Trabalhadores de fast food entram em greve contra “salário de miséria”
Trabalhadores do McDonald's, Burger King,
Wendy's, KFC e Domino's Pizza também reclamam da ausência de benefícios e
das precárias condições de trabalho
30/07/2013
Vivian Fernandes,
de São Paulo, da Radioagência NP
Centenas
de trabalhadores de redes de fast food de sete cidades dos Estados
Unidos entraram em greve na segunda-feira (29) e pretendem manter a
paralisação durante toda esta semana. Eles protestam contra o que chamam
de “salário de miséria de 7,25 dólares a hora”. Os funcionários
trabalham nas lanchonetes McDonald's, Burger King, Wendy's, KFC e
Domino's Pizza.
De acordo com reportagem da
revista Forbes, muitas das lojas dessas empresas estão fechadas ou
funcionam com capacidade reduzida. As cidades estadunidenses em que
ocorre a greve são Nova York, Chicago, St. Louis, Detroit, Milwaukee,
Kansas City e Flint.
As empresas de fast food
estadunidenses costumam pagar aos seus atendentes e cozinheiros no país o
salário mínimo de US$ 7,25 por hora (cerca de R$ 16). Segundo os
trabalhadores, isso não é suficiente para garantir a sobrevivência
familiar. Além do baixo salário, eles também reclamam da ausência de
benefícios, das precárias condições de trabalho e da grande pressão em
que têm que trabalhar.
McDonald´s: A propaganda que encobre a exploração
Para fugir de uma multa milionária por não
oferecer condições básicas de trabalho a seus funcionários, McDonald's
firma acordo com MP para financiar propaganda contra o trabalho infantil
Michelle Amaral
da Reportagem
“Lá
você não pode ficar parado, se sentar leva bronca”, relata Lúcio, de 16
anos, que há 4 meses trabalha em uma das lojas da rede na cidade de São
Paulo. “Você não tem tempo nem para beber água direito”, completa José,
de 17 anos. “Uma vez eu queimei a mão, falei para a fiscal e ela disse
para eu continuar trabalhando”, lembra o adolescente. Maria, de 16 anos,
ainda afirma que, apesar da intensa jornada de trabalho nos
restaurantes, recebe apenas R$ 2,38 por hora trabalhada.
Os
relatos acima retratam o dia-a-dia dos funcionários do McDonald´s.
Assédio moral, falta de comunicação de acidentes de trabalho, ausência
de condições mínimas de conforto para os trabalhadores, extensão da
jornada de trabalho além do permitido por lei e fornecimento de
alimentação inadequada são algumas das irregularidades apontadas por
trabalhadores da maior rede de fast food do mundo.
Somente no Brasil, o McDonald´s tem mais de 600 lojas e emprega 34 mil funcionários, em sua maioria jovens de 16 a 24 anos.
“Quando
se é adolescente, você vê as coisas acontecerem, mas não vê como
assédio moral, nem nada do tipo. Mas humilhações são constantes. Já fui
puxada pela orelha por uma gerente por demorar em um atendimento”,
completa Kelly.
As relações de trabalho impostas
pelo McDonald´s são objetos de estudo de muitos pesquisadores. Do mesmo
modo, pelas irregularidades recorrentes, a rede de fast food é alvo de
diversas denúncias na Justiça do Trabalho.
Em São
Paulo, o Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis e Restaurantes de São
Paulo (Sinthoresp), ao longo dos anos, tem denunciado as más condições a
que são submetidos os funcionários do McDonald´s.
Recentemente,
resultou em uma punição ao McDonald´s uma denúncia feita há quinze anos
pelo sindicato ao Ministério Público do Trabalho (MPT) da 2ª Região, em
São Paulo. Trata-se de um acordo que, além de exigir o cumprimento de
adequações trabalhistas, estabelece o pagamento de uma multa de R$ 13,2
milhões.
Desse valor, a rede de fast food deve
destinar R$ 11,7 milhões ao financiamento de publicidade contra o
trabalho infantil e à divulgação dos direitos da criança e do
adolescente durante os próximos nove anos. Além disso, a rede deve doar
R$ 1,5 milhão para o Instituto de Medicina Física e Reabilitação do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP). O compromisso foi firmado em outubro de 2010 e passou a
valer em janeiro deste ano.
As investigações
realizadas pelo MPT a partir da denúncia do Sinthoresp confirmaram as
seguintes irregularidades: não emissão dos Comunicados de Acidente de
Trabalho (CAT); falta de efetividade na Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes; licenças sanitárias e de funcionamento vencidas ou sem prazo
de validade, prorrogação da jornada de trabalho além das duas horas
extras diárias permitidas por lei, ausência do período mínimo de 11
horas de descanso entre duas jornadas e o cumprimento de toda a jornada
de trabalho em pé, sem um local para repouso.
O
MPT também apontou irregularidades na alimentação fornecida aos
trabalhadores: apesar de oferecer um cardápio com variadas opções, o
laudo da prefeitura de São Paulo reprovou as refeições baseadas
exclusivamente em produtos da própria empresa por não atender às
necessidades nutricionais diárias. Em relação à alimentação, o
McDonald´s chegou a ser condenado, em outubro de 2010, pela Justiça do
Rio Grande do Sul a indenizar em R$ 30 mil um ex-gerente que, após
trabalhar 12 anos e se alimentar diariamente com os lanches fornecidos
pela rede de fast food, engordou 30 quilos.
