Por que a mulher negra do tempo incomoda?
competente jornalista aprendeu em casa a sacudir a poeira e seguir em frente, usando o obstáculo como catapulta.
Por Sandra Martins
A
Garota do Tempo do Jornal Nacional é negra! Oh! O que será que ela fez
para estar lá? Será que a Globo capitulou para as cotas? Ou será que ela
saiu com algum diretor famoso? Para espanto de muitos e horror de
tantos outros, a jornalista Maria Júlia Coutinho, a Majú, além de ser
negra... é uma profissional super competente!!! É o tipo da combinação
que para muitos é explosiva.
Entretanto,
para milhões de brasileiros é a melhor combinação do mundo, pois mostra
que basta termos acesso aos mesmos direitos (que todos nós construímos e
pagamos) que poderemos também nos desenvolver como outros mais
clarinhos e de determinados andares da pirâmide social. Queremos ter
acesso ao desenvolvimento, às escolhas, às possibilidades, ao direito de
ter direito.
Majú é uma jovem negra muito disciplinada,
dedicada, oriunda de uma família que soube mostrar-lhe como lidar com o
racismo. Mas, calma, no Brasil não há racismo... Em um país que não é
racista como diz um jornalista global “Nós não somos racistas”, parece
que não é bem assim.
No dia 3 de julho, dia nacional de
combate à discriminação racial, na página do Jornal Nacional no
facebook, cerca de 50 pessoas publicaram comentários racistas contra
Maju. A contrapartida foi bacana: milhares de posts de reprovação ao
racismo e apoio à jovem. Até seu chefe Willian Bonner, Renata
Vasconcelos e toda a sua equipe gravaram um vídeo de apoio à jornalista:
#SomosTodosMaju
A
competente jornalista aprendeu em casa a sacudir a poeira e seguir em
frente, usando o obstáculo como catapulta. Ela pisa firme. Sabe que não
está sozinha e que muitos dependem dela. Gente que compartilha uma TV
com várias famílias, todas pobres e tão negras quanto a própria Majú.
Ela é fonte inspiradora dessas crianças, jovens, pessoas maduras e
calejadas pela vida dura. Eles veem em Maju a esperança de um dia
poderem também chegar a algum lugar de visibilidade positiva.
Então
o papel dela é fundamental: ela sabe de sua responsabilidade. E nós da
militância também o sabemos: o de apoiar nosso povo a enfrentar os
racistas de plantão que não nos deixam descansar nem um segundo.
É
uma corrida de revezamento com obstáculos. Preparamos os próximos
atletas. Agora, Majú, é sua vez de seguir em frente e firme enquanto são
preparados outros atletas para substituí-la no tempo adequado.
(*) Sandra Martins, jornalista e integrante da COJIRA-Rio/SJPMRJ
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