Dilma contra o grande irmão
Governo investirá em novo sistema de transmissão de dados que pode deixar o País menos exposto a ações de espionagem como as praticadas pelos Estados Unidos
Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)
Em setembro do ano passado, o desertor da
CIA Edward Snowden revelou um esquema de espionagem que chegou ao
gabinete da presidenta Dilma Rousseff. Segundo documentos obtidos por
Snowden, até mensagens do celular de Dilma foram monitoradas pelos
americanos. Depois da revelação do caso, a presidenta fez duras críticas
ao governo de Barack Obama. E tudo indicava que o Brasil nada poderia
fazer a não ser reclamar. Na semana passada, porém, Dilma demonstrou que
não tinha deixado a história para trás. Ela dedicou parte de sua visita
a Bruxelas, na Bélgica, para confirmar o interesse do governo
brasileiro na construção de um cabo submarino de comunicação ligando
Fortaleza a Lisboa. Mais do que buscar apoio para o investimento, orçado
em US$ 185 milhões (ou cerca de R$ 462 milhões), Dilma disse que seu
governo busca soluções para reduzir o alto nível de dependência do
sistema brasileiro de transmissão de dados em relação aos Estados
Unidos. Dos cinco cabos submarinos que ligam atualmente o País ao
Exterior, quatro passam pelo sistema americano e apenas um, que serve
apenas para transmissão de voz e está com capacidade saturada, passa
pela Europa. Ao se tornar menos dependente da tecnologia americana, o
Brasil ficaria menos exposto a ações de espionagem.
Dilma em Bruxelas e o presidente Obama: dos cinco cabos submarinos
que ligam o País ao Exterior, quatro passam pelo sistema americano
A confirmação de Dilma ocorre num momento em que o projeto
encontra-se em estágio relativamente avançado. No início do ano, a
Telebrás aprovou a proposta de criação da empresa JVCo (Joint-Venture
Company), que será composta pela própria estatal, que terá 35%, pela
espanhola IslaLink Submarine Cables, com 45%, e por 20% de investimentos
de empresas privadas brasileiras que ainda negociam com o governo. A
previsão é que o novo cabo esteja em operação depois de 18 meses de
trabalhos. Serão instalados seis mil quilômetros de cabos a um custo
estimado de R$ 77 mil por quilômetro. A Telebrás adquiriu um terreno em
Fortaleza, onde vai funcionar o ponto de aterragem do cabo. É da capital
cearense que vão partir 25 mil quilômetros de rede de fibra óptica para
distribuir os serviços nas diversas regiões brasileiras.
A Telebrás acredita que, em função do investimento, o Brasil poderá
desfrutar de uma qualidade melhor na transmissão dos dados e do
barateamento em cerca de 15% dos serviços. A maioria dos especialistas
em telecomunicações concorda que o sistema de cabos submarinos funciona
melhor do que a
comunicação via satélite, em especial depois que a
indústria aprendeu a construir cabos capazes de resistir, por décadas,
às variações oceânicas. Para além dos benefícios imediatos que o
investimento possa produzir, a mensagem da presidenta brasileira tem um
caráter político, que é sublinhar uma reação em defesa da soberania do
País. Para Dilma, conta a favor do Brasil o fato de a União Europeia
concordar sobre a necessidade de criar canais alternativos capazes de
proteger o espaço cibernético e a privacidade das nações. Um consenso
fundamental para fazer o projeto da Telebrás sair do papel. Fotos: Francois Lenoir, Kevin Lamarque - REUTERS
Fonte: istoe.
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