Defensoria Pública aponta 'excessos' e 'ilegalidade' da polícia em Porto Alegre
A Defensoria Pública do Rio Grande do Sul afirmou nesta terça-feira
(25) que há indícios de "excessos e ilegalidade" por parte da Brigada
Militar (BM) na repressão às manifestações populares da última semana em
Porto Alegre. Segundo o defensor público geral do estado, Nilton
Arnecke Maria, as duas últimas manifestações foram interrompidas por
condutas "precipitadas" por parte da ação policial.
"Os relatos dos defensores que acompanharam as manifestações mostram
que houve condutas excessivas, mas neste momento não podemos atribuir
isso ao comando ou à atuação individual de algum agente. Já requisitamos
as imagens dos conflitos e se essas condutas forem comprovadas haverá
representação [contra a Brigada Militar]", disse.
Mapa dos protestos
- Clique no mapa e veja onde aconteceram os principais protestos no Brasi até agora
No total, a Defensoria envolveu 37 membros em cada uma das
manifestações divididos em cinco grupos. Todas as passeatas foram
acompanhadas durante todo o trajeto. Segundo Maria, um defensor público
foi impedido de realizar seu trabalho por um soldado da Brigada Militar
"de forma truculenta". De acordo com o defensor, a conduta do PM é
ilegal e já foi comunicada ao comando da Brigada para que o fato seja
apurado.
"Não era um manifestante, era um agente do Estado que também estava ali
como mediador. Mesmo identificado, ele teve impedido seu direito de
ação com truculência. O agente já foi identificado e será investigado",
afirmou.
No caso de comprovação de excessos por parte da BM, Maria informou que
podem ser adotadas três medidas contra a corporação: reparação cível por
danos morais causados por prisões indevidas, notícia-crime contra
eventuais agressões e processo administrativo para afastar agentes que
eventualmente tenham cometido excessos.
Internautas registram protestos motivados por aumento das tarifas do transporte; veja fotos200 fotos
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O
internauta Paulo Lopes fotografou a praça Silvio Romero, localizada no
bairro do Tatuapé, em São Paulo, antes do início dos protestos na região
no dia 21 de junho. Idosos jogavam baralho enquanto os manifestantes se
organizavam Você manda/Paulo Lopes
O defensor relatou que muitas prisões foram motivadas por desacato e
que de um universo de 65 detenções confirmadas pela Polícia Civil na
manifestação de segunda-feira, em apenas 11 casos havia antecedentes
criminais.
"No final das manifestações, nos parece que houve precipitação por parte da BM. Se tivesse esperado chegar ao fim para avaliar se seria necessária uma reação mais forte ou não, é possível que os conflitos tivessem sido evitados. Não pregamos a impunidade e não concordamos com vandalismo ou crime, mas entendemos que talvez possa ter havido precipitação", avaliou.
O secretário de Segurança do Rio Grande do Sul, Airton Michels,
justificou que o governo gaúcho identificou uma "evolução negativa" no
perfil dos manifestantes em Porto Alegre e que o movimento está sendo
usado por "aproveitadores". Michels voltou a defender a intervenção da
Brigada Militar (BM) nas passeatas, a fim de preservar a vida dos
próprios manifestantes.
"O conflito de ontem (segunda-feira) se iniciou a partir de uma briga
entre quem queria se manifestar pacificamente e entre vândalos que
tinham outros interesses. Aliás, chamá-los de vândalos é eufemismo, são
ladrões mesmo", disse.
Um dos indícios da postura adequada por parte da BM, segundo Michels,
foi o número de feridos. Segundo ele, oito pessoas procuraram
atendimento no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, "nenhuma
delas com gravidade". Michels informou que um PM foi atingido por uma
pedrada na manifestação de segunda-feira.
O balanço apontou ainda que dois prédios públicos, nove bancos, dois
prédios residenciais e 21 lojas foram alvo de vandalismo na noite de
segunda-feira. Além disso, os bombeiros combateram 33 focos de incêndio –
30 dos quais em contêineres de lixo.
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