O Brasil precisa lavar seu presente, mas sobretudo seu passado que segue impune
Nos últimos 30 anos, país viveu verdadeira coleção de escândalos
Jornal do Brasil
Nos últimos anos, o
Brasil tem sido bombardeado pela grande mídia exaltando recentes casos
de corrupção como os maiores escândalos da história do país, e que
movimentaram a maior quantidade de dinheiro. Mas uma rápida pesquisa
mostra que, lamentavelmente, na trajetória do país há uma verdadeira
coleção de escândalos muito maiores, e pior, que até hoje permanecem
impunes.
O Brasil não pode assistir a esses escândalos sem
punição. O Brasil precisa fazer uma grande lavagem no que está em
andamento, e sobretudo no que ficou parado.
Em artigo publicado este ano no JB, o jornalista Mauro Santayana lembrou:
"Em dezembro de 2014, um estudo feito pelo instituto Avante Brasil,
que, com certeza não defende a “situação”, levantou os 31 maiores
escândalos de corrupção dos últimos 20 anos.
Nesse estudo, o
“mensalão” - o nacional, não o “mineiro” - acabou ficando em
décimo-oitavo lugar no ranking, tendo envolvido menos da metade dos
recursos do “trensalão” tucano de São Paulo e uma parcela duzentas vezes menor que a cifra relacionada ao escândalo do Banestado,
ocorrido durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso, que, em
primeiríssimo lugar, envolveu, segundo o levantamento, em valores
atualizados, aproximadamente 60 bilhões de reais.
E
ninguém, absolutamente ninguém, que dizia ser o
mensalão o maior dos
escândalos da história do Brasil, tomou a iniciativa de tocar, sequer,
no tema - apesar do “doleiro” do caso Petrobras, Alberto Youssef, ser o
mesmo do caso Banestado - até agora."
Entre outros escândalos há ainda o do anões do orçamento:
De 1989 a 1992, sete deputados da Comissão de Orçamento do Congresso
faziam emendas de lei remetendo dinheiro a entidades filantrópicas
ligadas a parentes e cobravam propinas de empreiteiras para a inclusão
de verbas em grandes obras. Ficou famoso o método de lavagem do dinheiro
ilegal: as sucessivas apostas na loteria do deputado João Alves.
No caso do mensalão tucano,
o escândalo dizia respeito a peculato e lavagem de dinheiro na campanha
para a reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo de Minas
Gerais em 1998. De acordo com a polícia, seis empreiteiras doaram R$ 8,2
milhões para a campanha de Azeredo sem declarar essas doações à Justiça
Eleitoral, o que é obrigatório por lei.
Houve anda a rumorosa Operação Patrícia,
na década de 80, que se tornou uma das maiores manchas na história do
Instituto Brasileiro de Café (IBC). O objetivo era tentar forçar a alta
da cotação do café no mercado internacional, que, à época, registrava
preço inferior ao fixado no mercado interno. O IBC deveria pagar as
empresas em 90 dias, mas só quitou 5% da dívida.
E como não lembrar o caso Sunamam
(Superintendência Nacional da Marinha Mercante), que era encarregada de
gerir o Fundo de Marinha Mercante. No final do governo do ex-presidente
João Figueiredo (1979-1985) foram descobertos indícios de
irregularidades nos repasses de recursos do órgão aos estaleiros. Uma
das suspeitas era de que as empresas descontavam, com aval da Sunamam,
duplicatas de obras não realizadas, gerando a expressão "navios de
papel". Na época, estimaram-se as perdas do governo em cerca de US$ 545
milhões.
Também nos anos 80 houve o caso Montepio, no qual foram investigados vários atos de corrupção envolvendo a Agropecuária Capemi,
contratada para extrair e comercializar toda a madeira da área que
seria inundada com a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí.
Nos anos 70, houve também o caso do Buraco do Lume:
uma poderosa empresa do ramo imobiliário faliu antes de construir sua
imponente sede, mas o buraco ficou aberto durante anos, sendo batizado
de Buraco do Lume, que vem das iniciais de Linaldo Uchoa Medeiros, dono
da empresa de financiamento de imóveis Financilar, que reinou na época
do BNH, o Banco Nacional da Habitação. Linaldo usaria sua aproximação
com funcionário influente da Caixa Econômica para conseguir
financiamentos.
