O “rolezinho” e os jovens sem futuro
Por que a China (bem como vários outros países
asiáticos) está crescendo e o Ocidente (incluindo o Brasil e os EUA)
está estacionário? Porque o Ocidente está decadente. Os sintomas agudos
dessa degeneração estão retratados não somente nas suas dívidas
altíssimas (média de 110% do PIB na Europa e EUA; 34,5% no Brasil), nos
bancos mal administrados (causa da grande fraude financeira de 2008),
senão, sobretudo, nas desigualdades crescentes.
Em 1989, com a
derrubada do muro de Berlim (que significou o fim do regime comunista em
muitos países), Francis Fukuyama declarou a vitória do liberalismo
econômico e político, ou seja, o triunfo do Ocidente. Naquele mesmo ano o
PIB chinês representava apenas 8% do norte-americano; em 2016 passará a
ser de, no mínimo, 60%. Em 1978, o rendimento anual do norte-americano
era vinte vezes maior que o chinês; hoje, apenas cinco vezes.
“Não
importa a cor do gato, desde que ele cace o rato”: com essa frase o
líder chinês Deng Xiaoping justificava os benefícios da
abertura
econômica da China na década de 70, a despeito dos princípios do
comunismo. Daí para ca, enquanto a China (e o Oriente) cresce, o Ocidente está estagnado. O que está ocorrendo com o Ocidente?
Um
mal-estar institucional (Ferguson: 2013, p. 53), que está violando o
verdadeiro contrato social, que é intergeracional (conforme Edmund
Burke), ao deixar uma pesada carga de compromissos econômicos aos filhos
e netos da atual geração. Os jovens das classes inferiorizadas, hoje,
têm a sensação de que as classes dominantes estão arrebatando o seu
presente (consumista) assim como o seu futuro (Ferguson: 2013, p. 61).
De
que maneira? Basta passar os olhos nos “capitais” que definem as
classes sociais. São eles, dentre outros: o econômico (dinheiro,
patrimônio, ações, ganhos de capital, juros), o cultural (conhecimento
adquirido), o social (relações sociais, prestígio, respeito social,
privilégios), o emocional (autocontrole, prudência, perspectiva de
futuro, visão prospectiva etc.), o moral/ético (perfeita noção de que
devemos respeitar as demais pessoas, a natureza, os animais e o bom uso
das tecnologias) e o familiar (família bem articulada, que transmite
muita informação útil para o processo de socialização das crianças e
adolescentes) etc. (veja Jessé Souza, Os batalhadores).
Vendo
diariamente os desmandos concentradores praticados pelo capitalismo
atrasado vigente no Brasil assim como o descalabro do Estado
estacionário brasileiro, com suas instituições políticas, econômicas,
jurídicas e sociais degeneradas, as classes dominadas (C e D) estão cada
vez mais conscientes das suas condições precárias no mercado de
trabalho, nos estudos e nos relacionamentos sociais, o que compromete o
seu presente consumista assim como o seu futuro.
Tudo isso seria
compensado com serviços públicos de qualidade, como saúde, educação e
transportes. Mas esse definitivamente não é o caso do Brasil injusto e
estacionário. Resultado: frustração, desesperança, ódio, sensação de
impotência e indignação, que são os ingredientes necessários para
desmoronar qualquer país decadente e socialmente retrocessivo, sobretudo
depois da democratização do acesso às redes sociais.
LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Estou no professorLFG. Com. Br
*Artigo para livre publicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário