Governo admite não saber lidar com protestos no Rio
A quatro dias da chegada do papa Francisco, a cúpula da segurança do Rio
reconheceu ontem não saber como atuar contra os grupos de manifestantes
que vêm entrando em confronto com a polícia e, em alguns casos,
promovendo depredações na zona sul da cidade.
Na madrugada de ontem, um grupo que havia participado de ato em frente à
casa do governador Sérgio Cabral, no Leblon, depredou ao menos 25
estabelecimentos comerciais no bairro e em Ipanema, saqueou uma loja de
roupas masculinas, destruiu telefones públicos, placas de sinalização e
fez barricadas pelas ruas do bairro incendiando pilhas de lixo.
Nove pessoas foram presas em flagrante e autuadas por formação de
quadrilha. Uma delas também foi acusada de porte de artefato explosivo.
A escalada de violência nos protestos preocupa os encarregados de
garantir a segurança do sumo pontífice durante sua visita, que começa na
segunda-feira.
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| Moradores do Leblon, no Rio, observam vidros estilhaçados em prédio comercial depredado por manifestantes na madrugada de quinta |
Apesar de os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Defesa,
Celso Amorim, terem participado anteontem no Rio de reunião para tentar
convencer representantes do Vaticano da necessidade de reforçar a
segurança do papa, ontem o general José Abreu, representante das Forças
Armadas na segurança do evento, disse que os protestos não exigiram
reavaliação do esquema.
Há ao menos seis manifestações marcadas na cidade no período de
permanência do papa para a Jornada Mundial da Juventude. De acordo com o
secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a atuação nos protestos
exigirá "tratamento diferenciado".
| Editoria de Arte/Folhapress |
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| Editoria de Arte/Folhapress |
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"Não podemos ter um planejamento rígido, engessado, porque essas
manifestações são flexíveis. Não há informações suficientes para fazer
um planejamento como se tem em um evento formal", disse Beltrame.
"Já estávamos trabalhando com a possibilidade de movimentos
contestadores. Fomos surpreendidos pelos protestos durante a Copa das
Confederações, mas manifestações intimidatórias e atos terroristas já
estavam no nosso rol de preocupações", disse Abreu.
Beltrame disse ainda que a polícia está "aprendendo" como atuar a cada
manifestação. "A solução é intermediária. Estamos aprendendo nesse
processo com coisas que não conhecemos: coquetéis molotov, pessoas
mascaradas", disse o secretário.
O protesto no Leblon gerou mal-estar entre o secretário e o comandante da PM, coronel Erir da Costa Filho.
O protesto no Leblon gerou mal-estar entre o secretário e o comandante da PM, coronel Erir da Costa Filho.
Desde a Copa das Confederações, período do início dos protestos, o
oficial se queixa de falta de orientação de Beltrame para a ação da PM
nas manifestações, segundo a Folha apurou.
Auxiliares do secretário, por sua vez, veem "omissão" da Polícia Militar, com intenção de deixar o ônus da crise com Beltrame.
DEMORA
Às críticas de que a PM demorou para intervir e conter os manifestantes
ontem, o comando da corporação disse que tentou evitar o uso de armas
menos letais após acordo com a OAB do Rio e a Anistia Internacional.
"Mas o que foi pactuado não deu certo", disse o comandante da PM.
O chefe do Estado Maior da PM, Alberto Pinheiro Neto, afirmou que o
"pacto" firmado entre o governo e as entidades era evitar usar o gás
lacrimogêneo fora da área que se pretendia proteger --no caso, a rua do
governador.
"Isso [saques de ontem] provou que há necessidade de se efetivar uma
dispersão das multidões fora de controle", disse Pinheiro Neto.
As duas entidades negaram o pedido para que a PM não use gás
lacrimogêneo. Afirmaram que pediram o fim do abuso no uso das armas
menos letais.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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