Manifestantes conseguem furar cerco para protestar em frente ao Maracanã
Nem mesmo o cerco policial no entorno do estádio do Maracanã na manhã deste domingo, antes da partida entre Brasil e Espanha pela final da Copa das Confederações, impediu que algumas pessoas conseguissem realizar pequenas manifestações em frente ao local, o que é em teoria proibido pelas regras da Fifa.
Bem em frente à entrada reservada à mídia na rua Professor Eurico Rabelo, que passa por uma das laterais do estádio, um pequeno grupo de profissionais da área da saúde, de aventais brancos, erguia um grande cartaz protestando contra o fechamento de hospitais públicos pelo governo do Estado.
"Chegamos cedo, por volta das 10h, sabendo que tentariam impedir a
chegada de manifestações perto do estádio", comentou um dos
manifestantes, o protético Isaac Ferreira Sena, de 41 anos, que segurava
uma das pontas do cartaz.
Do outro lado, estava o acupunturista Antonio
Carlos, de 54 anos, que pediu que seu sobrenome não fosse divulgado por
temer represálias por parte do governo. "Percebemos que aqui é um ponto
estratégico para termos visibilidade", disse.
Ele disse que manteria o protesto na porta do
Maracanã pelo tempo que permitissem que o grupo ficasse no local. "Isto
não é um protesto partidário, estamos só falando a verdade, não estamos
inventando nada", disse. "Afinal, isto é uma democracia ou não é? Não
estamos quebrando nada, só falando a realidade", argumentou.
Em uma volta rápida no entorno do estádio era
possível observar várias outras manifestações, incluindo algumas de
cunho religioso. Uniformizados, centenas de fieis da igreja evangélica
Assembleia de Deus de Madureira entregavam panfletos aos torcedores que
chegavam para assistir à partida.
"Aqui há gente de todo o mundo, então estamos
aproveitando para evangelizar. Queremos mostrar que Jesus Cristo é a
maior de todas as vitórias", disse um dos fieis, o bombeiro Vítor
Torres, de 26 anos. Segundo ele, ninguém do grupo tinha ingresso para
assistir à partida.
Consultada pela reportagem da BBC Brasil, a Fifa
se limitou a dizer que a entidade e o Comitê Organizador Local (COL)
"respeitam plenamente o direito de as pessoas se expressarem".
Evangélicos distribuem panfletos antes da final no Maracanã
"Continuaremos a acompanhar a situação e temos
plena confiança no trabalho de segurança das autoridades locais para a
Copa das Confederações", complementa a resposta enviada pela entidade
por e-mail.
Proteção dos animais
Em outro dos portões do estádio, a professora
aposentada Ione de Oliveira Franco, de 73 anos, e o vigia Joel Avelino
Torres, de 43, que se identificam como "protetores independentes dos
animais", carregavam cartazes pedindo ações do governo na área.
"Estamos indignados com o que esses governos
estão fazendo com o nosso país. Gastaram mais de R$ 1 bilhão com um
estádio que já estava pronto, mas não oferecem hospitais gratuitos para
os animais", reclamava Torres. "Os animais também pagam impostos, nós
pagamos por eles", argumentou.
Para Franco, mesmo as demandas particulares como
as suas podem ser ouvidas em grandes protestos como os que têm ocorrido
nos últimos dias pelo país. "A prefeitura e o governo estão vendo que
precisam ouvir todas as pessoas, independentemente das demandas", disse.
Ambos dizem ser ativistas e participantes de
protestos de longa data e dizem ver de maneira positiva a onda recente
de manifestações. "As pessoas acordaram para os protestos. O povo agora
tomou gosto, não sai mais das ruas", disse.
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