Por que o rato-toupeira-pelado não tem câncer?
Um rato esquisito, uma molécula de açúcar e, de
repente, uma importante revelação para o combate à mais letal das
doenças humanas
Ratos são
frequentemente utilizados em estudos científicos, por vários motivos:
reproduzem-se com muita velocidade, são mamíferos, e pequenos, além de
viverem em média apenas quatro anos e terem uma alta incidência de
câncer de vários tipos. A maioria dos estudos para drogas que tratam
câncer é feita em ratos. Acontece que o continente africano possui uma
espécie de rato que habita ambientes subterrâneos, a qual, além de viver
em média 30 anos, jamais foi descrito um caso sequer de câncer entre
seus espécimes.
Um grupo de cientistas americanos e
israelenses acaba de descobrir o segredo desse bichinho – horroroso na
forma e no nome – de viver muito e ser imune à doença que mais mata os
humanos: um estudo da Universidade de Rochester e da Universidade de
Haifa descobriu uma molécula de açúcar chamada Hialurano de Alto Peso
Molecular (HMM-HA). Eles descobriram que esse superaçúcar secretado
pelas células de vários tecidos impede que outras células se agrupem e
formem tumores, e a simples retirada dessa molécula do corpo desses
ratos os torna tão suscetíveis a tumores como qualquer outro tipo de
rato.
O Hialurano é um açúcar de cadeia
longa, um filamento, e é encontrado em articulações humanas e de outros
mamíferos, onde funciona como lubrificante. Os ortopedistas os
prescrevem com frequência para a melhora dos sintomas das artroses e
artrites e também pode ser usado em tratamentos antirrugas, mas o
Hialurano dos ratos-toupeira está presente em quantidades muito
superiores em relação aos outros animais.
Os pesquisadores descobriram que a
enzima que produz o Hialurano, chamada HAS2, nos ratos-toupeira tem uma
molécula um pouco diferente, pois existe uma mudança em dois aminoácidos
na sua molécula, o que torna sua capacidade de produção muito maior.
Outra característica típica é que as células desses ratos têm muito mais
afinidade para se ligar ao Hialurano. Outra espécie de rato subterrâneo
encontrado em Israel, o rato-toupeira, cego e solitário, também possui
alta concentração de Hialurano em seu corpo.
Segundo o doutor Eviatar Nevo,
do Instituto de Evolução da Universidade de Haifa, essa produção
excessiva de Hialuranos é uma adaptação evolucionária, pois permite que
os tecidos tenham a elasticidade necessária para a vida subterrânea,
facilitando a movimentação em túneis e tocas.
Essas são as brincadeiras que a Mãe
Natureza prega em seus filhos, você pode não ter câncer e ter vida
longa, mas precisa ser cego, pelado, uma toupeira e um rato ao mesmo
tempo.
Existem poucos estudos com tecidos
humanos, mas essa é uma molécula promissora, principalmente para o
tratamento de metástases. Estudos mostram que, quando implantamos o
código genético da proteína HAS2 em células humanas, elas passam a
produzir quantidade bem maior de Hialurano, permitindo uma gama enorme
de possibilidades no tratamento e prevenção do câncer entre nós.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/revista/760
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