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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Irã

Diplomacia

Acordo com Irã embaralha as cartas da geopolítica

Possíveis consequências do pacto assinado com potências movimentam o xadrez diplomático da região

Diego Braga Norte e Jean-Philip Struck
(A partir da esquerda) O chanceler iraniano, Mohamed Zarif; a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton; o secretário de Estado americano, John Kerry; e o chanceler francês, Laurent Fabius, comemoram em Genebra
A partir da esq. O chanceler iraniano, Mohamed Zarif; a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton; o secretário de Estado dos EUA, John Kerry; e o chanceler francês, Laurent Fabius, comemoram em Genebra (Fabrice Coffrini/AFP)
O acordo sobre o programa nuclear iraniano anunciado no último fim de semana ainda é preliminar, mas já permite algumas previsões sobre como ficará o xadrez político na problemática região. O pacto de seis meses foi negociado entre o grupo 5+1, formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, China, Grã-Bretanha e Rússia) mais a Alemanha, e a república islâmica. Neste período, a proposta é chegar a um documento mais abrangente, que envolva de fato o desmantelamento de instalações que podem ser usadas para a fabricação da bomba atômica – e não apenas uma desaceleração do programa nuclear, prevista no acordo atual, em troca do alívio de parte das sanções econômicas impostas ao Irã.
De imediato, o pacto desagradou Israel e Arábia Saudita, inimigos do Irã que ficaram desapontados com o aliado Estados Unidos. Descrentes de que o regime dos aiatolás vá cumprir as exigências do documento atual ou negociar algo mais abrangente, os dois países também veem reduzida sua influência sobre o governo americano e temem um fortalecimento da república islâmica na região.
O analista Elbridge Colby, consultor membro da empresa de consultoria CNA e ex-conselheiro da Secretaria de Defesa dos EUA, afirma que as
preocupações de Israel e dos países do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita, vão além do programa nuclear iraniano. “Eles temem que o Irã esteja buscando alcançar a hegemonia regional. Estas nações do Oriente Médio estão muito preocupadas com o apoio do Irã a Assad e com as ligações de Teerã com o Hezbollah. Assim, entre os protagonistas da região, há uma pergunta: ‘O acordo vai permitir ou prejudicar a capacidade do Irã de dar sequência a seus objetivos?’ Eu não tenho resposta para essa questão”, disse ao site de VEJA.

Possíveis consequências do acordo


O professor de política do Oriente Médio, F. Gregory Gause III, citado em reportagem da revista Time (leia a íntegra, em inglês), vai na mesma linha ao dizer que o temor dos sauditas não é apenas com a arma atômica, mas com uma espécie de reabilitação internacional do Irã que provoque uma mudança no equilíbrio geopolítico que enfraqueça a posição  da Arábia Saudita como o país mais influente na região. “Eles temem que o acordo seja um prelúdio de um arranjo entre iranianos e americanos que vai deixar o Irã como poder dominante no Líbano, na Síria e no Iraque”.
Síria – Atualmente, sauditas e iranianos travam uma corrida para fornecer armas para os atores da guerra civil na Síria, com os primeiros ao lado dos rebeldes e o Irã apoiando o ditador Bashar Assad. O aumento da influência do Irã no explosivo cenário da região se fez sentir na semana passada, quando terroristas realizaram um atentado contra a embaixada do país no Líbano, em represália ao apoio dado ao ditador e ao grupo terrorista Hezbollah, rival da facção responsável pelo ataque – que, por sua vez, é ligada à Al Qaeda.

Questões sobre o acordo nuclear com o Irã

O Irã é o único país que mantém um programa nuclear?