Processo
Segundo
o advogado do Sinthoresp, Rodrigo Rodrigues, a denúncia feita em 1995
referia-se “aos maus tratos que sofriam os funcionários do McDonald's
devido às várias reclamações deles aqui no nosso sindicato”.
O
advogado do Sinthoresp relata que o MPT chegou a realizar uma consulta
pública com todos os envolvidos no caso. Após isso, ajuizou uma ação
civil pública em março de 2007. Em 2008, houve a assinatura de um Termo
de Ajuste de Conduta (TAC) que estipulava prazos para o cumprimento das
adequações.
Ao comprovar que as exigências não
estavam sendo cumpridas, o MPT ameaçou aplicar uma multa milionária à
rede. Para fugir da punição, o McDonald's firmou esse novo acordo em
outubro de 2010.
De acordo com a procuradora do
trabalho Adélia Augusto Domingues, o MPT está em processo de tratativas
com a rede de fast food para a implementação de todas as adequações
necessárias. “O processo terá o acompanhamento do Ministério Público do
Trabalho em todas as etapas, até que as adequações sejam completamente
realizadas”, afirma Domingues.
A procuradora
acredita que o acordo firmado com a rede beneficiará os funcionários.
“Esses ajustes são positivos e importantíssimos para os empregados da
empresa, que na maioria são adolescentes que requerem, sem dúvida,
cuidados especiais, em razão de encontrarem-se na fase do processo de
desenvolvimento físico, mental e social”, defende.
A
reportagem procurou o McDonald's que, através de sua assessoria de
imprensa, encaminhou um comunicado no qual afirma que os termos do
acordo se alinham com a cultura da empresa de respeitar as leis do país e
contribuir ativamente nas comunidades onde atua. “Acreditamos também
que campanhas educativas e a doação do equipamento médico, como consta
do acordo, poderão beneficiar a sociedade como um todo”, diz o informe.
A rede
De
acordo com dados do site do McDonald's, no ano de 2009 a rede estava
presente em 118 países e possuía 31 mil lojas onde trabalhavam 1,6
milhão de funcionários. A sede mundial da McDonald's Corporation fica
nos Estados Unidos e, nos demais países do mundo, a rede opera por meio
de franquias.
O McDonald's chegou ao Brasil em
1979 e, desde 2007, a Arcos Dourados é a franqueadora do McDonald's no
país e na América Latina. A Arcos Dourados tem como sócios os fundos
Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o
DLJ South America Partners, fundo ligado ao Credit Suisse, e o Capital
International, do The Capital Group Companies. O lucro da rede de fast
foods no Brasil em 2009, conforme informações do site, foi de R$ 3,45
bilhões. Já em 2010, em todo o mundo, o McDonald´s obteve lucro de 4,95
bilhões de dólares.
*Os nomes dos funcionários citados na matéria são fictícios.
Franquia
é um sistema comercial em que o detentor de uma marca cede a uma outra
empresa o direito de uso de sua marca ou patente, infraestrutura e
direito de distribuição de produtos e serviços.
Outros processos contra o McDonald's
Discriminação em processo seletivo
Em
janeiro de 2010, o Ministério Público do Trabalho da Paraíba iniciou
uma investigação contra a rede de fast food por discriminação em um
processo seletivo. O McDonald´s publicou um anúncio de vagas de emprego
em que determinava que os candidatos deveriam ter entre 18 e 22 anos. De
acordo com o artigo 7º da Constituição Federal de 1988, é proibido
utilizar como critério de admissão sexo, idade, cor ou estado civil.
Esses critérios são considerados discriminatórios, pois ferem o
princípio de igualdade nas relações de trabalho.
Não garantia de alimentação saudável a seus funcionários
O
McDonald´s foi condenado, em outubro de 2010, pela Justiça do Rio
Grande do Sul a indenizar em R$ 30 mil um ex-gerente que, após trabalhar
12 anos e se alimentar diariamente com os lanches fornecidos pela rede
de fast food, engordou 30kg. Já em 2009, em Riberão Preto (SP), o 15º
Tribunal Regional do Trabalho condenou o McDonald's a pagar ao
ex-funcionário Rafael Luiz uma indenização de R$ 2 mil, correspondentes
ao valor de cestas básicas durante cerca de dois anos – período em que
ele trabalhou na rede de fast food. O juiz Ricardo de Plato, que emitiu a
sentença, afirmou que é de “conhecimento público e notório” que a
ingestão diária dos lanches da rede, “ em substituição a uma das
principais refeições do dia, por um longo período de tempo, é
prejudicial” à saúde.
Falta de higiene e cuidados no preparo dos alimentos
Em
2006, no Texas (EUA), uma família abriu um processo contra uma das
lojas franqueadas da rede de restaurantes fast food por ter encontrado
um rato morto em uma salada comprada no local.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/5872
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