Política
Operação Lava Jato
Senadores do PT receberam ao menos R$ 4 milhões, apontam petições
Para Procuradoria-Geral da República, Gleisi Hoffman, Lindberg Farias e
Humberto Costa sabiam que repasses recebidos da Petrobras eram ilícitos
por Gabriel Bonis
Agência Senado
Os senadores Humberto Costa (à esq), Gleisi Hoffman e Lindberg Farias
As petições para a abertura de
inquérito contra políticos implicados no esquema de corrupção na
Petrobras apontam que os três senadores do PT investigados pela Operação
Lava Jato receberam ao menos 4 milhões de reais de forma ilícita. Nos
documentos, o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, indica que
os parlamentares sabiam da irregularidade das verbas ao pedirem doações
para suas campanhas. O PGR pediu a investigação da ex-ministra-chefe da
Casa Civil, Gleisi Hoffman, de Lindberg Farias e do ex-ministro da
Saúde, Humberto Costa.
Os três são podem ser acusados de
corrupção passiva qualificada e lavagem de dinheiro, pois os valores
teriam sido repassados após “processos de ocultação e dissimulação dos
valores provenientes dos crimes contra a Administração”. A instauração
do
inquérito deve ocorrer em um prazo inicial de 30 dias e os senadores
serão convocados a depor.
Nas petições, Janot afirma que os
políticos não apenas tinham consciência de que os valores “eram
provenientes das vantagens indevidas destinadas aos diretores e altos
funcionários da Petrobras”, como atuavam, direta ou indiretamente, pela
continuidade do esquema.
A petição de Hoffman destaca que o doleiro
Alberto Youssef, um dos operadores do esquema beneficiado por um acordo
de delação premiada, afirmou que a ex-ministra “tinha
conhecimento da estrutura que envolvia a distribuição e repasse de
comissões no âmbito da Petrobras”. Segundo Youssef, ela se beneficiou do
esquema durante sua campanha para o Senado em 2010. O doleiro afirmou
ter repassado pessoalmente 1 milhão de reais desviados da estatal para a
campanha da petista, entregando o valor a “um senhor em um shopping de
Curitiba”.
De acordo com Janot, há elementos que
“aparentemente confirmam o teor das declarações dos colaboradores”.
Entre eles, está uma agenda de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de
Abastecimento da Petrobras por indicação do PP, contendo diversas
anotações de repasses de propina. Costa, que também tem um acordo de
delação premiada, afirma que o nome de Hoffman consta na agenda pelas
iniciais “PB” e “1,0”.
Na petição, Janot conclui haver elementos
suficientes para justificar a instauração de inquérito e que a senadora
“pelo menos aderira às condutas dos investigados desde o princípio”. O
PGR pediu a pesquisa das doações a Hoffman na campanha de 2010, ao
Comitê Financeiro Único e do Diretório Estadual do Partido dos
Trabalhadores para averiguar se entre os doadores aparecem empresas
investigadas pela Operação Lava-Jato.
Lindberg Farias teria recebido ao menos R$ 2 milhões
De acordo com os pedidos de abertura de
inquérito, o senador Lindberg Farias recebeu o maior repasse entre os
petistas. Paulo Roberto Costa afirma que Farias solicitou e recebeu dois
milhões de reais para sua campanha ao Senado em 2010.
Costa diz que o pedido ocorreu em uma
reunião previamente agendada em seu escritório na estatal no Rio de
Janeiro. A reunião provavelmente consta da agenda de Costa na Petrobras,
aponta a petição. O senador estava acompanhado de seu assessor José
Antônio Silva Parente.
A forma como o repasse foi feito, no
entanto, apresenta desencontros. Costa alega ter acionado Youssef, mas
desconhece como o pagamento foi operacionalizado. O ex-diretor afirma
poder garantir que o depósito foi realizado, “caso contrário haveria
reclamação, como de fato ocorria”. Por outro lado, não se recorda de
ter realizado registro do repasse. Em outra parte do depoimento, ele diz
que Farias agradeceu o repasse posteriormente “provavelmente em um
evento social, dizendo que ‘aquele assunto estava resolvido’”.
