Eduardo Cunha perde apoio no Conselho de Ética
Aliados calculam que, em menos de 24 horas, ele perdeu cerca de metade dos votos que tinha
Cunha perdeu o voto dos que o apoiavam acreditando que não havia provas ou que elas não apareceriam até o fim do julgamento
Câmara dos Deputados
O isolamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), diante do
agravamento das denúncias contra ele nos últimos dias já produz
reflexos no Conselho de Ética, que deve analisar seu processo por quebra
de decoro parlamentar.
Aliados calculam que, em menos de 24 horas, ele perdeu cerca de metade
dos votos que tinha no colegiado e agora terá de apostar em manobras
regimentais para evitar a perda do mandato e, consequentemente, do foro
privilegiado.
O caso de Cunha chegou ao Conselho de Ética graças a uma representação
feita pelo PSOL e pela Rede com base em acusações da Procuradoria-Geral
da República de que ele manteria contas secretas na Suíça.
Cabe ao colegiado aprovar parecer indicando a cassação ou
a manutenção
do mandato, após uma investigação. O julgamento sobre o destino político
do parlamentar é tarefa do plenário.
Aliados do peemedebista contabilizavam na noite de quinta-feira (15) de
11 a 14 votos a favor de Cunha entre os 21 titulares do conselho — o
presidente vota, mas só em caso de empate. Na tarde do dia seguinte
(16), após a divulgação dos documentos que reforçam que o presidente da
Câmara possui contas na Suíça, o cálculo girava em torno de apenas cinco
apoios. Foram colocados em dúvida votos de PP, PSD e PR, antes
considerados favoráveis. Os votos dos deputados do DEM (1), do PSDB (2) e
do PPS (1), para alguns parlamentares, permanecem uma incógnita.
O Conselho de Ética não permite troca de seus 21 membros, a não ser em
situação de renúncia ou morte. Em caso de ausência, o titular é
substituído por um suplente do mesmo partido. Faltam ser preenchidas
duas vagas de suplência no bloco do PT e duas no do PSDB.
Além das suspeitas crescentes, a perspectiva de judicialização de
movimentos de Cunha em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff
esvaziou qualquer ensaio de aproximação do PT e de aliados do governo
com o peemedebista para salvá-lo. Diante da instabilidade do momento,
deputados discutem a situação de Cunha apenas nos bastidores.
Segundo um correligionário do presidente da Câmara, o deputado perdeu o
voto daqueles que sustentavam o apoio na crença de que não havia provas
ou de que elas não apareceriam até o fim do julgamento. Este
peemedebista diz que a revelação dos documentos "tira o conforto de quem
quer ajudá-lo" e que, agora, Cunha passa a contar apenas com
parlamentares que não precisam dos chamados "votos de opinião" para se
eleger.
Para ilustrar a situação de Cunha, um deputado do PMDB diz que os
aliados caminharam com o presidente até a "beira da cova", mas "agora a
cova chegou e ninguém vai pular com ele".
Um líder da oposição diz acreditar que o peemedebista só conseguirá
obter sucesso em caso de acordo ou se o processo no conselho não for de
fato aberto, pois, no plenário da Câmara, o presidente da Casa perderia a
votação. O processo só não é aberto em caso de inépcia (quando não
atende às exigências das normas regimentais) ou falta de justa causa da
representação apresentada, aspectos que serão analisados pelo colegiado.
Já um governista próximo de Eduardo Cunha diz que o cenário é
imprevisível e que "pode ser que amanhã a situação dele fique menos
ruim", o que lhe devolveria alguns votos.
Manobras. Profundo conhecedor das regras da Casa, Cunha ainda tem a seu
favor a possibilidade de adotar manobras protelatórias e suscitar
discussões que podem alongar o processo no Conselho de Ética,
contrariando os planos do presidente do colegiado, deputado José Carlos
Araújo (PSD-BA), que diz pretender concluir a análise do caso do
presidente da Câmara ainda neste ano.
"Quero fazer o mais rápido possível. Quanto mais rápido eu sair deste
problema, melhor para mim", disse Araújo. Ele pretendia começar os
trabalhos já nesta semana, mas deve ter que esperar mais alguns dias. A
Mesa Diretora tem até três sessões ordinárias para devolver
representação contra Cunha ao colegiado, para que o processo seja
aberto. No entanto, só há duas sessões marcadas para esta semana. A
terceira está prevista apenas para a outra terça-feira, no dia 27,
segundo a Secretaria-Geral da Mesa.
De acordo com o Código de Ética da Câmara, o relator do processo deve
ser escolhido pelo presidente do conselho a partir de três nomes de
integrantes do colegiado sorteados.
Em nota divulgada anteontem, Cunha se disse alvo de perseguição. "Alguma
vez na história do Ministério Público um procurador-geral respondeu a
ofício de partido político da forma como foi respondido com relação ao
presidente da Câmara, em tempo recorde para ser usado em uma
representação ao Conselho de Ética?", questionou. As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo.
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