ROBERTO AMARAL DIZ Vê CLARO USO POLÍTICO DA POLÍCIA FEDERAL NA OPERAÇÃO LAVA JATO
São Paulo
Afastado da
direção do partido após decidir apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, o
ex-presidente do PSB Roberto Amaral disse em entrevista ao Broadcast
Político ver claramente um uso político da Polícia Federal nas
investigações da operação Lava Jato. “Tem alguma inteligência
articulando isso (os vazamentos dos conteúdos das delações). Isso
prejudica o País”, afirmou.
Amaral cita a forma e as datas em que as informações são vazadas como
evidências da manipulação política. Ele questiona, por exemplo, o
vazamento da delação de Ricardo Pessoa, da UTC, que implicou dois
ministros – Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação
Social) – às vésperas da viagem de Dilma para os Estados Unidos, uma
possível agenda positiva para o Planalto. E critica o fato de apenas as
doações a petistas estarem no foco dos vazamentos. “A diferença da
declaração de campanha entre Aécio (Neves) e Dilma é mínima. Agora, de
um lado tem a suposição da ilicitude e do outro, não.”
O socialista pondera, no entanto, que o governo não pode adotar o
discurso “suicida” de criticar a PF, pois é uma instituição que precisa
ter respeitada sua independência. A solução, para ele, seria haver uma
fiscalização de
possíveis abusos e responsabilização. “Tinha que haver
um instituto legal para impedir isso, para responsabilizar”, avaliou.
Frente Popular
Amaral articula com outras forças políticas – incluindo petistas como
o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro – uma frente que chama
de “popular e democrática”. O intuito é fazer uma mobilização social
sem um foco eleitoral, segundo Amaral. O movimento surge no Rio de
Janeiro, onde teve um primeiro evento formal nesta semana, e pretende se
espalhar pelo País. “A gente tem que agir antes da eleição, como na
erupção de 2013″, disse, referindo-se às manifestações de rua que
sacudiram o Brasil naquele ano.
“Nosso objetivo estratégico é tentar barrar o avanço da direita”, diz
o dirigente. Amaral é uma das vozes críticas ao atual Congresso
Nacional, que chama de “reacionário”. “É um Congresso ordinário – não
constituinte – que está reescrevendo a Constituição, querendo reduzir a
maioridade penal, mudar a demarcação das terras indígenas, alterando
direitos trabalhistas, estatuto da família, discussão de gênero, fazendo
campanha pelo armamento e que quer ainda constitucionalizar a
corrupção”, criticou, fazendo referência à PEC aprovada na Câmara que
legaliza a doação empresarial a partidos políticos. Amaral chama o
presidente atual da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de “sátrapa”, uma
espécie de déspota que tenta impor um “parlamentarismo fraco” ao País.
Amaral disse que um dos principais temas da frente popular que tenta
emplacar é como evitar o avanço de concepções reacionárias que, na visão
da movimento, podem ter um impacto nefasto sobre a economia do País.
Segundo o relato do socialista, cerca de 200 pessoas participaram do
lançamento da Frente, no Clube de Engenharia do Rio, entre
representantes de movimentos sociais e do empresariado.
“Um dos nossos temas foi a defesa da engenharia nacional. Você bota o
Marcelo Odebrecht na cadeia, tritura quem você quiser – acho inclusive
um avanço extraordinário estarmos punindo essas pessoas. Agora, se
destruir as dez maiores empresas brasileiras, que têm know-how no
pré-sal, na engenharia, na infraestrutura, você destrói o País.” Para
Amaral, criar esse “buraco” só interessa ao capital estrangeiro, “a
começar pelos chineses, que estão aí na porta esperando para fazer aqui o
que fizeram na África”. “Nós temos que, quando jogar fora a água do
parto, não jogar o bebê”, defendeu.
Amaral diz até que, se fosse presidente, pensaria em uma forma de
intervir nas empresas investigadas, afastar a direção para “limpar e
regularizar” e devolver depois ao mercado, usando como base o mecanismo
de intervenção do Banco Central sobre instituições financeiras.
Governo
Amaral tem um alinhamento político em relação ao governo Dilma
semelhante ao de centrais sindicais e movimentos sociais. Assume uma
postura crítica ao ajuste fiscal, mas não aceita a linha oposicionista
que caminha para o pedido de impeachment da presidente. “Não vou além
(dessa postura crítica) porque não acho que devo. Ir além é defender o
golpe. A questão fundamental é a governança. Não é só pela Dilma, não.
Este país precisa, o empresariado brasileiro precisa realizar seus
lucros. Mantido esse clima por mais alguns meses, nem o empresariado
nacional nem o estrangeiro investe.”
O socialista evita críticas diretas à condução política do governo,
mas admite as evidentes dificuldades, chegando a classificar como
“esquizofrenia” o governo puxar pelo ajuste de um lado e o Congresso
puxar pelo aumento de gastos do outro. Próximo a Lula, de quem foi
ministro da Ciência e Tecnologia, ele aponta um erro do ex-presidente e
do PT ao direcionar os principais expoentes da legenda para a esfera do
governo – além dos quadros que foram afastados do partido por conta do
mensalão, como José Dirceu e João Paulo Cunha. Para Amaral, isso criou
um “vácuo de ação” política e ideológica no PT que afetou profundamente o
governo Dilma.
Amaral não fala abertamente sobre sua possível saída do PSB, apenas
admite que sua situação na legenda é difícil e não tem qualquer
relacionamento com a direção. Recentemente, Amaral contrariou orientação
do partido e aceitou um cargo ligado ao governo federal – de
conselheiro da Itaipu. (Ana Fernandes e Valmar Hupsel Filho)
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