Por outro lado, Youssef disse não ter sido
responsável pela “operacionalização” do pagamento e negou conhecer
Lindberg e seu assessor, além de afirma nunca lhe terem feito um pedido
para fazer algum pagamento a Farias. Ele completa dizendo que Costa
“pode ter se confundido” e que o repasse pode ter sido realizado
diretamente pelas empresas.
O inquérito destaca então a transferência
de cerca de um milhão de reais pela construtora Camargo Corrêa,
implicada na Lava Jato, para Farias, além de 20 transferências do
Diretório Nacional do PT em 2010. De acordo com a petição, o Diretório
Nacional do PT transferiu a campanha de Farias altos valores de grandes
construtoras, a maioria delas envolvidas no cartel da Petrobras, “no
mesmo dia ou no dia seguinte” ao recebimento pelo partido destes
valores, em geral abatendo de 5% a 10%.
Na petição, são citadas diversas
transferências de construtoras implicadas na Lava Jato ao PT, que as
repassou a Farias. Um exemplo é uma transação de 1 milhão de reais em 03
de agosto de 2010, realizada pela construtora Andrade Gutierrez ao
Diretório Nacional do partido. No mesmo dia, a campanha do senador
recebeu 950 mil, um desconto de 5% “que pode representar o valor cobrado
por eventual operador”. O documento cita outras transferências de
construtoras por meio do PT insinuando que o senador por ter recebido um
valor maior de propina de outras construtoras.
Janot ainda cita um documento apreendido
na sede da Queiroz Galvão com diversas anotações de doações, na qual
aparece o nome “Lindinho” à frente da quantia de “200” - uma indicação
de 200 mil reais. O executivo Júlio Gerin de Camargo, um dos delatores
da Lava Jato, confirmou o pagamento de propinas na Petrobras e realizou
doações de 200 mil a Farias. Ele, contudo, nega que essa doação fosse
propina.
Na petição, Paulo Roberto Costa revela ter
sido novamente procurado por Farias em 2014“para aproximar-se das
empresas e pedir dinheiro para a campanha do parlamentar” naquele ano.
Ele ainda diz que Faria o indicaria Secretário de Estado caso ganhasse o
governo do Rio de Janeiro.
Janot aponta que o senador tinha
conhecimento da irregularidade dos valores recebidos, pois “não haveria
qualquer justificativa lícita razoável para o recebimento de valores por
intermédio do então Diretor da Petrobras”. O PGR pediu os registros das
entradas de Farias na Petrobras e das agendas de reunião com Costa para
que se identifique alguma visita ou reunião entre os dois em 2010.
Amigo de Humberto Costa teria pedido R$ 1 milhão
O ex-diretor da Petrobras também implica
Humberto Costa no esquema de corrupção da Petrobras. Paulo Roberto Costa
diz que em 2010 foi procurado por Mario Beltrão, um amigo de longa data
do senador que lhe pediu dinheiro para a campanha ao Senado de Humberto
Costa. Ele não se lembra se o encontro ocorreu na Petrobras ou em
Pernambuco, mas alega que o valor foi de 1 milhão de reais.
O ex-diretor da Petrobras concordou com o
repasse porque o senador “era um expoente dentro do PT” e determinou que
Youssef disponibilizasse a quantia. Mais uma vez, Youssef negou ser o
responsável pelo repasse e alegou não conhecer Beltrão, Costa ou
qualquer um de seus assessores.
Segundo Janot, o descompasso entre as
declarações de Youssef e Paulo Roberto Costa “não esconde algumas
certezas”. Para o PGR, “na essência” as declarações dos delatores
“sempre se provaram verdadeiras”. Ele ainda questiona o fato de que dos
5,2 milhões declarados pelo senador como receita na campanha em 2010,
1,5 milhão partiram de transferencias da Camargo Corrêa e da Construtora
OAS, investigadas na Lava Jato.
Janot também pediu acesso à agenda de
reuniões de Paulo Roberto Costa na Petrobras e aos registros de entradas
de pessoas na sede da estatal no Rio para verificar a existência de
alguma reunião entre Beltrão e Paulo Roberto Costa em 2010.
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