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sábado, 26 de maio de 2018

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Temer, um “pepino” para a direita na corrida eleitoral

por André Barrocal — publicado 25/05/2018 18h49, última modificação 26/05/2018 11h32
Com o desemprego em alta e a greve dos caminhoneiros, DEM, MDB, PSDB e o “mercado” rifam o presidente. O Congresso retoma a pauta da eleição indireta
Temer, um "pepino" para a direita na corrida eleitoral
Ninguém quer aparecer na foto ao lado de Temer


Se havia dúvida, foi desfeita pelos caminhões parados. O presidente Michel Temer tornou-se um “pepino” eleitoral para os donos do poder. Seus parceiros de impeachment na política e no “mercado” desesperam-se. E, na moita, até fazem andar uma lei definidora das regras de uma eleição indireta para o caso de o País ficar sem presidente no biênio final de um governo. 

A agonia direitista ficou evidente em meio à greve dos caminhoneiros. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, comentou que o governo Temer é “distante demais da realidade das pessoas”, em entrevista ao Valor da quinta-feira 24. “A equipe econômica faz o que quer, e o Michel não tem a capacidade de ser árbitro desse jogo e ir dando oxigênio”. 



Maia é genro de um dos dois mais íntimos conselheiros de Temer, Moreira Franco, ministro de Minas e Energia. Em julho de 2016, dois meses após o presidente assumir o poder, Maia defendeu que Temer deveria tentar a reeleição, para ser “o candidato do nosso campo”. Foi o primeiro figurão a levantar a ideia em público.

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Quase dois anos depois, na terça-feira 22, Temer foi obrigado a lançar Henrique Meirelles, seu ex-ministro da Fazenda, por não ter chance de encabeçar uma chapa do MDB. O presidente emedebista, Romero Jucá, líder do governo no Senado, diz a portas fechadas que Temer é um “problema” para a legenda e ninguém do partido quer saber dele por perto na eleição. 

Não é difícil entender o motivo. O governo tem só 5% de aprovação. O desemprego aflige mais gente agora do que quando Temer assumiu. A renda cai. A recuperação econômica é uma miragem. O PIB cresceu apenas 1% em 2017 e, no primeiro trimestre de 2018, pode ter voltado a cair. Um termômetro do Banco Central, o IBC-Br, aponta queda de 0,1%. 

E agora vem a greve nas estradas devido ao preço exorbitante dos combustíveis, algo sentido no bolso por toda a população. Uma paralisação que afetará o PIB do segundo trimestre. Explicada, portanto, a revolta do senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, vice-presidente do Senado. 

“O que se percebe nesse instante é que falta governo, falta articulação no comando do Brasil. Cadê o presidente da República?”, perguntou Cunha Lima na quinta-feira 24. “Não é possível mais que o País continue sem rumo como estamos percebendo nesse instante. A crise é grave e por falta de governo pode se agravar ainda mais”. 

Na véspera da declaração do tucano, o Senado pôs para andar uma lei que fixa as regras de uma eleição indireta, restrita a parlamentares, para o caso de o Brasil ficar sem presidente nos últimos dois anos de mandato do governante. Tinha sido proposta em novembro de 2015, às vésperas da degola de Dilma Rousseff, e ficou parada desde então. Terá serventia agora? 

Seu proponente é o senador goiano Ronaldo Caiado, do DEM, partido de Maia. O autor do parecer a favor é o mineiro Antonio Anastasia, do PSDB de Cunha Lima. Quem botou o texto para ser votado na Comissão de Constituição e Justiça foi o maranhense Edson Lobão, do MDB de Jucá. Se nenhum senador pedir até 4 de junho para o plenário votar a lei, ela irá direto à decisão dos deputados. 

Pela lei, as candidaturas indiretas teriam de ser registradas no Tribunal Superior Eleitoral. No dia da eleição, o candidato pertencente a partido com mais de 5% dos votos na última eleição teria 20 minutos para fazer campanha da tribuna. O de sigla com votação inferior a 5%, cinco minutos.

Se faltasse menos de 30 dias para a eleição normal, direta, de outubro, não haveria indireta. O leme nacional ficaria, pela ordem, com o presidente da Câmara, o do Senado e do Supremo Tribunal Federal. 

Maia é presidenciável. Se Temer fosse defenestrado em setembro, iria para a sucessão do emedebista na condição de presidente da República. Baita vantagem para ele e seus aliados do “centrão”. Aliás, DEM, MDB e PSDB tem tentado definir-se como “centro”, e veja-se o que acha o economista neoliberal Armínio Fraga, conforme entrevista ao Estadãodo dia 13. “O centro é uma gororoba que, no fundo, é conservadora de maneira muito primitiva. É o conservadorismo para manter poder e dinheiro. Não tem valor.” 

Uma eleição presidencial sem Temer no poder viria bem a calhar à velha direita. Os presidenciáveis desse “campo” parecem contaminados pela impopularidade do presidente da reforma trabalhista, da tentativa de mexer nas aposentadorias, da gasolina a preço descomedido, do PIB patinante, dos 13,7 milhões de desempregados, dos 4,6 milhões que desistiram de procurar trabalho por achar inútil. 

Os pré-candidatos desse “campo” são os campeões de rejeição nas pesquisas. No levantamento CNT/MDA divulgado em 14 de maio, Maia e o tucano Geraldo Alckmin tinham 55%. Meirelles, 48%. Marina Silva, que pela biografia não pode ser tida como direitista, mas que ocupou esse espaço político na eleição de 2014, tinha rejeição de 56%. Sobrou até para a nova (e extrema) direita. A rejeição a Jair Bolsonaro, do PSL, era de 52%. 

Os postulantes da centro-esquerda tinham 46% de rejeição: Lula, Fernando Haddad, ambos do PT, e Ciro Gomes, do PDT. 

O “mercado” está em pânico. Economista-chefe da Spinelli Investimentos, André Perfeito diz que “caiu a ficha” quanto à enorme dificuldade de vitória de um candidato identificado com as reformas de Temer. Seria uma das razões para a alta do dólar. Em maio, a cotação da moeda subiu de uns 3,5 reais para 3,75, o que obrigou o BC a agir para baixá-la um pouco novamente. 

Segundo Perfeito, uma sequência de acontecimentos nos últimos dez dias, como a pesquisa CNT, o IBC-Br do primeiro trimestre, o fim do corte de juros pelo BC e a greve dos caminhoneiros, entre outros, sugere que “não há força no governo”. Mais: “Que a base aliada do próprio presidente está rifando este em praça pública em ano eleitoral”. 

Para se salvar na crise dos caminhoneiros, Temer convocou as baionetas, ao decidir usar o Exército para desbloquear rodovias. Como tinha feito em maio de 2017 contra protestos em Brasília por sua deposição logo após o escândalo JBS/Friboi. E como fez em fevereiro, ao decretar intervenção na segurança pública do Rio.

Fará o mesmo se seus antigos aliados quiserem se livrar do “pepino” eleitoral?

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