Os jovens são mais de 50% dos
mortos no país, totalizando 30 mil jovens mortos por ano na faixa dos 15
aos 29. Grande parte deles entraria nessa faixa da redução. Ou seja, já
existe uma penalização gigantesca para esses jovens”, afirma.
A
Campanha Jovem Negro Vivo, da Anistia, levanta ainda um dado assombroso
na matemática da pátria educadora: dos 30 mil mortos, 70% são negros.
Marcha dos desprovidos
Atualmente
o Projeto de Emenda Constitucional — PEC 171, que altera a
imputabilidade penal, está no Congresso Nacional. A Comissão Especial
criada para a discussão do tema possui 70% dos deputados a favor da
redução. Jandira Feghali, deputada federal pelo PCdoB, esteve presente
no festival e concorda que a conjuntura não é favorável: “No Congresso,
infelizmente, nós estamos andando para trás. Toda pauta que vai se
estruturando e vai se estabelecendo são pautas profundamente
retrógradas, de anulação de um período longo de conquistas em todas as
áreas.”
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