"Se não fosse a luta dos trabalhadores a gente ainda estaria morando em cavernas e trabalhando 14 horas por dia"
Foto: Pablo Vergara
Do Rio de Janeiro (RJ)
Ator
consagrado nos palcos e na TV, Bemvindo Sequeira quase foi batizado
como Alegria, não fosse o pai mudar de ideia na última hora. Ainda assim
nasceu com dom de fazer graça. Seu humor, seu senso crítico apurado e,
claro, o talento de ator lhe renderam papeis como o "Seu Brasilino", da
Escolinha do Professor Raimundo, e os personagens "Zebedeu", na novela
Mandacaru, e "Bafo de Bode", na novela Tieta. Desde 2006 o artista
trabalha na Record.
Mas Bemvindo Sequeira também é conhecido por
seu engajamento político e sua defesa aos direitos dos trabalhadores.
Participou da elaboração da lei que regulou a profissão de artista e
técnico de espetáculos, em 2010, e foi o primeiro profissional a ter seu
registro na Delegacia Regional do Trabalho do estado da Bahia, há 40
anos. É para falar sobre os direitos trabalhistas e a lei da
terceirização que o ator concedeu uma entrevista esta semana ao Brasil
de Fato.
Brasil de Fato – Como você avalia essa lei da terceirização da força de trabalho?
Bemvindo Sequeira -
A terceirização é ruim para o trabalhador, ele perde direitos e, muitas
vezes, o vínculo com o sindicado e sua categoria. Por exemplo, eu
trabalho para a Record há quase 10 anos e estou filiado ao sindicato dos
artistas. Se a emissora resolver contratar uma empresa da indústria do
cinema e
fazer uma novela com atores terceirizados vamos ter que
recorrer ao sindicado da indústria cinematográfica. Isso vai
desarticular a luta sindical por melhores salários. E esse é apenas um
dos problemas.
Brasil de Fato – Que impacto isso pode gerar para o trabalhador e a economia?
Essa
medida vai resultar no aumento do desemprego, da rotatividade nos
postos de trabalho, porque a empresa perde esse vínculo direto com o
empregado, queda nos salários, e até modificação na lei trabalhista e
perda de conquistas acumuladas desde o presidente Getúlio Vargas.
Brasil
de Fato – Existe por parte dos empresários uma pressão muito grande
para ampliar ainda mais os setores onde podem atuar com mão de obra
terceirizada. Quais são as razões dessa pressão?
O
empresário quer lucro. O único objetivo do capital é aumentar as taxas
de lucratividade, ele não tem nenhuma função social. Se não fosse a luta
dos trabalhadores a gente ainda estaria morando em cavernas e
trabalhando 14 horas por dia.
Brasil de Fato – Os
empresários reclamam dos autos impostos trabalhistas, que acaba afetando
o pequeno e médio empregador também. Qual sua opinião sobre o tema?
É
claro que a gente precisa modernizar as relações de contratação. Não é
possível que os tributos continuem tão altos. Mas o que está acontecendo
é que o empresário quer aliviar suas costas à custa do trabalhador.
Isso é o que não pode acontecer. Se a Federação das Indústrias é a favor
dessa lei da terceirização, se os patrões são a favor, nós, os
trabalhadores, temos que ser contra, pois está na contramão dos nossos
direitos.
Brasil de Fato – Qual a solução então?
Chegamos
ao esgotamento de um modelo. Como resolve isso? Com reformas. Se não
houver reforma agrária, tributária e política não vamos avançar. E se a
burguesia e a elite conservadora têm a hegemonia no Congresso, então nós
precisamos nos mobilizar.
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