Denúncia contra Cunha pode ligar Lava Jato à privataria tucana
Livro publicado em 2011 trazia revelações sobre movimentações financeiras em paraísos fiscais por pessoas próximas ao senador José Serra. E também a Fernando Baiano, suposto "sócio oculto" de Cunha.
24/08/2015
Por Helena Sthephanowitz
Créditos: Marcos Oliveira/Ag. Senado |
A
denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
tem uma surpresa. Na página 40 aparece a ligação da Operação Lava Jato
com a privataria tucana, ao rastrear o caminho do dinheiro das propinas
sobre contratos de construção de sondas pela Samsung para a Petrobras.
Segundo
a denúncia do Ministério Público, o representante da Samsung, Júlio
Camargo, recebeu comissão por ter conquistado o contrato – e distribuiu
propinas. Três desses pagamentos, entre junho e outubro de 2007,
saíram das contas, em paraísos fiscais, das empresas Piamonte
Investment e Winterbothan Trust Company, do próprio Camargo, para a
Iberbras Integración de Negócios Y Tecnologia, ligada a
Fernando
Soares, o Fernando Baiano, chamado por Camargo de “sócio oculto” de
Eduardo Cunha.
A denúncia registra que a
Iberbras tem uma sucursal brasileira – Iberbras Integração de
Negócios, de CNPJ 068.785.595/0001-01 –, registrada em nome de Hiladio
Ivo Marchetti, marido de Claudia Talan Marin, que, por sua vez, é
proprietária do Condomínio Vale do Segredo Gestão de Patrimônio Eireli,
em Trancoso, no litoral sul da Bahia. Fernando Baiano tem entre seus
bens sequestrados pela Justiça uma mansão naquele condomínio e realizou
transferências para Cláudia Talan Marin no valor de R$ 1,6 milhão.
Cláudia
Talan Marin e Hiladio Ivo Marchetti são filha e genro de Gregório
Marin Preciado, ex-sócio do senador José Serra (PSDB-SP) em um terreno
no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. A mãe de Cláudia, Vicencia Talan
Marin, é prima do senador tucano. Por este parentesco, Preciado muitas
vezes é tratado nos meios políticos como "primo" de Serra.
Todo o capítulo 8 do livro-reportagem A Privataria Tucana
(de Amaury Ribeiro Júnior, Geração Editorial, 2011) é dedicado a
Preciado, com o título “O primo mais esperto de José Serra”. No final do
capítulo 7, há documentos da CPI do Banestado obtidos no Tribunal de
Justiça de São Paulo, comprovando a movimentação milionária de dinheiro
de Preciado em paraísos fiscais, em negócios com Ricardo Sérgio de
Oliveira, ex-tesoureiro de Serra.
As relações de Preciado com
Serra são antigas e profundas. A antiga empresa de consultoria do atual
senador, denominada ACP Análise da Conjuntura Econômica e Perspectivas
Ltda., tinha como endereço o prédio da firma Gremafer, pertencente a
Gregório Preciado. Neste imóvel também funcionaram os comitês de
campanha de José Serra nas eleições de 1994 para o Senado, e de 1996,
para prefeito de São Paulo.
Preciado também contribuiu para
financiar campanhas de Serra nos anos de 1990 por intermédio de suas
empresas Aceto, Gremafer e Petrolast. A família de Serra visitava
sempre as casas de Preciado em Trancoso, região onde ele passou a fazer
negócios imobiliários.
Um caso rumoroso envolvendo o DEM da Bahia foi na Ilha do Urubu.
A
ligação de Fernando Baiano com a Iberbras foi confirmada nas
investigações a partir do controle de acesso na portaria da Petrobras,
onde Baiano identificou-se como representante da empresa.
Segundo
informações de bastidores a respeito da delação premiada de Fernando
Baiano, ainda sob sigilo, um dos assuntos delatados seria justamente
negócios com o "primo" de Serra. A conferir.
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