O incômodo silêncio na Segurança Pública do Ceará
Diante de um cenário de crise por conta de
índices de violência no Ceará, a Secretaria da Segurança pouco se
pronuncia. A postura dá margem a desconfianças e aumento da sensação de
insegurança
Mês a mês, a barra estatística da
criminalidade no Ceará aumenta. Mais assaltos, mais roubos, mais gente
morta. O Estado vive uma violência sem precedentes. E amarga um silêncio
das autoridades responsáveis pela segurança considerado intrigante por
entidades representativas de policiais civis e militares, estudiosos,
Ministério Público, imprensa e sociedade civil.
Há
quem avalie essa postura como estratégica. “E, ao mesmo tempo, uma falha
gritante. Compreendo como uma decisão para tentar não manchar a imagem
perante organismos internacionais, especialmente a Fifa (devido à Copa
das Confederações, ocorrida este ano, e à Copa do Mundo, em junho de
2014). É preocupante. O silêncio mostra que há algo errado. Porque não
existe silêncio no setor do turismo, da captação de recursos etc. A
questão é que o Governo não admite ter errado no modelo escolhido e fica
procurando causas que justifiquem a criminalidade”, analisa o
pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC), Marcos
Silva.
Em
2013, o Ceará alcançou a marca de 11 homicídios dolosos por dia.
Mata-se mais em Fortaleza (quatro/dia) do que em São Paulo, cidade com
população 4,5 vezes maior. Mas a SSPDS pouco vem a público de forma
voluntária para avaliar a crise e prestar contas do trabalho
desenvolvido na área. Quando fala, quase sempre, é de forma pontual,
diante da procura de jornais e emissoras de rádio e TV. Ainda assim, com
ressalvas. Ao O POVO, inúmeras entrevistas já foram negadas.
Um
sinal de retrocesso para o coordenador do Laboratório de Estudos e
Pesquisas Conflitualidade e Violência (Covio/Uece), Geovani Jacó. “Na
área da segurança, esse governo mudou radicalmente para pior na segunda
gestão (quando saiu o secretário Roberto Monteiro e entrou o atual,
coronel Francisco Bezerra). O governo está blindado e com um projeto que
não dialoga. Todas as atribuições estão nas mãos de um secretário e um
comandante de Polícia dessintonizados com uma política cidadã adequada à
perspectiva democrática assumida em estados campeões de criminalidade e
que, pela mudança de eixo, reduziram os índices. Aqui, vemos o
alijamento da sociedade e a blindagem do governo. Temos um governo que
não admite críticas e uma Polícia que não faz autocrítica. Estamos vendo
a falência do sistema de segurança.”
Também há queixas quanto
à divulgação dos indicadores criminais, obrigação prevista na Lei
Federal nº 12.527 (a chamada Lei de Acesso à Informação). Até ontem, 4,
por exemplo, a SSPDS não havia divulgado os dados referentes a junho. O
POVO já denunciou várias vezes a recorrência dessa demora. “O silêncio é
falta de respeito! Significa prepotência. Se calam para o problema
sumir. Mas o problema não some. Ele só aumenta. É uma estratégia burra.
Esse silêncio me deixa é mais insegura. A gente tem o direito de ir e
vir; e eles o dever de patrocinar uma segurança eficiente. O Governo tem
que tomar a responsabilidade para si. Mas há quase uma omissão
conivente com a violência. Virar a cara para o caos é absurdo”, critica
uma das organizadoras do movimento “Fortaleza Apavorada”, Eliana Braga.
Para esta reportagem, O POVO tentou
entrevistar o secretário Francisco Bezerra desde 22 de julho. Após 14
dias e várias ligações, a assessoria do coronel pediu que perguntas
fossem enviadas por e-mail. Até o fechamento da página, nenhuma resposta
havia sido dada, a exemplo do ocorrido em procedimentos anteriores
adotados pela SSPDS.
E agora?
ENTENDA A NOTÍCIA
Nesta quarta-feira, 7, o secretário da Segurança, Francisco Bezerra,
deve ir à Assembleia Legislativa prestar contas do trabalho na pasta.
Nos próximos dias, uma audiência pública pode acontecer a pedido do MP,
provocado pelo movimento “Fortaleza Apavorada.”
Serviço
Para solicitar dados
O
quê: Quem solicitar dados à SSPDS e não for atendido (ou não for
atendido no tempo previsto por lei), pode acionar o Ministério Público
do Estado do Ceará
Onde: rua Assunção, nº 1.100, bairro José Bonifácio.
Outras informações: 0800 28 11 553
7 tentativas nenhuma resposta
Em
várias matérias especiais sobre segurança, O POVO tentou falar com a
SSPDS, mas não obteve resposta. A seguir apontamos sete tentativas.
6/3/2013
Janeiro] Fortaleza registra 54 mais homicídios do que SP
Secretário não podia falar porque estava numa reunião com todos os secretários
8/3/2013
Arma de fogo] Fortaleza
tem o 3º maior aumento de mortes do Brasil em 11 anos SSPDS iria se
debruçar sobre a pesquisa para depois se pronunciar
7/5/2013
Grande Fortaleza] 873 mortes a bala em 4 meses SSPDS recebeu e-mail e foi contactada por telefone, mas não deu qualquer retorno
16/5/2013
Janeiro a abril] Assassinatos crescem 29% no Ceará
SSPDS disse que secretário não falaria. Isso caberia à PM, que não nos atendeu também
Cidadania e gestão] 17 ações para combater a insegurança no Ceará
SSPDS
pediu para perguntas serem enviadas por e-mail. Foram, mas não veio a
resposta. Foi acionado por telefone e rede social. Sem retorno
18/6/2013
Violência] O que SP e PE fizeram e o Ceará não
SSPDS
pediu para perguntas serem enviadas por e-mail. Foram, mas não
obtivemos resposta. Acionamos por telefone e rede social. Sem retorno
1/7/2013
Mobilidade e Segurança] Lições da Copa para a cidade
SSPDS
pediu para as perguntas serem enviadas por e-mail. Foram, mas não
obtivemos resposta. Acionamos por telefone e rede social. Sem retorno.”
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