“Mobilizações das ruas abrem necessidade de debater avanço da reforma agrária”
- Estados do Brasil:
João Pedro Stedile analisa a conjuntura do país
criada pelas manifestações e como elas afetam pautas históricas dos
movimentos sociais
Em
entrevista coletiva concedida aos veículos alternativos presentes na
12ª Jornada de Agroecologia do Paraná, João Pedro Stedile, da
coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), avaliou a conjuntura do país criada pelas manifestações nas ruas e
como elas afetam pautas históricas dos movimentos sociais, como a
reforma agrária e a democratização dos meios de comunicação. A Jornada
de Agroecologia começou na quarta-feira (7) e vai até este sábado (10).
Confira a entrevista.
Qual a situação da Reforma Agrária?
A
reforma agrária está parada desde o governo Lula, por vários motivos,
como a pressão do capital que disputa a grande propriedade improdutiva, a
falta de verbas do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária) e a aliança político-eleitoral que sustenta o governo ter os
ruralistas como base de governo.
Nesse ano não
houve nenhum projeto de assentamento ou desapropriações de terras no
Brasil. Temos na nossa base por volta de 120 mil famílias acampadas, é
um absurdo. Vamos ter uma reunião com a Dilma e cobrar que as políticas
públicas sejam alteradas, ninguém aguenta mais esta situação no campo. A
reforma agrária precisa de um impulso, e acredito que as mobilizações
recentes ocorridas nas ruas vão ajudar a dar uma sacudida no país e
obrigar a necessidade de se abrir um debate sobre as políticas
estruturais do país, como a reforma agrária.
Quais as principais ofensivas do agronegócio nesse momento?
A
principal ofensiva que os capitalistas estão fazendo é pela disputa da
terra, da água e das mercadorias agrícolas. Daí a ofensiva contra o
Código Florestal antigo, e agora a ofensiva vai ser contra as áreas
quilombolas e indígenas.
Além disso, há o debate
em torno do Código de Mineração fruto de articulação do capital com o
Ministério de Minas e Energia, para ser aprovado em regime de urgência
na Câmara, evitando o debate com a sociedade. Esse código, se for
aprovado desta forma, vai ser um desastre, dando às empresas
estrangeiras segurança jurídica para explorar o subsolo.
Como você avalia as manifestações ocorridas no Brasil?
Essas
manifestações oxigenaram a política brasileira e abriram um novo ciclo
de debates, e cada vez que um novo ciclo se abre, ele demora a
desaparecer. O que se levantou nas ruas não é algo que irá acabar nas
próximas eleições. Analisamos que esse ciclo vai trazer mudanças, quer o
Congresso queira ou não.
Nós temos feito um
esforço para que os setores organizados da classe trabalhadora e
movimentos sociais se apresentem de forma organizada nesse clima e
apresentemos um programa de mudanças para a sociedade por meio de
jornadas de lutas e manifestações, como fizemos dia 11 e vamos fazer
novamente no dia 30 de agosto.
As manifestações pressionam o governo a dar um passo à esquerda?
Na
cabeça do governo estava tudo arrumadinho: a popularidade da presidenta
em alta e o pacto de classes que sustenta o governo sob controle. As
manifestações mostraram a fragilidade deste pacto.
A
presidenta tentou dar este passo quando anunciou as medidas de convocar
a Constituinte e o plebiscito, mas foi derrotada por seus ministros e
sua própria base parlamentar. O que eu acho positivo é que o tema foi
para a rua, e isso abre um espaço de debates sobre a reforma política, a
Constituinte e o plebiscito popular. Inclusive queremos fazer um
plebiscito perguntando à sociedade se ela quer a reforma política ou
não. O Ibope fez essa pergunta semana passada e deu que 85% da população
quer a Constituinte.
Por que o governo tem dificuldades em pautar a democratização dos meios de comunicação?
Não
tocar neste tema faz parte dessa aliança de classe do governo. Os meios
de comunicação do Brasil se transformaram numa arma da burguesia, num
negócio que lucra financeiramente e na reprodução das ideias da classe
dominante.
O tema da democratização da
comunicação é muito parecido com a reforma agrária, porque ele propõe
democratizar algo que a burguesia tem como patrimônio sagrado deles, e o
movimento social está colhendo assinaturas para levar um projeto de lei
popular ao Congresso. E só vamos conseguir esta democratização com um
amplo movimento popular, nas ruas.
E as
manifestações das ruas vão nesta direção. Não é à toa que vários
protestos terminaram na porta da Globo. E agora a juventude marcou uma
jornada dos estudantes pela democratização da mídia e contra a Globo, de
28 de agosto a 5 de setembro. Essa luta está só começando.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/17745
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