Nos anos 90, escândalo envolvendo a Andrade Gutierrez veio à tona, na construção da nova sede da Eletropaulo, no governo de Luiz Antonio Fleury Filho, sucessor de Orestes Quércia.
Também nos anos 90, as privatizações foram a tônica do governo FHC, em negociações nebulosas alvo de denúncias e especulações.
A
Companhia Vale do Rio Doce - vendida por R$ 9 bilhões e que, hoje, vale
US$ 100 bilhões -, a Telebrás - monopólio estatal de telecomunicações -
e a Eletropaulo foram gigantes que passaram para o setor privado.
No
Estado do Rio de Janeiro, as duas maiores distribuidoras de energia
foram privatizadas em 1996. A primeira foi a Light, arrematada sem ágio
por US$ 2,26 bilhões por um consórcio formado por Cemig, Andrade
Gutierrez, Pactual e posteriormente pela EDF, Houston Industries Energy,
AES e CSN. A ação da Light, na ocasião, valia R$ 9, e hoje, vale R$ 20.
Já a Cerj, que atende à população do interior do estado, foi vendida
por R$ 605 milhões, com um ágio de 30,3% pago pelo consórcio chileno
Chilectra.
E como não lembrar dos escândalos envolvendo bancos. Um dos mais notórios foi o do Banco Econômico, de Ângelo Calmon de Sá,
e os famosos cheques sem fundo. E ainda do Banco Marka que, endividado,
acabou favorecido pelo Banco Central. Aliás, vem daí também o polêmico
Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do
Sistema Financeiro Nacional), de FHC, que promovia socorro aos bancos
com dinheiro público. Bancos... sempre os bancos.
O Proer
gastou R$ 37,76 bilhões com os bancos em funcionamento no país. Este
valor foi apurado pela CPI dos Bancos, do Senado Federal, e consta do
relatório final da comissão. O grosso dos recursos do Proer foram
distribuídos para salvar bancos falidos recebendo em troca títulos
"podres" como forma de pagamentos e para dar garantia a grupos
estrangeiros para comprar bancos brasileiros.
Ainda no governo FHC, o escândalo do grampo do BNDES sacudiu
os alicerces do país. Aconteceu justamente no período anterior à
privatização do Sistema Telebrás, na fase de habilitação dos consórcios
participantes para o leilão. A denúncia resultou nas quedas do ministro
das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, do presidente do
BNDES, André Lara Resende, e parte da cúpula do Banco do Brasil e da
Previ (Fundo de Previdência dos Funcionário do Banco do Brasil).
Em 2009, uma operação da PF, batizada de Castelo de Areia,
trouxe à tona novamente caso envolvendo políticos e empreiteiras. Deste
vez era a Camargo Correia e mais de 200 políticos dos mais variados
partidos relacionados com supostos crimes financeiros, lavagem de
dinheiro, superfaturamento de contratos, fraudes em concorrências e
pagamento de propinas.
Mais recentemente, o caso Alston, do
metrô de São Paulo: uma série de denúncias de pagamento de propina
feitos pela empresa francesa Alstom a vários políticos do estado de São
Paulo. De acordo com o que consta de documentos enviados ao Ministério
da Justiça do Brasil pelo Ministério Público da Suíça, no período de
1998 a 2001 pelo menos 34 milhões de francos franceses teriam sido pagos
em propinas a autoridades governamentais do Governo do Estado de São
Paulo e a políticos paulistas utilizando-se empresas offshore.
E como não lembrar das obras superfaturadas na reforma do Maracanã
para a Copa de 2014? De acordo com Tribunal de Contas do Estado do Rio
de Janeiro, o superfaturamento foi de R$ 67,3 milhões. O texto pedia o
cancelamento do pagamento desses valores às construtoras Odebrecht e
Andrade Gutierrez. A reforma do estádio, orçada em R$ 705 milhões, teve
custo final estimado em R$ 1,2 bilhão.
Ou ainda o rumoroso caso da
morte de uma modelo, que envolve autoridades de Minas Gerais.
Documentos apontam que a modelo atuaria transportando valores
milionários a serviço de um esquema, além de ter supostamente recebido
sem qualquer justificativa comercial, na época, a importância de R$
1.800.000,00 de Walfrido dos Mares Guia. Para criminalistas que se
dedicaram ao caso, a morte de Cristiane não teria sido um crime
passional em relação ao seu namorado, e sim estaria jurada de morte.
Veja reportagem da Record sobre o caso:
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