Produto da Monsanto é suspeito de aumentar casos de câncer na Argentina
Pesticidas
fabricados pela Monsanto, indústria de agricultura norte-americana, são
suspeitos de serem os responsáveis por problemas de saúde que vão desde
defeitos congênitos a câncer na Argentina, segundo uma reportagem da AP (Associated
Press) divulgada nesta segunda-feira (21/10). De acordo com a agência, a
ausência de leis que regulem agrotóxicos levou ao uso incorreto deles
no país, levando determinados estados a terem taxas maiores de câncer,
por exemplo, que outros.
A reportagem aponta que, na província de
Santa Fe, o centro da indústria argentina de
soja, as taxas de câncer
são de duas a quatro vezes mais altas que a média nacional. Apesar da
proibição pela província do uso de pesticidas a menos de 500 metros das
áreas povoadas, a AP descobriu evidências de que químicos tóxicos são usados a apenas 30 metros das residências.
Em
Chaco, a região mais pobre, a probabilidade de crianças nascerem com
defeitos congênitos são quatro vezes maiores desde que a biotecnologia
expandiu a agricultura.
“A mudança no modo como a agricultura é produzida trouxe, francamente, uma mudança no perfil das doenças”, afirmou à AP o
pediatra Medardo Avila Vazquez. “Nós passamos de uma nação bastante
saudável a uma com taxas altas de câncer, defeitos congênitos e doenças
raramente vistas antes”.
Em resposta às reclamações, a presidente
Cristina Kirchner criou em 2009 uma comissão para estudar o impacto de
agrotóxicos na saúde humana. O relatório oficial pediu por “controles
sistemáticos de herbicidas e seus componentes (…) Assim como exaustivos
estudos em laboratório e em campo envolvendo formulações contendo uma
substância química chamada glifosato, considerada quase inofensiva a
seres humanos, e suas interações com outros químicos que são usados em
nosso país”. Entretanto, a última reunião do comitê foi em 2010.
O
secretário de Agricultura, Lorenzo Basso, afirmou que as pessoas estão
desinformadas na Argentina. “Eu vi inúmeros documentos, pesquisas,
vídeos, artigos nas notícias e nas universidades e, realmente, nossos
cidadãos que leem isso ficam confusos e tontos”, disse. “Nosso modelo,
como uma nação de exportação, tem sido questionado. Precisamos defender
nosso modelo”.
A AP entrevistou o camponês
Fabian Tomasi, que trabalhou bombeando pesticidas sobre plantações e,
agora, sofre de problemas neurológicos. “Eu preparei milhões de litros
de veneno sem nenhum tipo de proteção, sem luvas, máscaras ou roupas
especiais”, afirmou. “Eu não sabia de nada. Só fiquei sabendo depois o
que isso fez comigo, depois que contatei cientistas”.
O pesticida químico da Monsanto, Roundup, contém glifosato. A AP descobriu
que esse composto está sendo usado na Argentina em uma série de
maneiras que são “inesperadas pela ciência reguladora ou especificamente
proibidas pela legislação vigente”.
Em resposta à pesquisa da
agência, a Monsanto divulgou um comunicado dizendo que “não tolera o uso
indevido de pesticidas ou a violação de qualquer lei de pesticidas,
regulamento ou decisão judicial”. “A Monsanto leva a administração de
produtos a sério e nós nos comunicamos regularmente com nossos clientes
sobre uso adequado dos nossos produtos”, afirmou o porta-voz Thomas
Helscher, em nota.
Na reportagem, a AP afirma
que pode ser impossível provar que um composto químico específico causou
a doença de um indivíduo. Mas, médicos consultados têm cada vez mais
pedido por pesquisas mais amplas, a longo prazo e independentes, dizendo
que os governos deveriam fazer a indústria provar que agrotóxicos
acumulados não estão deixando as pessoas doentes.
A Argentina foi
um dos primeiros países a adotar a biotecnologia da Monsanto para
aumentar sua produção agrícola. Com esses produtos, o país se tornou o
terceiro maior produtor de soja no mundo. Atualmente, as plantações de
soja são inteiramente modificadas pelos produtos químicos, assim como a
maior parte das de milho e algodão.
Foto: Wikicommons
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