Depois de ver a sua popularidade despencar e de ser alvo de
seguidos protestos nas ruas, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio
Cabral, utilizou a entrevista coletiva na qual anunciou que não pretende
mais demolir o parque aquático Júlio Delamare para fazer uma
autocrítica. Demonstrando uma postura humilde e citando a visita do
papa Francisco, Cabral deu uma longa entrevista, e falou de diversos
assuntos, desde o tema proposto, passando pela má avaliação de seu
governo pela população,
até o sumiço do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido após
ser levado à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade da
Rocinha.
“Sou cristão, e nunca fiz uso da
religiosidade para a vida pública. Jamais farei. Mas me tocou muito a
vinda do Papa, como governador e como ser humano. Fui reeleito
governador, o mais votado da história
do Rio, e certamente, estava precisando muito de muita dose de
humildade. Isso faz parte do processo. Jamais terei vergonha de
reconhecer autocríticas e erros”, afirmou o governador.
Ao
longo de 47 minutos de entrevista, Cabral adotou um tom moderado, e
chegou até mesmo a fazer um mea culpa diante de sua resposta quando foi
questionado pelo uso de helicópteros. Na ocasião, o político declarou
que “todos os governadores também faziam uso de aeronaves. “Foi uma
resposta horrível”, ressaltou.
Cabral anunciou que o Júlio
Delamare não será mais destruído, e observou que pretende conversar com a
Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) para achar uma solução para
o estádio Célio de Barros, que também tem previsão de ser colocado
abaixo.
O governador, que sempre evitou abrir uma canal de
comunicação com as federações que se mostraram contrárias à decisão de
demolição dos equipamentos esportivos, afirmou que errou a adotar esta
postura. “Errei em não ouvir. Errei, e, por isso, estou voltando atrás.
Devia ter ouvido, e não ouvi o segmento. Conheço o Coaracy (Nunes,
presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) há anos,
diria há décadas”, observou.
Questionado se passaria a ter um
comportamento menos unilateral, Cabral foi direto. “Com certeza. Por
autocrítica, por um conjunto de fatores. Porque eu amo o Rio de Janeiro,
eu aprendi com a vinda do Papa, aprendi com as críticas. Vai dizer
então que todas as críticas estão corretas? Claro que não. Estou
totalmente certo e as críticas estão erradas? Claro que não. É um
processo de aprendizado, de ouvir ambos os lados, e estou aberto”,
comentou.
Protestos
Alvo
de seguidas manifestações, Cabral disse estar aberto a manter um
diálogo com os que protestam contra seu governo, e disse que não é um
“ditador”.
O governador chegou até mesmo a fazer um apelo
para que os manifestantes parem de protestar em frente à sua casa, no
Leblon, na zona sul da capital fluminense. Demonstrando certa emoção, argumentou que seus filhos são afetados pelos atos.
“Na porta de casa, tenho crianças pequenas. O Sérgio Cabral político é uma coisa. Mas ali, é meu filho
de seis anos, é meu filho de 11 anos. É um apelo de pai mesmo. Aqui no
Palácio, a manifestação é do jogo democrático. Faço um apelo do coração,
como pai. É situação difícil falar da família. Não me pergunta muito
sobre isso, que me emociono”, disse, acrescentando que pretendia retirar
as grades que cercam o Palácio Guanabara contra os manifestantes. Logo
em seguida à entrevista, o cerco começou a ser desfeito por seguranças e
policiais que lá trabalham.
Ao ser questionado sobre os
planos para processo de ocupação das favelas pela polícia, Cabral
mencionou espontaneamente o caso de Amarildo, desaparecido desde a noite
do último dia 14, após ser levado por policiais a um posto da UPP da
Rocinha.
“Estamos investigando o caso do Amarildo profundamente,
querendo saber onde está Amarildo. Essa é uma pergunta que a sociedade e
eu, e posso garantir que o secretário (José Mariano) Beltrame e todos
nós estamos fazendo. Só que eles são os especialistas, e estão
trabalhando tecnicamente para isso, e eu vocalizo uma demanda da
sociedade. Situações como essas são intoleráveis, e vamos descobrir os
responsáveis por isso."
Fonte: http://www.jb.com.br/rio/noticias/
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