Entenda as razões da Rússia para a crise na Ucrânia
Soldados,
que seriam russos, do lado de fora do território de uma unidade militar
ucraniana no vilarejo de Perevalnoy, na Crimeia
A decisão da Rússia de intervir na crise da Ucrânia tem despertado reações no mundo todo.
O Secretário de Estado americano, John Kerry,
descreveu a medida como "um ato descarado de agressão em violação da lei
internacional, em violação da Carta das Nações Unidas". Em coletiva
nesta terça, ele acusou Moscou de esconder suas verdadeiras intenções na
Ucrânia por meio de "intimidação e falsidade".
A Rússia, por sua vez, afirma que quer proteger os direitos humanos dos cidadãos russos na Ucrânia.
Mas, qual a justificativa para enviar tropas para a região da Crimeia? Entenda:
Qual o interesse russo na Crimeia?
A Rússia tem uma ligação histórica com a
península desde a época de Catarina a Grande, no século 18, quando os
russos conquistaram o sul da Ucrânia e a Crimeia, tomando a região do
Império Otomano. Em
1954, a Crimeia foi presenteada à Ucrânia pelo líder
soviético Nikita Khrushchev, de origem ucraniana.
Apenas dez anos antes, Joseph Stálin tinha
deportado toda a população tártara da Crimeia, cerca de 300 mil pessoas,
sob a acusação de cooperação com a Alemanha de Hitler.
Quando a Ucrânia conquistou a independência, em
1991, o presidente russo Boris Yéltsin aceitou que a Crimeia continuasse
parte da Ucrânia, com a frota russa do Mar Negro permanecendo em
Sevastopol, alugando instalações do governo ucraniano.
Há base legal para as ações da Rússia?
De acordo com o Memorando de Budapeste, de 1994,
EUA, Rússia, Ucrânia e a Grã-Bretanha concordaram em não ameaçar ou
usar força contra a integridade territorial ou independência política da
Ucrânia, ou pressionar o país economicamente.
A Rússia, no entanto, afirma que o envio de soldados à Ucrânia visa a proteção dos cidadãos russos.
Existe uma maioria étnica russa na república
autônoma da Crimeia. A frota russa no Mar Negro está em Sevastopol,
cidade onde a maior parte da população tem passaporte russo.
Mas os Estados Unidos insistem que não há base
legal para o envio de soldados e acusa o governo russo de violar seu
compromisso com a soberania ucraniana. O resto do G7, grupo formado
pelas maiores economias do mundo, concorda com os EUA.
Segundo os termos do acordo com a Ucrânia, a
Rússia pode manter 25 mil soldados na península. Atualmente o país conta
com 16 mil na região.
Qual é a resposta da Rússia às acusações?
Inicialmente, a Rússia negou desrespeito ao
Memorando de Budapeste. Mas o governo agora afirma que a situação na
Ucrânia está piorando depois que o que eles chamam de "extremistas
radicais" tomaram o poder no país. Segundo os russos, isso ameaça as
vidas e a segurança dos moradores da Crimeia e de outras regiões no
sudeste do país.
Os russos também afirmam que o novo governo
ucraniano está "pisoteando" o acordo de 21 de fevereiro assinado pelo
presidente deposto Viktor Yanukovych.
O que aconteceu com o acordo de 21 de fevereiro?
O acordo de 21 de fevereiro foi assinado pelo presidente deposto (2º da dir. para esq.) e líderes de oposição
Quando Yanukovych fugiu de Kiev, a oposição
tomou o poder. Mas, no começo daquela semana, para tentar diminuir a
tensão durante a crise, os dois lados haviam chegado a um acordo para
restaurar a Constituição aprovada em 2004 e reduzir os poderes do
presidente.
O acordo foi assinado por Yanukovych, líderes de oposição e três chanceleres da União Europeia.
Mas os desdobramentos em Kiev fizeram com que o
acordo ficasse rapidamente obsoleto. E ele não foi assinado pela
autoridade russa presente naquele momento.
Qual o papel dos 'extremistas radicais'?
Para os nacionalistas, Stepan Bandera é um herói da independência mas, para os russos, ele é um fascista
Moscou afirma com frequência que os protestos na
Praça da Independência, em Kiev, foram tomados pela extrema direita do
país, que desde então aproveitou para tomar o poder em um novo governo
que inclui "nazistas mal disfarçados".
Dois grupos, o Setor Direito e o Svoboda
(Liberdade), são citados frequentemente e há referências regulares ao
nacionalista dos tempos da Segunda Guerra Stepan Bandera, visto como um
herói para alguns mas acusado por outros de ser um colaborador nazista.
A extrema direita era minoria nos protestos, que
conseguiram apoio em vários setores da sociedade. No entanto,
direitistas se envolveram em confrontos violentos e símbolos
nacionalistas eram vistos com frequência na praça.
O partido nacionalista Svoboda tem quatro cargos
no governo. Oleksandr Sych é o vice-primeiro-ministro e Oleh Makhnitsky
é o procurador-geral interino. O partido também lidera as pastas da
agricultura e ecologia, mas o líder, que foi acusado de antissemitismo,
não faz parte do governo.
O novo governo é contra a Rússia?
Parte do problema é que o governo que assumiu na
semana passada tem pouca ligação com o leste da Ucrânia, onde os russos
predominam.
Uma de suas primeiras ações foi revogar uma lei
de 2012 que reconhecia o russo como uma língua regional oficial. A
decisão foi criticada em toda a Ucrânia.
Cidadãos russos correm perigo na Crimeia?
Na semana passada, ocorreram distúrbios na
capital da Crimeia, Simferopol, quando manifestantes pró-Rússia e grupos
que apoiam os novos líderes ucranianos entraram em confronto diante do
Parlamento.
Depois de virem à tona informações de que
soldados russos estavam ocupando a Crimeia, Moscou acusou o governo
ucraniano que enviar homens armados para desestabilizar a península. Mas
a península da Crimeia já estava nas mãos dos russos.
A situação da Crimeia abre precedente para outras cidades ucranianas?
As circunstâncias nas cidades do leste, como
Donetsk e Kharkiv, podem ser comparadas à situação na Crimeia. Houve
protestos a favor dos russos nas duas cidades, onde o idioma
predominante é o russo.
A entrada do governo regional em Donetsk foi danificada pelos manifestantes partidários da Rússia
Correspondentes descreveram como os manifestantes de Donetsk gritavam "Putin, venha".
Existe uma 'crise humanitária'?
Há informações não confirmadas na imprensa russa
de que 675 mil ucranianos já cruzaram a fronteira e entraram na Rússia
desde o começo do ano.
Mas um canal de televisão russo fez uma
reportagem mostrando o que chamou de "catástrofe humanitária" usando
imagens de poloneses cruzando a fronteira, algo não relacionado com a
crise.
Fonte: http://www.bbc.co.uk
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