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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Se Lula se tratasse no SUS, diriam que ele tirou vaga de uma pessoa carente

“Se Lula se tratasse no SUS, diriam que ele tirou vaga de uma pessoa carente”, diz médico do ex-presidente

Em entrevista ao R7, Roberto Kalil nega volta do câncer de Lula e fala da relação com políticos

                   
Roberto Kalil Filho: o médico que tem nas mãos a saúde da presidente Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Daia Oliver/R7
Responsável pela saúde de alguns dos principais nomes da política brasileira desta década, o cardiologista Roberto Kalil Filho diz não se intimidar com o peso dos cargos dos pacientes que atende: “no meu consultório, quem manda sou eu”. À primeira vista, o médico de 54 anos e pouco mais de 1,60 de altura quase nada revela do temperamento forte que marca sua personalidade.  
Segundo ele, é o perfil durão que o faz se identificar com a presidente Dilma Rousseff, a quem atende desde antes da vitória nas eleições de 2010. Entre seus pacientes ilustres também estão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador José Sarney (PMDB-AP), o ex-governador José Serra (PSDB-SP) e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.  
Kalil recebeu a reportagem do R7 no dia 1º de agosto, uma quinta-feira, em uma sala do hospital Sírio-Libanês, onde é diretor do Centro de Cardiologia. Com diversos perfis publicados na imprensa, ele disse preferir não falar da vida pessoal, porque considera “exposição demais”. Declarou-se apenas ser viciado em trabalho “convicto e feliz”.  
Casado pela segunda vez, o cardiologista mora em apartamento diferente da mulher, a médica Cláudia Cozer. Ele tem duas filhas da primeira união, Rafaella e Isabella, com quem curte os únicos cinco dias de férias que tira todos os anos.  
Kalil falou à reportagem sobre a relação próxima que estabeleceu com os políticos que atende, comentou o polêmico programa Mais Médicos do governo federal e as carências do SUS (Sistema Único de Saúde). Ele também rebateu a campanha realizada nas redes sociais em 2011 — quando Lula descobriu um câncer na laringe — que pedia para que o ex-presidente se tratasse na rede pública e negou ter diagnosticado no petista um retorno do tumor.  
Leia abaixo a primeira parte da entrevista que Kalil concedeu ao R7:
R7 - O senhor atende alguns dos principais políticos do Brasil, inclusive a presidente da República. Como começou o contato com essas pessoas?  
Roberto Kalil - Médico atende todo mundo, dentre eles os empresários, os políticos, jogadores de futebol, atende todo mundo. O consultório do médico é livre. Mas conheci muita gente quando eu comecei a trabalhar no Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas), acho que em 1986. Na época, muitos políticos iam para lá.  
R7 - O senhor sente que tem uma responsabilidade maior quando atende a presidente?  
RK - Não. A responsabilidade é igual. A exposição é que é maior. A responsabilidade de cuidar da presidente é a mesma que cuidar de vários pacientes que eu faço visita médica no SUS. A conduta médica é a mesma. O que diferencia é a exposição, que é boa e ruim. 
Kalil já era médico de Lula 17 anos de ele assumir Palácio do Planalto Daia Oliver/R7
R7 - Como o senhor lida com essa exposição? Ela é mais positiva ou negativa?  
RK - É mais para positiva. É claro que você se sente honrado. É interessante, no mínimo interessante, você ser médico de uma pessoa que vira presidente da República. Foi assim com a presidenta Dilma e com o Lula. Eu já era médico dele há 16, 17 anos quando ele virou presidente.  
R7 - Quem é o paciente mais difícil de lidar, a Dilma ou o Lula?  
RK - Cada paciente tem a sua característica. O mais importante é ganhar a confiança do paciente antes de dar a conduta médica. Aí fica fácil.  
R7 – Você sente dificuldade em exigir alguma postura tendo em vista a posição deles? Há problemas de autoridade?  
RK - A autoridade é o seguinte: no meu consultório, quem manda sou eu. Não tem autoridade, a autoridade fica na rua, seja o paciente o papa ou o presidente da República.  
R7 - O senhor tem fama de ter um temperamento explosivo.  
RK - No trabalho tem que ser. Eu faço um tipo de explosivo porque tem que ser feito. Medicina, como qualquer profissão, é coisa séria, as pessoas morrem. Então eu não admito atrasos, nada. Sou um cão chupando manga. Sou extremante rigoroso, explosivo. Quem trabalha comigo pula picadinho.  
R7 - O sr. identificou o câncer da Dilma, do Lula e do [ex-vice-presidente] José Alencar. Inúmeros políticos têm sido vítimas de tumores. Há alguma relação com a pressão sofrida no cargo?  
RK - Não. Veja, eu não sou especialista em câncer. Mas não. Não vejo relação nenhuma. O diagnóstico hoje é muito mais precoce por causa dos aparelhos que você tem. Claro que a incidência de câncer aumentou, assim como de infarto e derrame cerebral também. Mas isso é mais por causa do diagnóstico.  
R7 - Como o senhor vê o fato de parte da classe política, responsável pela administração do sistema público de saúde, recorrer a um hospital particular para se tratar?  
RK - Qual é a diferença do político, que tem um cargo, ou de um executivo ou de um qualquer ser humano comum? Nenhuma. Ele tem todo o direito. Se ele tem um convênio médico e paga por isso, ele tem o direito a usar onde ele se sentir mais confortável ou onde o medico de confiança dele trabalha. Não vejo problema algum. Ora, por que o presidente Lula tem que se tratar no SUS, se ele tem convênio, se o médico dele, que sou eu, atende nesse hospital particular? Ele não está agredindo ninguém, não está tirando o direito de ninguém.  
                             
Com fama de ter temperamento explosivo, Kalil reconhece: "Sou um cão chupando manga. Quem trabalha comigo pula picadinho" Daia Oliver/R7
R7 - Então o senhor não vê contradição?  
RK - Em hipótese alguma. Se o presidente Lula fosse fazer o tratamento de câncer dele no SUS, teriam críticas: “ele tem convênio, o médico dele é do Sírio-libanês e ele está ocupando lugar do pobre coitado, do carente que não tem condições”. Com certeza alguém ia criticar. Antes de ser o presidente da República, ele é um ser humano, de carne, osso e sangue. Então, ele tem o direito, sem infringir as regras e as leis.     
R7 – Recentemente, houve rumores de que o câncer do Lula teria reaparecido. É verdade?
RK – Não. Ele vai repetir os exames dia 10 [sábado]. Ele acabou de sair daqui, veio visitar dois amigos que estão internados [quando a entrevista foi feita, no dia 1º de agosto, estavam internados no Sírio-Libanês o deputado José Genoino e o senador José Sarney]. Lula não veio se tratar!  
R7 - Os tratamentos que o SUS oferece são ruins?  
RK - Não, aí tem uma ampla discussão. O SUS é um sistema que funciona. O atendimento do SUS não diferencia em nada do tratamento cardiológico que tem o hospital Sírio-Libanês. Agora, têm críticas à gestão e obviamente falta verba. O Incor está sempre super-lotado, tem sempre fila de espera, porque há uma falência do sistema de saúde do País, que não é culpa desse governo, nem do passado, é culpa da história dos governos, na minha opinião.

Fonte: http://noticias.r7.com/brasil

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