Opinião: Porquê das passeatas
Calheiros e Alves nos limites nebulosos entre o público e o privado
A falta de ética está de tal
forma arraigada à prática política no Brasil que não bastam alguns milhões nas
ruas protestando para que o hábito do mau uso do dinheiro público cesse imediatamente.
O uso dos aviões da FAB pelos presidentes da Câmara, Henrique Alves, e do
Senado, Renan Calheiros, fora do horário de serviço de ambos, e para compromissos
particulares, demonstra a total falta de noção do senso público e dos limites
de poder. É bom lembrar que os protestos ainda não acabaram, porque as
revindicações ainda não foram atendidas, mesmo com toda a disposição do governo
e do Congresso para responder ao clamor das ruas.
Não há mensuração para a falta de
ética e, portanto, os pecadilhos refletem a má índole e o mau hábito que os
protestos nas ruas vêm condenando. Os nebulosos limites entre público e privado,
que vez ou outra alguns políticos insistem em demonstrar publicamente, causa repulsa
em toda a população. Pior ainda é a falta de reconhecimento do erro. Errou Renan
ao não reconhecer o mau uso de um bem público, que são os aviões da FAB e errou
Henrique Alves ao reconhecer seu erro, mas se redimindo de acordo com seus
próprios e apropriados critérios.
Para se ter uma ideia da relação
de custos envolvida nesse lamentável episódio, uma viagem de ida e volta, em jato executivo privado, do Rio de Janeiro a
Brasília sai por volta de R$ 40 mil, bem acima dos R$ 9,7 mil que o presidente
da Câmara alardeou que estava devolvendo aos cofres públicos. Renan, por sua
vez, sequer vai devolver valor algum e ainda ficou irritado com as satisfações
que lhe foram cobradas e que são devidas a todos os brasileiros. Quando serão
prestadas?
Sem entrar no mérito da origem do patrimônio, tanto
Renan Calheiros quanto Henrique Alves são ricos e não precisavam arriscar suas
reputações por tão pouco. Poderiam pagar a passagem de um avião de carreira ou
até mesmo fretar um jato exclusivo para essas viagens. Mas a necessidade da
demonstração de poder, o hedonismo tão característico da velha política, se
sobrepõe ao bom senso, principalmente num momento em que as ruas clamam justamente
pela boa conduta e pela correção.
Fonte: Jornal do Brasil
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