USP colaborou com a ditadura, revela documento
Funcionários faziam a vigilância de estudantes e professores considerados subversivos
A
Universidade de São Paulo colaborou sistematicamente com a repressão do
regime militar. A prática, segundo Ivan Seixas, coordenador da
assessoria da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”,
era comum não apenas na Universidade de São Paulo, mas em todas as
universidades públicas do País.
“Tanto é verdade que a USP tinha o que se chamava de AESI
(assessoria especial de segurança e informação), assim como eram as ASIs
(assessoria de segurança e informação), subordinada ao DSI (Divisão de
Segurança e Informação) do MEC”, afirmou durante audiência pública da
comissão. “Eram funcionários que faziam a vigilância de estudantes
e professores considerados subversivos, que acabavam sendo expulsos e
impedidos de estudar ou trabalhar em outras entidades educacionais.”
A colaboração da universidade é comprovada por meio de
documentos oficiais, como um apresentado por Seixas, que data de 24 de
novembro de 1975. O ofício saído do gabinete do reitor via AESI informa
agentes do Dops sobre a Semana dos Direitos Humanos, realizada por
centros acadêmicos e grêmios de 10 a 15 de novembro daquele ano, na
Igreja São Domingos, em Perdizes, zona oeste de São Paulo. Traz ainda
nomes de professores que teriam participado do evento organizado por
estudantes da universidade.
Apesar de ter sido questionada sobre a existência dessa
assessoria que colabora com a ditadura, Seixas disse que a USP ainda não
se pronunciou oficialmente sobre o caso e não mostrou determinação de
apurar a questão.
Presente na audiência, o deputado estadual Adriano Diogo (PT),
presidente da comissão, lembrou que quando um estudante era preso e ia
para a Operação Bandeirante (Oban), a reitoria da USP
fornecia ficha, foto, assim como detalhes de sua vida pessoal e
acadêmica. “O sistema de colaboração da USP era ‘online’”, ironizou o
parlamentar.
Estrutura. O papel da USP como
colaboradora foi destacado em audiência envolvendo as comissões da
verdade estadual, municipal e também a nacional, representada por Rosa
Cardoso. A sessão destacou ainda como funcionava a estrutura de
repressão do Estado repressor. Documentos obtidos na Marinha mostram uma
estrutura complexa, em que assessorias eram subordinadas aos DSIs e,
consequentemente, ao SNI (Serviço Nacional de Informações). “O
funcionamento mostra que os órgãos de informação não tinham poder de
decisão. A estrutura não parava no sargento ou no investigador. Não
havia os chamados porões da ditadura. Era uma estrutura completa”,
explicou.
Segundo ele, todas as ações eram tomadas antecipadamente e
subordinadas ao SNI. Os agentes também recebiam orientações e tinham de
seguir ordens. “A cadeia de comando mostrava que não existia vontade
própria. Se o torturador resolvesse matar não obedecendo àquela
estrutura, ele era punido”, ilustrou. “Mostramos é que não existe uma
escolha sem controle. A decisão de torturar e assassinar não era do
torturador. Eram ações coordenadas e decididas por uma cúpula.”
Confira abaixo o documento apresentado:Fonte: http://www.cartacapital.com.br
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