Não. Sete nações têm armas nucleares declaradas: EUA, França, Rússia, Grã-Bretanha, China, Índia e Paquistão. Israel nunca confirmou oficialmente ter armas nucleares, embora a Federação de Cientistas Americanos estime que tenha cerca de 80 ogivas. A Coreia do Norte já conduziu testes nucleares e com mísseis balísticos. A comunidade internacional receia que os norte-coreanos estejam próximos de fabricar um míssil nuclear, mas não há confirmação oficial da real capacidade bélica de Pyongyang. Quanto à energia nuclear, mais de 30 países a utilizam, ente eles, o Brasil. 

Teerã é hoje, ao lado da Moscou, o principal apoiador do regime Assad, fornecendo armas e apoio logístico. Mas a ajuda ao ditador, que superaria centenas de milhões de dólares por mês, segundo analistas, teria se tornado um peso excessivo para o combalido tesouro iraniano. “Os combates na Síria são dispendiosos e cansativos para o Irã e para a Rússia. Eles adorariam se livrar desse fardo”, afirmou ao site de VEJA John Tirman, diretor executivo do Centro de Estudos Internacionais do MIT. Para ele, se o Irã se tornar uma presença construtiva nas reuniões em Genebra sobre a Síria, aumentam as possibilidades de remoção de Assad e construção de um novo governo. Ainda que a queda do regime não seja garantia de fim dos problemas na Síria, uma vez que as forças anti-Assad estão infiltradas por jihadistas, e um cenário de guerra civil entre as facções rebeldes não possa ser desconsiderado.
Tirman avalia que o acordo preliminar fechado com a república islâmica tem potencial limitado, mas é positivo. Para ele, a rejeição ao documento pode aumentar a tensão na região. “Se o governo de Israel e as monarquias do Golfo Pérsico continuarem se opondo ao atual acordo provisório e tentando inclusive anulá-lo, essas ações podem provocar um dramático realinhamento de forças. Turquia, Iraque e Irã poderiam se aproximar novamente – especialmente se os conflitos na Síria chegarem ao fim. As monarquias do Golfo e Israel ficariam ainda mais isoladas no mundo árabe, provocando uma situação de maior tensão”.



Reequilíbrio de poder – Em artigo publicado no site da companhia americana de análise estratégica Stratfor, George Friedman afirma que os EUA não estão abandonando seus aliados Israel e Arábia Saudita ao fechar o acordo com o Irã. Considera, no entanto, que os termos do relacionamento podem estar mudando: “A mudança é que o apoio dos EUA se dará em um contexto de balanço de poder, particularmente entre Irã e Arábia Saudita. (...) O balanço de poder mais natural é sunitas versus xiitas, árabes versus iranianos. O objetivo não é a guerra, mas cada lado ter força suficiente para paralisar o outro” (leia a íntegra, em inglês).
Friedman lembra que um dos temores dos sauditas está relacionado à substancial minoria xiita concentrada no leste do país e sua potencial afinidade com o Irã. Outra preocupação é o Iraque, pois os sauditas não querem um estado xiita pró-iraniano em sua fronteira norte. Mas o Irã pediu a colaboração americana exatamente para evitar o surgimento de um governo contrário à república islâmica no Iraque.
O cenário é intrincado e há muitos interesses envolvidos, de forma que, nos próximos seis meses, os negociadores do que pode vir a ser um acordo definitivo serão observados de perto. Se fechar o pacto preliminar já foi tarefa árdua – foram dez anos de impasse até se chegar ao texto anunciado no último domingo – as dificuldades devem se multiplicar de agora em diante. 

O caminho do programa nuclear iraniano

O Irã deu muitos passos rumo à bomba atômica nas últimas décadas – e nenhum sinal de que pretende recuar em seu programa nuclear, como exige o Ocidente. Confira os principais 

Década de 1950
Liderado pelo xá Reza Pahlevi, o Irã dá início ao programa nuclear do país. Em um acordo com os EUA, fechado no contexto do programa de Dwight Eisenhower denominado 'Átomos para a Paz', o governo americano se comprometeu a fornecer um reator de pesquisa nuclear para Teerã e usinas de energia.

Fonte: veja

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