Yanukovich: "Ainda sou o presidente legítimo da Ucrânia"
Presidente deposto está em território russo. Localização exata ainda não foi divulgada. Ele diz que teme por sua segurança
O paradeiro de Viktor Yanukovich não é mais (tão) desconhecido.
Considerado foragido da Justiça ucraniana, o presidente deposto está em
território russo, sob proteção de seu aliado Vladimir Putin, presidente
da Rússia. De lá, Yanukovich se pronunciou pela primeira vez nesta
quinta-feira (27), após o governo interino assumir o controle do país.
"Ainda sou o chefe legítimo do Estado da Ucrânia, eleito pela vontade dos cidadãos ucranianos", afirmou em mensagem divulgada pela agência russa Interfax.
No comunicado, Yanukovich afirma que foi para a Rússia para preservar
sua segurança. Ele diz que vem sendo vítima de uma série de
ameaças. "Estão chegando ameaças de represálias a mim e aos meus
familiares. Tenho que pedir às autoridades da Federação Russa que
garantam minha segurança pessoal perante ações extremistas", diz o
presidente deposto na mensagem.
Após o Parlamento ucraniano cassar o mandato de Yanukovich, por
abandono de funções, a Procuradoria Geral da Ucrânia expediu na
quarta-feira (26) uma ordem de busca e prisão internacional contra o
presidente deposto. Também foi emitida uma ordem internacional de prisão
para o ministro do Interior, Vitaliy Zakharchenko, responsável pela
conduta das tropas de choque da Ucrânia, os
"Berkut", - dissolvida pelo governo interino. Yanukovich
deverá responder na Justiça pelos crimes de assassinato em massa pelo
uso da força policial usada para reprimir manifestantes durante os
protestos antigoverno, ocorridos nos últimos três meses no país. Segundo
estimativas das novas autoridades ucranianas, mais de cem pessoas
morreram e cerca de duas mil ficaram feridas - 500, em estado grave.
Confrontos em Crimeia
A localização exata de Yanukovich não foi divulgada. Algumas fontes
apontam que o presidente deposto está na base naval russa no porto de
Sebastopol, na região da Crimeia, que quer se separar da Ucrânia e se juntar à Rússia. Desde a destituição de Yanukovich,
moradores da região têm protestado contra as novas autoridades
ucranianas. Banhada pelo Mar Negro, a península da Crimeia, tem dois
milhões de habitantes, dos quais quase 60% são russos, 25% ucranianos e
12% tártaros.
Na madrugada desta quinta-feira (27), um grupo armado com fuzis
automáticos e metralhadoras, de cerca de 30 pessoas, tomou as sedes do
Parlamento e do governo em Simferopol, a capital da região autônoma. Os
edifícios ocupados foram isolados e houve confrontos entre policiais e
manifestantes do lado de fora. Os invasores continuam no interior do
prédio. Até o momento, não houve registro de feridos.
Diante do ocorrido, o ministro interino do Interior da Ucrânia, Arsen
Avakov, pediu que a polícia local fique em estado de alerta contra
possíveis novas invasões. O presidente Interino da Ucrânia, Aleksandr
Turchinov, ordenou que o comando da Frota russa do Mar Negro mantenha
suas tropas em suas bases, pois qualquer movimentação de soldados será
considerada uma agressão. Segundo o tratado pelo qual Moscou mantém a
base principal de sua frota do Mar Negro no porto de Sebastopol, na
Crimeia, todos os movimentos de tropas no território da Ucrânia devem
ser estipulados com as autoridades deste país. O secretário-geral da
Otan, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que está preocupado com a
intensificação da violência na Crimeia e também pediu à Rússia que evite
qualquer movimento que possa aumentar a tensão no local.
A crise política na Ucrânia
As primeiras manifestações contra o atual governo da Ucrânia eclodiram
em novembro do ano passado, quando a Ucrânia, em meio a uma grave crise
econômica, desistiu, após anos de negociações, de se tornar o 29º membro
da UE para intensificar relações econômicas com a Rússia, que
pressionou o governo ucraniano com ameaças de restrições comerciais,
principalmente vinculadas ao fornecimento de gás natural. Desde a
independência da antiga União Soviética, em 1990, o país ficou
dependente da importação de gás natural e petróleo da Rússia.
Aparentemente dividido sobre a questão, o governo ucraniano havia
afirmado que sua intenção era assinar "em breve" o acordo de associação,
desde que recebesse garantias financeiras que sua implementação não
prejudicaria a fragilizada economia ucraniana - o que não ocorreu. No
final de dezembro, a Ucrânia assinou o acordo com a Rússia, esfriando as esperanças de ingresso ao bloco europeu.
O tratado com a Rússia garantiu o barateamento em 30% do gás pago pela
Ucrânia ao monopólio russo Gazprom. Além do desconto da tarifa de gás, a
Ucrânia recebeu da Rússia US$ 15 bilhões em títulos da dívida pública
ucraniana. Para o governo, o tratado comercial não poderia ter sido
melhor e "salvou" a economia da Ucrânia. A oposição entendeu o acordo
como uma forma de suborno e passou a acusar o presidente ucraniano de
vender o país.
As manifestações ganharam força em janeiro, quando o governo ucraniano aprovou uma série de medidas antiprotesto para
tentar acabar com os acampamentos dos estudantes na Praça da
Independência. Após o aumento da tensão, o governo recuou, revogando as
medidas.
Em fevereiro, os manifestantes continuaram pressionando o governo e passaram a defender a restituição da Constituição ucraniana de 2004 (que aumenta o poder do Parlamento e enfraquece o presidente) e a convocação de novas eleições gerais. Os confrontos entre policiais e manifestantes se intensificaram, deixando 82 pessoas mortas e mais de dois mil feridos.
Em fevereiro, os manifestantes continuaram pressionando o governo e passaram a defender a restituição da Constituição ucraniana de 2004 (que aumenta o poder do Parlamento e enfraquece o presidente) e a convocação de novas eleições gerais. Os confrontos entre policiais e manifestantes se intensificaram, deixando 82 pessoas mortas e mais de dois mil feridos.
Além da intensificação das pressões internas, o então presidente Viktor
Yanukovich se viu também pressionado pela comunidade internacional: de
um lado pela Rússia, sua aliada, e do outro pelos Estados Unidos e União
Europeia. Enfraquecido politicamente, Yanukovich foi destituído pelo
Parlamento e está sendo responsabilizado pelas mortes dos manifestantes.
Ele está foragido. Enquanto isso, o governo interino está tomando as
rédeas da Ucrânia pró-União Europeia.
Fonte: http://epoca.globo.com
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