A gestora americana BlackRock mapeou riscos e oportunidades no mundo. E há boas notícias no Brasil
Por Cláudio GRADILONE
Poucos períodos foram tão desafiadores para o investidor, aqui
e lá fora. Em horas como essa, só consultando os especialistas. No
caso, os analistas da gestora de origem americana BlackRock, maior
administradora de fundos de ações dos Estados Unidos, com um patrimônio
de US$ 3,9 trilhões. Com investimentos em 30 países, a BlackRock
realiza, duas vezes por ano, um estudo das expectativas dos investidores
em todo o mundo. DINHEIRO obteve, com exclusividade, acesso a essa
análise. E já antecipa a conclusão: na floresta dos investimentos há
oportunidades excelentes para quem tiver paciência – e o Brasil está no
topo da lista. A seguir, os principais pontos da pesquisa:
EUA – A incógnita Bernanke
Situação: Ben Bernanke, presidente do Federal
Reserve (Fed), o banco central americano, teve de enfrentar um período
de grave turbulência financeira. Para impedir a débâcle generalizada da
economia americana, o Fed injetou mais de US$ 3 trilhões nos últimos
cinco anos no sistema financeiro e reduziu os juros a praticamente zero a
partir de 2009. Agora, é hora de reduzir essa dosagem maciça de
medicamentos para permitir que as empresas e os bancos andem sozinhos.
“Os trilhões de dólares inseridos na economia suavizaram a crise, mas
não estimularam o crescimento nem o crédito”, afirma o americano Russ
Koesterich, chefe global de estratégia de investimentos da BlackRock. O
ritmo da retirada dos pacotes de ajuda é a grande incógnita. “Será algo
definido pelos indicadores econômicos, que vão mostrar com que
velocidade o Fed pode parar de ajudar”, diz. Sua avaliação é que a
economia americana vai crescer devagar. Melhoras mais nítidas só no fim
do ano.
O que observar: o desemprego. Em 2009, esse
indicador estava em elevados 10%, tendo recuado para 7,5% no segundo
trimestre deste ano. Para os especialistas, quando a taxa recuar para
7%, o fluxo de recursos públicos para o mercado vai estancar, derrubando
as ações nos Estados Unidos e reduzindo ainda mais o fluxo de recursos
para outros países.
Europa – A ameaça dos bancos
Situação: A divisão do continente europeu está
mais profunda. Há uma distância maior entre os países do Norte em boa
situação, como Alemanha e Holanda, e os países do Sul com problemas mais
sérios, como Grécia, Portugal e, em menor escala, Espanha e Itália. Não
se esperam grandes mudanças no curto prazo, devido às eleições alemãs,
marcadas para setembro. Até lá, é pouco provável que Mario Draghi,
presidente do Banco Central Europeu (BCE), consiga resolver a situação
dos bancos. Segundo Koesterich, a crise bancária cipriota de abril
passado é uma prova da fragilidade da situação. “Se um país pequeno como
Chipre é capaz de afetar os papéis de bancos alemães, problemas na
Grécia ou em Portugal serão muito sérios.” No entanto, diz ele, há
empresas alemãs, francesas e holandesas menos expostas aos solavancos
das economias de seus países e podem ser boas alternativas no mercado
acionário.
O que observar: a classificação de risco de países
como Espanha e Itália, que pode ser rebaixada a qualquer momento. Um
rebaixamento deverá provocar uma confusão momentânea nos mercados,
criando boas oportunidades de compra
Ásia – A síndrome da China
Situação: China e Japão, as duas principais
economias asiáticas, enfrentam situações díspares. A China deverá
reduzir seu crescimento, neste ano, para 7,5%. Esse desempenho modesto –
para os padrões chineses, claro – não implica apenas uma desaceleração
das vendas de commodities. Ele também traz a ameaça de uma crise
bancária chinesa. “Os bancos na China são pouco transparentes e, por
isso, é difícil saber ao certo quais estão saudáveis e quais têm
problemas”, diz o executivo da BlackRock. Como o crescimento da economia
por lá tem sido baseado no consumo e depende do aumento do crédito, um
soluço dos bancos vai afetar toda a economia. Já o caso japonês é
radicalmente diferente. Depois de três décadas de tentativas frustradas,
o governo de Tóquio conseguiu colocar em prática as reformas
estruturais necessárias para estimular a economia, o que proporciona
boas oportunidades para os investidores, desde que com um horizonte de
longo prazo.
O que observar: a situação no Oriente Médio. A troca de governo no Egito e as manifestações na Turquia podem elevar os preços do petróleo.
Brasil e países emergentes – Preços de ocasião
Situação: Os países emergentes, o Brasil entre
eles, têm apresentado um desempenho ruim nos últimos meses. A causa
principal é a incerteza com relação à economia americana, além de alguns
problemas pontuais. “As manifestações no Brasil deixaram os
investidores desconfortáveis”, diz Koesterich. “Embora não se espere
nenhuma mudança drástica ou ruptura, nenhum investidor gosta de ver
gente protestando na rua.” Mesmo assim, diz ele, há excelentes
oportunidades no mercado para quem tiver paciência. Segundo Koesterich, a
questão a ser resolvida no Brasil é a retomada do crescimento
econômico, a cargo de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central
(BC). Quando a economia recuperar seu ritmo, algo cujo momento ele não
se arrisca a prever, as ações devem subir bastante. “Há excelentes
empresas que estão muito baratas quando comparadas a seus pares de
países desenvolvidos”, afirma. O investidor que estiver disposto a
ignorar os solavancos pontuais e mantiver os papéis em carteira por pelo
menos dois anos não terá do que reclamar.
O que observar: o ritmo do crescimento econômico nos países emergentes e o comportamento do Federal Reserve nos Estados Unidos.
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