Política
Opinião
Juntos, PT e PSDB se afundam na lama de Cunha
A crise indica que os dois partidos não podem mais ter lugar de protagonismo no futuro do País
por José Antonio Lima
Cunha,
oposicionistas e integrantes de movimentos como Revoltados Online e
Movimento Brasil livre em suposto ato contra a corrupção, em maio
Nos meses que antecederam sua candidatura ao Palácio do Planalto,
Fernando Henrique Cardoso se negava a seguir os conselhos de
correligionários do PSDB e formar uma aliança com o PFL. Hoje travestido
de Democratas, o partido de Antonio Carlos Magalhães e outros coronéis
representava, segundo FHC, “o que há de pior na política”. Entre 1995 e
2002, o vice de FHC foi Marco Maciel, do PFL.
Por décadas, Luiz Inácio Lula da Silva liderou um PT cuja bandeira
principal era a da “ética na política”. No poder, Lula viu crescer sob
suas barbas um escândalo de corrupção que colocou na cadeia alguns dos
principais quadros do partido e outro que vem deixando a República de
cabeça para baixo.
O famigerado presidencialismo de coalizão fomentado por PSDB e PT
trouxe melhoras históricas ao Brasil. Nomeadamente, a estabilização da
moeda com o controle da hiperinflação e uma significativa queda na
pobreza que retirou o País do Mapa da Fome. Ao mesmo tempo, no entanto,
esta forma de governar deu ao Brasil um sistema político que representa o
que há de pior na política, é
extremamente antiético e tenta continuar
existindo às custas da própria população.
Nada é mais simbólico desta situação do que a corte que governo e
oposição, PT e PSDB, fazem para atrair o apoio do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
É difícil exagerar as acusações contra Cunha. Ele é investigado pela
Comissão de Valores Mobiliários por prejudicar um fundo de pensão de
funcionários públicos do Rio de Janeiro; foi citado como beneficiário de propinas milionárias por cinco delatores da Operação Lava Jato; mentiu na CPI da Petrobras; tem contas na Suíça que foram usadas por sua mulher; foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro e pode, a qualquer momento, virar réu.
A “capivara” do presidente da Câmara não é uma novidade. Ainda em
2014, o ex-ministro Ciro Gomes fez um diagnóstico pouco afável do
peemedebista. “Esse cara deve ser, entre mil picaretas, o picareta-mor”.
Ainda assim, a oposição ajudou Cunha a se tornar presidente da Câmara
e o saudou por meses de olho na possibilidade de que o deputado fosse o
artífice do impeachment, um golpismo vislumbrado pelos tucanos como
forma de remediar seu fracasso eleitoral. Agora, mesmo diante da
exposição dos escândalos de Cunha, parte da sigla adota o que o senador
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) chamou de “ética seletiva”. Um único tucano
assinou a representação contra Cunha no Conselho de Ética, e alguns oposicionistas estão quase pedindo desculpas pela nota em que sugeriam o afastamento do presidente da Câmara.
O repentino respeito do PT por Cunha, ensejado nesta semana pelas liminares do Supremo Tribunal Federal
que abalaram o ímpeto do impeachment, deve horrorizar os filiados mais
sensatos. Cunha se fez, e se locupletou segundo os delatores, em meio a
esquemas do qual petistas também se beneficiaram, tanto no caso do
“mensalão” quanto nas investigações da Lava Jato.
Se de fato Cunha tinha a “palavra final” nas nomeações da diretoria
Internacional da Petrobras, como afirmou um dos denunciantes, era porque
o governo petista o bancava. É simbólico e constrangedor que Lula
esteja neste momento em Brasília, segundo consta, em uma tentativa de
salvar Cunha para salvar Dilma. É difícil imaginar um ponto mais baixo
na história do partido – e contraditório, uma vez que 32 parlamentares
assinaram a representação contra o peemedebista.
Num vale tudo político, PSDB e PT buscam o poder pelo poder. O
primeiro, numa empreitada irresponsável para derrubar o governo eleito, e
o segundo na tentativa de escapar da derrubada, o que é menos pior, mas
nem tanto, diante da falta de projeto e visão do governo.
Para trás, PSDB e PT deixam qualquer expectativa de que os dois
possam ser, ou mesmo integrar, eventuais tentativas de tornar o sistema
político brasileiro mais legítimo sob os olhares da população. O regime
que criaram, um depois do outro, entre 1995 e 2012, foi duramente
golpeado em junho de 2013, mas ainda tenta respirar, e rouba o ar, e o
que resta de dignidade, das duas legendas.
O mais preocupante é que não desponta no horizonte uma contestação
viável ao que está posto. O que sobra em integridade ao PSOL, em
especial a sua bancada na Câmara, falta em habilidade política. Ciro
Gomes, agora no PDT, faz de forma perfeita o diagnóstico dos problemas
do presidencialismo brasileiro, mas não se sabe qual a possibilidade de
ele liderar um governo que não aderisse ao sistema. E Marina Silva, que
finalmente conseguiu tirar a Rede do papel, sofre para formatar a ideia
da “nova política”, lançada, mas nunca vista. Enquanto isso, o País
segue à deriva.
Fonte:http://www.cartacapital.com.br/politica/juntos-pt-e-psdb-se-afundam-na-lama-de-cunha-8225.html
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