A alternativa Campos
Reforçado pela aliança com Marina, o governador de Pernambuco consolida sua candidatura à Presidência e altera os rumos da campanha. Conheça seus planos, a estratégia eleitoral e os bastidores da articulação que levou a ex-ministra do Meio Ambiente ao PSB
Claudio Dantas Sequeira e Adriano Machado (fotos), enviados especiais a RecifeSURGE UM CANDIDATO
Na quarta-feira 9, em sua residência em Recife, Eduardo Campos assiste ao
programa eleitoral do PSB com o filho José Henrique no colo. A peça publicitária,
que foi exibida no dia seguinte, precisou ser refeita para incluir Marina Silva
"Bota uma camisa, Zé, para tirar um
retrato.” Curiosíssimo e tímido, o pequeno José Henrique, usando
camiseta vermelha e bermuda estampada xadrez, não desgruda do pai, o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, nem um minuto sequer. Levanta
do sofá da sala, corre até o quarto e retorna esbaforido. O pai lhe
entrega um DVD, que o garoto
coloca para rodar no home teather. “Vou
antecipar para vocês como vai ser o novo programa do PSB”, diz Campos
com o filho no colo. Um sol forte despontava no horizonte da capital
pernambucana, quando na quarta-feira 9 o mais badalado candidato à
Presidência do momento – desde que sacramentou há duas semanas a aliança
com Marina Silva – abriu sua residência para a reportagem de ISTOÉ.
Despojado, vestindo calça jeans e camisa social branca, Campos abandonou
as gravatas Hermès que costumava usar. Já o relógio Cartier ele diz que
foi presente dos funcionários do gabinete. A nova imagem é fruto do
novo momento político, e de quem olha para as eleições de 2014. Em quase
quatro horas de conversa, o governador de Pernambuco falou abertamente
sobre seu projeto político, detalhou parte da estratégia de campanha ao
Planalto e contou os bastidores da articulação que levou a ex-senadora
Marina Silva para o PSB, num surpreendente movimento que pegou o mundo
político no contrapé, a começar por seus aliados e, principalmente,
adversários.Confira a entrevista completa com Eduardo Campos
Enquanto exibia o programa político do PSB,
que só foi ao ar no dia seguinte, Campos contou que a nova peça
publicitária do partido precisou ser refeita e reeditada. “Cortamos o
final para incluir o ato da aliança com a Marina em Brasília”,
justificou o candidato, antes de conferir a inserção pela última vez, na
presença de ISTOÉ.
As alterações de última hora demonstram que
a aliança entre os dois foi uma operação espontânea e mesmo
improvisada, ao contrário do que se costuma acreditar num país onde a
crônica política dedica um culto anormal às teorias conspiratórias. A
intenção de Marina foi comunicada a Eduardo Campos na sexta-feira 4,
através de vários amigos comuns. Eles relatam que, ao menos
inicialmente, o anfitrião não deixou de manifestar uma imensa surpresa
diante da possibilidade de hospedar uma aliada tão vigorosa – com 28% de
intenções de voto no último DataFolha, contra 8% para ele próprio. Para
Marina, interessada em desempenhar um papel ativo em 2014, o PSB surgiu
como opção natural, pois sendo um partido com 60 anos de existência não
seria encarado como uma legenda de aluguel, a exemplo do PROS e do
Solidariedade, criados às vésperas.
Agora, porém, Eduardo Campos tem
consciência de que a improvisação e a espontaneidade que marcaram a
negociação para a aliança com Marina precisam ser deixadas para trás se
quiserem obter êxito eleitoral em 2014. Por isso, PSB e Rede criaram, na
semana passada, um grupo de trabalho que já começou a discutir
estratégias de campanha. O primeiro desafio envolve uma situação
eleitoral exótica. Consiste em manter, como cabeça de chapa, um
candidato a presidente que exibe, na melhor das hipóteses, um terço das
intenções de voto da possível candidata a vice. A situação é delicada
para as duas partes. Mesmo pressionada por seus militantes, que sonham
com uma mudança de posição entre os dois, Marina sabe que não pode fazer
nenhum gesto que possa ser interpretado como uma traição a Eduardo
Campos. Ela não está em sua casa política. Ingressou no PSB a pedido, e
não por convite, filiando-se a uma sigla que o governador herdou de seu
avô, o lendário Miguel Arraes, e lidera com energia e controle.
Candidato ao Planalto desde 2010, pelo menos, Eduardo Campos trouxe este
projeto para 2014, quando poderia, se quisesse, esperar por 2018,
quando teria a promessa de apoio de Lula para concorrer à sucessão de
Dilma. Em função de tantas circunstâncias somadas, o sonho dos aliados
de Marina de conseguir a cabeça de chapa equivalia, na semana passada, a
uma utopia do tamanho do Amazonas. Com o objetivo de desfazer
previsíveis ruídos surgidos nessa convivência, Marina Silva passou a
semana ao telefone, esclarecendo com o parceiro qualquer confusão que
pudesse sugerir um avanço de sinal. “Ela chegou a me enviar o áudio da
entrevista a um jornal para provar que suas declarações saíram
distorcidas”, disse Campos à ISTOÉ.
No esforço para encaixar o discurso
estridente de Marina na campanha de Eduardo, a ideia é imitar o
comportamento de Lula que viabilizou Dilma em 2010. Não faltarão
pretextos para exibir os dois, lado a lado, sempre que possível. Para
evitar qualquer artificialismo, eles deverão alimentar declarações
políticas que se harmonizam e complementam, evitando temas que possam
afastá-los. A tentativa de garantir a transferência de milhões de votos
potenciais de Marina envolve uma operação cuidadosa. As pesquisas
mostram que, deixada por sua própria conta, parte dos eleitores de
Marina Silva tem uma tendência natural para escolher Dilma Rousseff como
segunda opção. O plano do PSB é deixar claro, através de um trabalho
permanente de imagem, que a própria Marina faria outra escolha e, assim,
convencê-los a mudar de rumo. Lembrando que a nova aliada recebeu 19,6
milhões de votos em 2010, Eduardo Campos aposta que não faltarão
cidadãos que, cansados da polarização PT x PSDB, poderão votar em seu
nome. “Há um novo cenário eleitoral menos pulverizado e ainda mais
polarizado. Nós podemos ser a alternativa”, afirma, referindo-se ao
mundo político descortinado pelos protestos de junho que, não por
coincidência, ajudaram a engordar as intenções de voto de sua parceira.
A estratégia do partido inclui dar
exposição não apenas à dupla Eduardo-Marina, mas a outros parceiros,
como Luiza Erundina (SP), Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos, a
serem apresentados como políticos que simbolizam a ética na política. A
campanha vai buscar ainda o apoio de personalidades e setores da
sociedade civil. “Podemos expressar esses valores que estão sendo
reclamados na vida pública em torno de ideais que vão juntar as
pessoas”, diz Campos. Em termos práticos, a chapa PSB-Rede investirá
pesado nas mídias sociais para compensar o menor tempo de tevê e rádio.
Pretende-se, aí, apresentar contradições de uma sociedade que avançou em
termos de democracia, estabilidade econômica e inclusão social, mas que
“corre o risco de perder essas conquistas”. Numa postura que diferencia
Eduardo Campos de Marina, a decisão é que não haverá citações a Lula,
tampouco ataques diretos à presidenta Dilma. Ao menos na fase inicial da
campanha. A julgar pelo ímpeto eleitoral da nova dupla que abalou a
política nos últimos dias, esse armistício não deve durar muito.
Fonte: http://www.istoe.com.br
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