Viúva do ex-deputado Rubens Paiva foi monitorada pela ditadura
O ex-deputado teve o mandato cassado pelo Ato Institucional nº 1 e foi
levado por agentes da ditadura para prestar depoimento em 20 de janeiro
de 1971. Desde então, é considerado desaparecido.
Convencida de que o marido foi assassinado, Eunice Paiva contestou a
versão oficial apresentada pelas Forças Armadas de que o ex-deputado
fugiu durante uma tentativa de sequestro, quando era levado por
militares para reconhecer uma casa no Rio.
Editoria de Arte/Folhapress |
Oito anos depois, Eunice ainda lutava para esclarecer o caso e
permanecia sob a
mira do setor de espionagem do regime, o SNI (Serviço
Nacional de Informações).
Em junho de 1979, um mês antes dela assinar um pedido de reabertura do
caso no Conselho de Direitos da Pessoa Humana, o SNI fez um relatório
narrando detalhes da participação dela numa palestra em Londrina.
Ironicamente, o serviço de "inteligência" errou ao reportar que ela não
se mostrou disposta a acionar o governo para apurar responsabilidades
sobre o caso.
Com conteúdo idêntico, um outro documento foi remetido em 17 de julho ao
Ministério da Justiça, que preside o conselho. Só que Eunice havia
protocolado o pedido de desarquivamento no dia 13 de julho.
Os papeis retratam em detalhe a "novela" que se transformou o caso
Rubens Paiva nesse conselho, que nunca apurou o desaparecimento e ainda
"perdeu" o processo mais de 15 anos depois de aberto.
Em 1971, por pressão admitida publicamente por conselheiros, a
investigação foi arquivada. Em 1979, Eunice pediu para que fosse
novamente analisado e, sete anos depois, o caso estava sendo
desarquivado. Até hoje o desaparecimento nunca foi esclarecido.
Parte da papelada que narra a epopeia da investigação no Ministério da
Justiça faz parte dos originais do acervo do ex-conselheiro Benjamin
Albagli, que havia pedido o arquivamento do processo do ex-deputado e
depois defendeu uma reanálise do "tenebroso caso".
Esses documentos fazem parte de um acervo do Ministério da Justiça de 84
caixas que será remetido ao Arquivo Nacional nas próximas semanas.
Autor da biografia mais recente do ex-deputado, Jason Tércio, confirma
que a viúva de Rubens Paiva foi monitorada por anos: o serviço de
espionagem a acompanhou em 1980 numa formatura na qual Paiva foi
homenageado. Em 1983, informes do SNI mostram que ela ainda era
acompanhada.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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