Dilma revê promessa para apressar desapropriações
Em janeiro deste ano, uma portaria baixada pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário determinou que novas áreas só seriam
desapropriadas após a realização de estudos completos. No início de
outubro, nova portaria eliminou essa exigência para cerca de 100
processos que já estavam em andamento.
A nova portaria deu a Dilma a possibilidade de retomar a reforma agrária
após dez meses sem fazer novas desapropriações. A lentidão do
governo nessa área transformou a presidente em alvo de críticas frequentes de movimentos sociais que sempre foram alinhados com o PT, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
governo nessa área transformou a presidente em alvo de críticas frequentes de movimentos sociais que sempre foram alinhados com o PT, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A nova portaria do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, foi
publicada no dia 14 de outubro. Na sexta-feira, passados apenas dez
dias, Dilma assinou os decretos de desapropriação de oito áreas em seis
Estados.
Nenhuma dessas propriedades foi submetida aos estudos prometidos por
Dilma. No início do ano, quando eles passaram a ser exigidos, a
justificativa do governo era que não adiantava distribuir terra sem
analisar as condições que os assentados teriam de produzir e gerar
renda.
A própria presidente deixou isso claro em seus discursos, e o ministro
Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, chegou a
classificar como "favelas rurais" os assentamentos precários criados em
governos anteriores.
Com a portaria de janeiro, cerca de 100 processos de desapropriação que
já estavam próximos de receber a assinatura de Dilma foram devolvidos
aos Estados para a realização dos novos estudos.
Os peritos deveriam identificar a vocação agropecuária das terras,
analisar as condições naturais e a viabilidade de cada local e indicar
políticas públicas que poderiam ajudar os futuros assentados.
O problema é que as superintendências regionais do Incra, órgão
responsável pela reforma agrária, não conseguiram concluir os estudos.
Segundo o sindicato dos peritos agrários do Incra, faltaram
profissionais para o trabalho, e normas internas para orientá-los. O
sindicato diz também que a categoria está "desmotivada", sem aumento
salarial desde 2010.
Para dar a Dilma a chance de retomar as desapropriações antes do fim do
ano, a solução encontrada por Pepe Vargas foi baixar a nova portaria,
que retirou das superintendências regionais a responsabilidade pelos
estudos.
Devolvidos a Brasília, os processos foram encaminhados a analistas do
Incra, que deram pareceres sobre as áreas sem realizar os estudos que o
governo pretendia fazer.
Em menos de duas semanas, o governo editou a nova portaria, os processos
foram recolhidos, os analistas deram seus pareceres e os decretos de
desapropriação foram assinados pela presidente.
As oito áreas desapropriadas em outubro por Dilma devem assentar 158 famílias.
OUTRO LADO
O presidente do Incra, Carlos Guedes de Guedes, diz que os pareceres
dados em Brasília sobre a viabilidade econômica dos imóveis vêm mantendo
o "sentido" dos estudos de campo que deveriam ter sido feitos pelas
regionais do instituto.
"Nós temos os estudos que apontam quais são os potenciais de geração de
renda [para cada um dos oito imóveis desapropriados em outubro], que é
esse o sentido do Estudo de Capacidade de Geração de Renda [ECGR]",
afirma.
Guedes nega que, com a portaria de 10 de outubro, o governo tenha
rebaixado as exigências de qualidade, instituídas em janeiro, para a
desapropriação de novas terras.
"A gente não está abrindo mão da conclusão do estudo ou pelo menos dos
parâmetros aqui em Brasília. Isso é uma exigência, inclusive, para
encaminhamento para a Casa Civil", afirma Guedes.
O presidente do Incra destaca que a portaria de outubro é válida até
março de 2014, e que, depois, os estudos de capacidade de geração de
renda serão obrigatoriamente realizados nas regionais do órgão, que,
segundo ele, serão capacitadas.
Os pareceres emitidos pelos analistas do Incra em Brasília têm se
baseado no Censo Agropecuário de 2006, do IBGE, e em uma pesquisa da USP
sobre políticas para desenvolvimento agrário.
Questionado sobre imóveis já decretados de interesse público mas que
ainda não têm infraestrutura completa, o presidente do Incra afirmou
que, em cada caso, o governo assumiu um cronograma de acesso a serviços
públicos.
Para propriedades rurais em que falta energia elétrica, por exemplo, o
presidente do instituto afirma que será acionado o programa federal Luz
Para Todos.
| Editoria de Arte/Folhapress | ||
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